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    Festival Mix Brasil 2017: Sobre a importância de pessoas LGBT se verem retratadas nos cinemas

    A diversidade de gênero e sexualidade é algo natural.

    Já faz algum tempo que o AdoroCinema acompanha festivais de temática LGBT, seja em São Paulo, com o Mix Brasil, seja no Rio de Janeiro, com o Rio Festival de Gênero e Sexualidade.

    Mesmo sem dados para apoiar esta impressão, é possível supor que o público presente a estas sessões é composto majoritariamente por gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Muitas pessoas frequentam esses espaços em casais, com amigos, num ambiente relativamente seguro para se comportar livremente, sem o perigo do olhar reprovador da sociedade.

    No início, a conversão do festival LGBT em guetos pôde nos parecer algo negativo, por impedir que este conteúdo chegasse também à plateia majoritariamente heterossexual, podendo sensibilizá-la a ser mais tolerante com a diversidade. Pouquíssimos filmes de temática homoafetiva, como O Segredo de Brokeback Mountain, por exemplo, conseguem furar a bolha comunitária e chegar às famílias tradicionais.

    No entanto, fica cada vez mais evidente a importância do diálogo destes festivais com o próprio público LGBT. A 25ª edição do Mix Brasil está apenas no começo, mas tem sido uma experiência marcante ver tantos homens comovidos com dramas de temática gay como After Louie (foto acima), com documentários sobre ícones LGBT como As Histórias Não Contadas de Armistead Maupin e trajetórias atípicas e libertárias como a galerista de Casa da Xiclet.

    O público tem saído das salas rindo, chorando, conversando com os diretores presentes. Em outras palavras, existe clara identificação com as histórias em tela. Desde crianças, indivíduos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros crescem vendo nos filmes, na televisão e nas propagandas casais heterossexuais se beijando, se amando, tendo finais felizes. Mas não veem quase nada sobre si mesmos e quando veem, são confrontados a imagens pejorativas. Estas pessoas crescem sem referências para sua própria afetividade, acreditando de serem errados, deslocados, inferiores.

    O sentimento de culpa e a fragilidade psicológica torna-se muito maior neste grupo, mais exposto às agressões nas ruas, aos comentários preconceituosos e mesmo ao suicídio, de acordo com as estatísticas. Neste sentido, filmes mostrando dois homens que se amam, duas mulheres apaixonadas, pessoas transexuais vivendo sua verdadeira identidade funcionam como um referencial indispensável. De repente, o público sente que não está sozinho e existem outras pessoas, pelo mundo inteiro, atravessando as mesmas situações.

    É importante exigir que a representação LGBT seja não apenas frequente, mas também de qualidade. A produção retratada nos festivais ainda se concentra excessivamente em homens brancos e gays de comportamento heteronormativo. Os críticos e o público podem e devem exigir maior presença de filmes de mulheres, e sobre mulheres, sobre transexuais e travestis, sobre gêneros e sexualidades que rompam os rótulos. O próximo passo é exigir não apenas que personagens LGBT existam, mas que sejam bem representados, complexos, diversificados, ao invés de constituírem meros coadjuvantes ou alívios cômicos, a exemplo de muitas produções hegemônicas.

    Mas ao ver o sorriso de um grupo de homens após a sessão de After Louie, sentimos que eventos como o Mix Brasil estão na direção certa. A função que estes filmes podem ter para o público gay, lésbico, bissexual, transexual e transgênero será aquela que o público hétero recebe possui todos os dias em sua televisão, suas salas de cinema e sua publicidade, sem perceber. É o valor de se sentir representado, se sentir acolhido, se sentir um cidadão como qualquer outro.

    Confira as críticas do AdoroCinema sobre os filmes do 25º Mix Brasil:

    A Filosofia na Alcova

    A Glória e a Graça

    A Moça do CalendárioAfter Louie

    Alguma Coisa Assim

    Aos Teus Olhos

    Aqueles que Fazem a Revolução Pela Metade Apenas Cavam as Suas Próprias Covas

    Berenice ProcuraCasa da Xiclet

    Corpo Elétrico

    Discreet

    Me Chame Pelo Seu Nome

    Meu Nome é Jacque

    Música Para Quando as Luzes se Apagam

    Santa & Andrés

    Thelma

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