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    CCXP 2017: Antes de O Doutrinador chegar aos cinemas, conversamos com Luciano Cunha, criador do personagem (Exclusivo)

    Um caçador de corruptos em pleno ano de eleições.

    Talvez você ainda não conheça Luciano Cunha, mas muitas pessoas já conhecem seu personagem mais famoso: o Doutrinador, um justiceiro que mata políticos corruptos. O personagem ganhou grande popularidade nas redes sociais e chamou a atenção dos produtores da Downtown Filmes e Paris Filmes, que preparam um filme em live action e uma série baseada no personagem. O lançamento ocorre em 2018, em pleno ano de eleições para presidente no Brasil.

    Durante a Comic Con Experience, em 2017, o AdoroCinema conversou com o autor sobre a história e sua adaptação ao cinema. No dia anterior, ele tinha visitado as filmagens em São Paulo, e se emocionou:  "Paguei mico! Cheguei no set, vi toda aquela produção e comecei a chorar!". Mesmo assim, ele ainda não pode revelar o elenco, e principalmente o ator que viverá o violento justiceiro em plena época de polarização social e descrença na política. Os únicos nomes confirmados são os dos diretores Gustavo Bonafé (Legalize Já) e Fábio Mendonça (A Noite da Virada).

    Descubra a nossa conversa com Luciano Cunha:

    O Doutrinador é um matador de corruptos. Você tinha a intenção que a sua história acompanhasse de perto os desdobramentos políticos do país?

    Luciano Cunha: Quando eu comecei este projeto, há quatro anos, as histórias eram literalmente um espelho do que acontecia na política. Eu acabava fazendo quase um noticiário do que estava acontecendo. Tudo começou em março de 2013. Em junho do mesmo ano surgiram as manifestações. É uma dessas coisas que só acontece uma vez na vida. Por exemplo, eu postei a página em que o personagem vai a São Paulo numa terça-feira, dois dias antes das manifestações. Na terça seguinte, já coloquei ele dentro dos protestos, saindo na porrada com o batalhão de choque.

    Depois, com o desenrolar da trama, fui me afastando um pouco do que acontecia no noticiário porque não dava, tanto por questão de tempo quanto pelo fato que a realidade do nosso país é maluca demais. O que aconteceu nos últimos anos, com o impeachment, não poderia ser previsto por nenhum roteirista. E esse extremismo, esse radicalismo entre as pessoas... No filme, você vai identificar algumas figuras conhecidas, mas não quisemos fazer uma obra datada, e sim uma narrativa atemporal.

    Um justiceiro como o Doutrinador poderia existir de fato na sociedade?

    Luciano Cunha: Acho que não. A violência não é uma solução. Aquilo é só ficção mesmo. Sou um nerd velho, e sempre quis colocar no papel a minha indignação, minha revolta. No início, algumas pessoas me criticavam, diziam que a história fazia apologia à violência. Mas a ficção não funciona assim, senão a gente teria um Capitão Nascimento em cada esquina depois do sucesso de Tropa de Elite.

    Nós vivemos num país violento, mas o povo brasileiro é muito passivo em relação aos políticos. Isso melhorou um pouco com as redes sociais, mas ainda cobramos muito pouco. Então ele não poderia existir, não. O Doutrinador é só uma ficção, embora muitas pessoas gostassem que ele existisse de verdade.

    Agora a sua história está sendo adaptada no cinema, em live action. Você acredita que algo se perde do traço do desenho na transposição?

    Luciano Cunha: Nada se perde, pelo contrário. A história vai ganhar muito. Primeiro, ela vai alcançar muito mais pessoas, porque o mercado de quadrinhos no Brasil ainda é restrito a um nicho. Além disso, o personagem fica mais profundo, mais denso. As linguagens são bem diferentes, e o quadrinho é uma mídia muito veloz. Por isso, não dá para se aprofundar muito, especialmente num quadrinho de ação. O personagem é um pouco raso, inevitavelmente. Mas com o filme é diferente.

    Eu participei da escrita do roteiro, no writer's room. Agora o Doutrinador tem várias camadas, ele é um cara mais indignado e sombrio. Ele continua sendo bastante violento, mas com um lado de humanidade que não existia muito no quadrinho.

    O filme busca reproduzir a linguagem dos quadrinhos na tela grande?

    Luciano Cunha: Não. O que vamos ter são cenas clássicas, como ele no topo do prédio, ou fazendo parkour. São momentos marcantes do quadrinho que também vão estar no filme. Quem leu o quadrinho vai identificar estas cenas. Mas de resto, o roteiro segue por um caminho mais profundo.

    O que está muito parecido é o elenco. Eu não participei da decisão final, mas sempre me encaminharam as sugestões. O resultado ficou ótimo. Os personagens estão muito parecidos com o que eu tinha desenhado. Pelo que eu pude ver nas filmagens, as escolhas foram muito boas.

    O filme vai ter uma relevância maior por chegar aos cinemas em 2018, em pleno ano de eleições presidenciais?

    Luciano Cunha: Com certeza, esse sempre foi o nosso objetivo. Quando eu comecei a negociar os direitos e montamos a sala de roteiristas, pensamos: "Vamos lançar em setembro, durante a eleição. Vai ser a época perfeita". A divulgação toda será pensada em função disso, com certeza. Como é um filme sobre política, e vamos ter campanhas políticas dentro do filme, o Doutrinador vai participar das campanhas, por assim dizer. Vamos fazer uma ação interessante para surfar na onda das campanhas reais

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