Corra! foi um dos filmes mais lucrativos, celebrados, discutidos e relevantes de 2017. Estreia de Jordan Peele como realizador, o longa-metragem brincou com os códigos do cinema de horror com uma crítica social sarcástica, contundente e subversiva que transita entre diferentes gêneros.
Desde seu lançamento, os debates sobre a obra, frequentemente mencionada entre as principais apostas para o Oscar 2018, têm sido acalorados. À exemplo de produções como O Iluminado e Matrix, Corra! se tornou alvo de análises minuciosas e teorias que tentam explicar aspectos do filme. A revista Vanity Fair convidou o Peele para comentar as teorias mais mirabolantes sobre seu filme que surgiram no fórum de debates Reddit — e o cineasta confirmou uma boa parte delas.
"Corra! é uma sequência de Quero Ser John Malkovich. Os dois filmes se passam no mesmo universo, com uma diferença de 20 anos entre os eventos. Catherine Keener e sua personagem são a ponte que conecta os dois filmes", argumenta um dos fãs. "Uau!", reage Peele. "Eu amo essa teoria, eu já tinha escutado. Eu tinha notado que eu poderia ter Catherine Keener em seu segundo filme com uma perspectiva incomum, com ela vivendo no cérebro de outra pessoa. Nós brincamos sobre isso e eu sou um grande fã de Quero Ser John Malkovich. Eu conversei com Spike Jonze há alguns meses, contei para ele dessa teoria e ele gargalhou. Então, até onde eu sei, é verdade."
Peele confirmou que o jardineiro da família Armitage, que o espectador descobre ser o patriarca branco do clã racista dentro do corpo de um homem negro ao longo do filme, tem uma frustração histórica. Ele passa tanto tempo correndo pela remota propriedade porque ele perdeu uma competição para o lendário velocista afro-americano Jesse Owens, que debochou do mito da supremacia ariana nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, ao vencer quatro medalhas de ouro na Alemanha Nazista. "Há uma linha de diálogo que eu quase deixei no filme, mas decidi tirar. Quando o vovô dentro do corpo de Walter derruba Chris no final do filme ele iria dizer 'Eu finalmente venci você, Jesse!'", contou o realizador.
No começo do filme, Chris (Daniel Kaluuya) vê um cervo morrer na beira de uma estrada. Mais para o final, Chris está amarrado à uma cadeira e o focinho empalhado de um cervo está diante dele, pendurado em uma parede, mas o protagonista sobrevive. "Isso tem que significar alguma coisa", diz um fã. "Há um paralelo entre o cervo e Chris e, é claro, com a mãe de Chris, com a memória reprimida da morte da mãe dele após ser atropelada por um carro. Toda a metáfora do cervo vai em diferentes direções e tem diferentes significados", comenta o cineasta, que relembra que Chris usou o chifre do Cervo para matar Dean (Bradley Whitford), líder da família racista por trás dos transplantes cerebrais.
O diretor diz ainda que há um easter egg com alusão ao clássico O Iluminado quando Rod (LilRel Howery) está no aeroporto tentando ligar para Chris e a voz no alto falante do terminal faz a chamada para um voo de número 237. Trata-se do mesmo número de um quarto mal-assombrado do hotel Overlook no filme de Stanley Kubrick. O diretor também conta que foi proposital que Chris não fosse mais habilidoso em lutas do que Jeremy (Caleb Landry Jones), mas sim mais inteligente.
Um fã escreveu que Corra! é um delírio do personagem Rod, agente que salva o amigo Chris no final do filme. Toda ação do filme seria imaginação do amigo de Chris sobre como seria o encontro dele com a família branca de sua namorada. "Eu adoro essa teoria e ela é 100% falsa. Corra! não é nenhum tipo de fantasia de Rod. Aquila coisa bizarra da cirurgia cerebral realmente aconteceu", comentou Peele.