Desde que foi anunciada, a refilmagem de Dona Flor e Seus dois Maridos enfrentou uma série de comparações (inevitáveis) com o longa de 1976, assinado por Bruno Barreto, que, por mais de 30 anos, ostentou o título de campeão de bilheteria do cinema nacional (até 2010, quando Tropa de Elite 2 estreou), com cerca de 10,7 milhões de ingressos vendidos.
O diretor do remake, Pedro Vasconcelos, não parece preocupado com a analogia. Até porque ele se ocupou de fazer a sua versão. O melhor: a versão do autor, Jorge Amado. "As imagens e os planos foram tirados do livro. Todas as marcas de câmera e tudo mais foram sendo guiadas pelo texto do Jorge Amado", ele garante.
Não faltam, portanto, momentos de erotismo, linguajar de baixo calão, até uma pincelada do machismo e da violência doméstica. "Em comparação com tudo que está acontecendo lá em Brasília, descaramento maior não há. Eu poderia ser mais o mais obsceno que eu quisesse ser nesse filme, jamais eu ia chegar no nível da sacanagem que está acontecendo ali naquele lugar", vocifera o diretor contra a atual política nacional.
Vasconcelos (O Concurso) tem um longo histórico na TV, onde começou como ator (Top Model, Vamp) e galgou espaço entre os diretores da TV Globo. Quando conversou com a imprensa, no lançamento do filme em Salvador, no último dia 23 de outubro (o longa estreou em algumas capitais do Nordeste em 02 de novembro e chega ao restante do país no próximo dia 23), ele havia acabado de encerrar os trabalhos com a novela de sucesso A Força do Querer.
"As transas entre Vadinho [Marcelo Faria] e Flor [Juliana Paes], Teodoro [Leandro Hassum] e Flor, passariam tranquilamente em qualquer novela das oito de hoje em dia", ele acredita. Já o nu frontal de Marcelo Faria... "É uma coisa que na televisão não cairia bem ou teria que passar duas ou três horas da manhã, com restrições. Para a TV aberta, que é um veículo que chega na sua sala, que invade a sua casa, que não pede licença e entra, existe, sim, uma necessidade de você ter um certo pudor".
Parceiros de longa data quanto à obra (Marcelo é também o produtor de Dona Flor e ambos encenaram o texto no teatro durante mais de cinco anos), eles acreditam que o apelo da produção (livro/ filme) é "atemporal" e não distingue faixa etária. "Ele [Jorge Amado] usa a Dona Flor para fazer um retrato entre as nossas questões, entre emoção e razão, entre a divisão que existe entre todos nós, ainda mais os jovens, que estão sentindo isso pela primeira vez". "É quando a emoção está vindo muito forte e a razão vai sendo deixada de lado", contextualiza Pedro.
"É uma história que fala de amor", resume Marcelo.