No X Janela Internacional de Cinema do Recife, a quarta-feira, 8 de novembro, foi o dia de descobrir três novos filmes em competição: o russo O Gênero, o franco-mexicano O Peixe e o brasileiro Era uma Vez Brasília.
"Isso é asqueroso, delirante"
O melhor filme do dia foi o inventivo O Gênero, de Klim Kozinsky. A partir de materiais de arquivo em VHS, o cineasta retrata o cotidiano de uma trupe de teatro politizada, que prepara uma nova peça ao mesmo tempo em que descobre o Putsch de Moscou, em 1991, que contribuiu ao fim da União Soviética.
Passado inteiramente dentro do porão onde os artistas ensaiavam, o projeto consegue mostrar como a política influencia a vida dos cidadãos, e de que modo os artistas têm como responsabilidade imprimir uma visão de mundo em suas obras. Já que a trupe adota um estilo anárquico e agressivo, o cineasta faz o mesmo com a edição, chegando a um resultado voluntariamente fragmentado, excessivo - como se a loucura fosse a única maneira de representar os tempos de golpe.
Uma distopia chamada Brasília
Após o ótimo Branco Sai, Preto Fica, o diretor Adirley Queirós aposta em mais uma ficção científica politizada e de baixíssimo orçamento, situada na Ceilândia. Em Era Uma Vez Brasília, mostra um viajante extraterrestre encarregado de matar Juscelino Kubitschek. No entanto, o invasor chegar tarde demais ao país, a tempo de presenciar o golpe de 2016 contra Dilma Rousseff.
O comentário político faz um bom recorte dos discursos oficiais de Dilma, Juscelino e mesmo de Temer. No entanto, o vigor do filme anterior do cineasta se perde. O cineasta estica ao máximo a duração de seus planos sem saber ao certo como ocupar a figura do extraterrestre ou como representar o caos da política brasileira para além dos materiais sonoros. Se o episódio específico que serviu de motor para Branco Sai, Preto Fica foi tratado de modo potente, a intenção de expandir o escopo e falar da política de modo geral, como uma abstração, se revela frustrante.
Leia a nossa crítica.
A magia, e daí?
Um artista de rua leva uma vida pacata. Até uma pessoa próxima, dentro de sua casa, se transformar em peixe. O diretor Martin Verdet parte de uma premissa fantástica para mostrar que, afinal, nada vai mudar na vida do protagonista: ele simplesmente passa a cuidar do peixinho. A magia não altera a vida de ninguém, e todos acatam a transformação com tranquilidade.
O Peixe brinca com a mistura inusitada entre a estética próxima ao documentário e as quebras com a realidade. Para a surpresa do próprio cineasta, o filme já participou de dois festivais dedicados exclusivamente a documentários. A premissa é interessante, assim como a ideia de frustrar a expectativa do espectador. Mas o projeto não oferece muito mais do que isso, revelando-se pobre em construção estética e de roteiro.
Confira as críticas do AdoroCinema sobre os longas-metragens do X Janela:
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