A escritora Anna Graham Hunter publicou um longo artigo no qual revela ter sido abusada pelo ator Dustin Hoffman durante a produção do telefilme A Morte do Caixeiro Viajante, lançado em 1985. Hunter tinha 17 anos de idade, estava no último ano do ensino médio e vivia em Nova York quando surgiu a oportunidade de trabalhar como estagiária nos bastidores do longa-metragem.
"Ele me pediu para fazer uma massagem em seus pés em meu primeiro dia no set, eu fiz", relembra Hunter no artigo para o site The Hollywood Reporter. "Ele flertava comigo abertamente, apertava minha bunda, falava sobre sexo comigo e na minha frente. Numa manhã, fui até seu camarim para anotar o que ele queria no café da manhã. Ele olhou para mim e sorriu ironicamente por um tempo. Então, ele disse: 'quero um ovo cozido... e um clitóris macio'. O grupo caiu na risada. Eu saí dali, calada. Depois disso fui para o banheiro e chorei."
Durante cinco semanas na produção do filme, Hunter se comunicou com sua irmã através de cartas nas quais detalha sua rotina com a equipe. "Hoje eu percebi que algumas coisas sobre essa indústria me assustam. Em primeiro lugar, Dustin é um depravado. Eu estou completamente desiludida."
Nas cartas, Hunter relata que depois de ser tocada nas nádegas e ouvir diversas conversas sexuais que a deixavam desconfortável contou para suas superiores que estava incomodada com as posturas do ator, que tinha 48 anos de idade na época, mais de 30 anos mais velho do que a garota. Ela conta que depois disso ele passou a tratá-la de maneira tão gentil que ela ficou "chocada" ("Eu acho que ele ficou se sentindo mal", escreveu).
Quando conversou sobre o assunto com sua supervisora, Hunter diz que foi aconselhada a "sacrificar alguns de seus valores" e fazer vista grossa para o assédio de Hoffman. "Ela disse que nós deveríamos ter senso de humor, dar risadas e tapinhas nas mãos dele, ou algo do tipo."
A atriz também recorda das coisas boas que experimentou durante a produção de A Morte do Caixeiro Viajante, telefilme produzido pela CBS baseado na peça de Arthur Miller que venceu três prêmios no Emmy Awards e rendeu a Hoffman o prêmio de melhor ator em minissérie ou telefilme no Globo de Ouro.
"Havia muitas coisas que eu gostava quando estava no set: Pedir o almoço de John Malkovich e me apaixonar cada vez mais por ele sempre que ele falava meu nome ou conversava comigo; fazer amizade com a equipe enquanto trabalhávamos 16 horas por dia; ouvir Arthur Miller dizer meus dois primeiros nomes porque eles soavam como um jogo de palavras e isso o divertia; dançar polka com Charles Durning, que fazia de cada cômodo no qual ele entrava um lugar mais feliz. E sim, eu amava a atenção que recebia de Dustin Hoffman. Até que passei a não gostar mais."
Na conclusão do texto, Hunter diz que hoje percebe como as atitudes de Hoffman se encaixam em um padrão de assédios enfrentados por mulheres na indústria cinematográfica e fora dela, especialmente depois que eclodiram dezenas de denúncias de estupro, assédio e má conduta sexual contra o outrora poderoso produtor Harvey Weinstein, ex-magnata do estúdio The Weinstein Company. "Ele [Hoffman] era um predador, eu era uma criança, e isso foi assédio sexual."
Procurado pela reportagem do The Hollywood Reporter, Hoffman, v pediu desculpas. "Tenho o maior respeito pelas mulheres e me sinto terrível por qualquer coisa que posso ter feito que a tenha colocado em uma situação desconfortável. Sinto muito. Isso não é um reflexo de quem sou."