Em recente entrevista à Vanity Fair, as atrizes Rachel McAdams e Selma Blair relataram os momentos de humilhação que passaram nas mãos do diretor James Toback, e acabaram traçando uma configuração comum nesse tipo de caso: o modus operandi do agressor é sempre o mesmo.
Mulheres jovens, que aspiram um grande papel em Hollywood, são convidadas para um teste de um novo filme que promete ser um sucesso de bilheteria. Lá, o assediador faz questão de mostrar seu poder e influência, deixando clara a insignificância da vítima. Logo depois vem o assédio. Oferecem o mundo em troca de pequenos favores sexuais. Em caso de resposta negativa, surgem as ameaças. Em um comovente relato de Lupita Nyong'o, no caso com Harvey Weinstein, estas semelhanças são confirmadas.
Contando que tinha apenas 21 anos quando conheceu o assediador, enquanto cursava a escola de teatro, McAdams trouxe à tona o já conhecido discurso usado por ele. "Toback usou a mesma linguagem durante a minha audição, dizendo que você tem que correr riscos e que, às vezes, isso fará você se sentir desconfortável e até mesmo em perigo. Mas que era uma coisa boa sentir que há perigo no ar". Selma Blair, que tomou coragem de falar depois de ler outros relatos, ainda não superou todos os horrores: "Eu ainda me sinto tão impotente, amedrontada", disse.
Com Rachel, a desculpa para mais encontros depois da primeira audição foi a necessidade de treinos. "Ele disse que eu era muito boa, mas que precisava me ensinar um pouco mais", relevou a atriz, dizendo que logo em seguida ele pediu que ela fosse até o quarto do hotel onde estava hospedado, durante a noite. E Toback não demorou para mostrar suas reais intenções: "Eu me masturbei inúmeras vezes pensamento em você hoje", ele disse.
Depois de perguntar o quão longe a atriz de Diário de Uma Paixão estaria disposta a ir pela carreira, a situação ficou ainda pior. "Ele foi ao banheiro e me deixou com um livro para ler. Quando voltou, disse: 'Acabei ejacular no banheiro pensando em você. Vai me mostrar seus pelos pubianos?". Apesar de ainda carregar as cicatrizes do abuso, McAdams revelou que sente-se aliviada por não ter sido atacada fisicamente.
O mesmo não aconteceu com Selma Blair. Tendo que encontrá-lo no quarto dele, após Toback supostamente não poder descer para um jantar, ela se sentiu ameaçada assim que ele fez as primeiras perguntas. "Ele perguntou onde estavam meus pais, e eu respondi que minha mãe estava em Michigan e eu tinha um relacionamento ruim com meu pai". E a resposta dele foi: "Eu posso matá-lo para você, faço isso o tempo todo. Eu conheço pessoas".
Temendo por sua vida, ela conta que foi obrigada por ele a fazer um monólogo completamente nua, para mostrar o estilo de "seus movimentos corporais". Depois de se vestir e avisar que iria embora, começaram os abusos físicos: "Ele começou a esfregar o pênis dentro as calças e perguntou: 'você transaria comigo"? Ao tentar sair, James Toback bloqueou a porta dizendo que ela só sairia quando ele quisesse, e sugeriu um acordo:
"Eu posso até colocar ele [o pênis] dentro das calças, mas vou ter que esfregá-lo nas suas pernas, e enquanto isso você acaricia meus mamilos olhando nos meus olhos", ordenou. Blair aceitou, pensando que seria melhor isso do que ser, de fato, estuprada. "E senti nojo e vergonha, e pensei que ninguém jamais pensaria em mim como sendo limpa novamente depois de estar tão perto do diabo. A energia dele era tão sinistra", confessou.
Como forma de fazer com que ela não denunciasse, James Toback contou de uma jovem que uma vez ameaçou contar ao público os abusos que sofreu. "Eu juro que se ela contar eu a sequestro e a jogo no rio Hudson com concreto amarrado nos pés". A resposta de Selma, depois que o diretor a olhou como se tivesse "apenas estuprado suas pernas", foi a única possível no momento: "Sim, eu entendo".
James Toback também está sendo acusado pelo abuso sexual de mais de 200 mulheres.