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    Submersão: Representar uma história de amor é mais assustador do que fazer qualquer efeito especial, diz Wim Wenders (Exclusivo)

    Cultuado cineasta alemão agradece ao trabalho dos atores James McAvoy e Alicia Vikander e diz que o filme, com linhas narrativas paralelas, foi o mais difícil de editar da carreira.

    Getty Images

    O que faz um ator da “A-list” de Hollywood, do porte de um James McAvoy ou Alicia Vikander, levantar da cama numa segunda-feira chuvosa? Os boletos são um bom motivo, claro, e produções como X-Men: ApocalipseTomb Raider: A Origem estão aí, para garantir um bom pé de meia aos artistas.

    Mas prestígio também é um ítem que entra para a conta. Vikander, por exemplo, estava prestes a entrar de férias quando foi convidada para integrar o elenco do novo filme do cultuado cineasta alemão Wim Wenders (de Asas do Desejo), Submersão, e não pensou duas vezes em embarcar na produção.

    “No meio dos mega-filmes que eles fazem, eles investiram tudo o que tinham em nosso pequeno filme, produzido em apenas 40 dias”, agradeceu o diretor, em entrevista ao AdoroCinema, durante o último Festival de Toronto (TIFF), em setembro, quando o filme - rodado em mais de cinco países, com orçamento estimado de US$ 15 milhões (segundo o IMDb) - foi exibido pela primeira vez.

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    Baseado no romance de sucesso de J. M. Ledgard, Submergence (no original), em cartaz no país, conta a história de amor de James (McAvoy) e Danielle (Alicia) em dois tempos distintos. No presente, os vemos afastados: ele, um agente secreto feito refém por um grupo rebelde na Somália; ela, uma cientista prestes a embarcar numa missão rumo ao fundo do oceano, num cenário extremo ao dele. Em comum, o passado, quando se conheceram e se apaixonaram de cara. “Acho que eles sabiam desde o início, desde o aperto de mãos, que era isso que eu queria: algo muito pessoal que não tem nada a ver com o fato de serem atores famosos”, explica Wenders.

    “Representar isso [a história de amor] é mais assustador do que fazer qualquer efeito especial ou manobra”, garante o realizador, a respeito do “filme mais difícil de editar da minha vida”. Confira abaixo os principais trechos da entrevista. [Clique aqui para ler nossa entrevista com James McAvoy]

    Você disse que queria que os atores se parecessem ao máximo com os personagens que interpretam. Por quê essa opção?

    Alicia não é cientista e interpreta uma biomatemática e James interpreta um agente secreto, e não é isso que ele faz na vida. Por mais que seja uma ficção, o coração do filme - e a maior dificuldade - era que eles interpretassem duas pessoas que, em um curto espaço de tempo, encontraram os amores de suas vidas. Representar isso é mais assustador do que fazer qualquer efeito especial ou manobra. E eu percebi que isso não seria crível se não incorporassem esse sentimento.

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    A estrutura e a forma do filme, o cruzamento temporal, estavam claros para você desde o início da produção? Você sempre soube que o filme seria assim?

    Esse filme foi uma equação difícil desde o início porque o mundo em que James é preso, na Somália, e o mundo para o qual ela viaja, a ilha no meio do oceano, são muito diferentes. Foi assustador pensar em como tudo se encaixaria. Tinham que ser acontecimentos paralelos. É por isso que sempre soube, desde o início, que o romance seria a força motriz do filme. É por isso que filmamos as cenas deles juntos primeiro, para que eles pudessem ter essa referência. Para falar a verdade, foi assustador chegar na montagem e descobrir que existiam um milhão de possibilidades, de variações para esta história. No fim das contas, o que escolhemos era o mais emocionante de todos: o amor entre os dois. É uma história simples. Mas provavelmente foi o filme mais difícil de editar da minha vida.

    Como foi lidar com locações tão diferentes entre si, principalmente com o Djibuti [onde foram filmadas as cenas como Somália]?

    As pessoas foram amáveis conosco no Djibuti. É um país pequeno e muito civilizado. É como a Suíça daquela área: é uma democracia funcional; uma nação formada por populações diversas, majoritariamente nômades. É um país muçulmano, mas muito liberal. Se você rodar por lá, verá que algumas mulheres estão cobertas e outras não. Não conhecia o Djibuti antes, mas encontrei um lugar que, em termos de paisagem, conseguiria expressar pelo que o personagem dele passa. E ela viaja até à ilha, que é a ilha mais verde do planeta porque chove todo dia e não há árvores, há apenas musgo. Este lugar é provavelmente o completo oposto do lugar onde ele se encontra. James está no lugar mais seco do planeta e mais baixo, 180 metros abaixo do nível do mar. Então, nós visitamos lugares muito extremos e essa combinação nos deu uma sensação de como é este planeta, do que significa a ausência ou a abundância de água. Como vocês podem imaginar, a água é um elemento importante para o filme.

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    Alicia disse, em outra entrevista, que precisava tirar férias, mas aí quando você a chamou, ela disse que não poderia recusar uma oportunidade de trabalhar com você. Ela era sua primeira opção?

    Ela era minha primeira opção. Foi a escalação mais rápida e fácil da minha vida. Mas sei que será algo único. Nunca acontecerá novamente. Me encontrei com minhas primeiras opções, apertei as mãos deles e os escalei. Para eles, não foi tão fácil. James precisou perder 10 Kg e ele já é um homem magro. E Alicia teve que aprender muitas coisas para o filme. No meio dos mega-filmes que eles fazem, eles investiram tudo o que tinham em nosso pequeno filme, produzido em apenas 40 dias. Sou muito grato a eles porque eles concordaram em nosso primeiro encontro.

    O processo de escalação é muito doloroso. Quando você encontra um ator pela primeira vez, você percebe que ele mudaria o filme, mudaria os sentimentos, mudaria tudo. Com o próximo que você encontra, você percebe que terá outro filme diferente. E, às vezes, as escolhas são dolorosas porque você gostaria de fazer todas as versões. Como não pensei em outras pessoas para este filme, não poderia dizer como o filme seria com Michael Fassbender no lugar de James McAvoy. Seria um filme muito diferente. Então, ambos os atores deram tudo de si. E acho que eles sabiam desde o início, desde o aperto de mãos, que era isso que eu queria: algo muito pessoal que não tem nada a ver com o fato de serem atores famosos.

     

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