Paul Vecchiali é um caso curioso. Com uma carreira voltada para a própria França, sem qualquer produção internacional no currículo, e uma média próxima a um filme por ano desde 1994, o diretor teve poucos filmes lançados no Brasil. Apenas Noites Brancas no Pier, É o Amor e O Ignorante alcançaram tal proeza.
Homenageado na Mostra deste ano, o diretor de 87 anos veio a São Paulo para apresentar 14 de seus longa-metragens, muitos deles inéditos nos cinemas brasileiros. O AdoroCinema pôde conversar com o diretor, onde revelou detalhes de sua carreira. Confira!
SURPRESA NO CONVITE
Paul Vecchiali confessou ter ficado bastante surpreso com a homenagem feita pela Mostra, justamente por seus filmes terem sido tão pouco exibidos no Brasil. Entretanto, esta não é a primeira vez em que é reconhecido pelo festival. "Fiquei muito impressionado ao saber que Noites Brancas no Pier foi premiado na Mostra de São Paulo [de 2014], escolhido pela crítica. Não sou muito conhecido, então foi uma surpresa."
LONGE DE HOLLYWOOD
Atuante no cinema desde a década de 1960, Vecchiali jamais rodou um filme em língua inglesa - o que não significa que não surgiram convites. Um deles quase saiu do papel, com atores bem conhecidos do grande público.
"Tive um projeto nos Estados Unidos, sobre a vida do pintor Watteau, que seria estrelado por Rupert Everett e Gwyneth Paltrow. Era um projeto caro e por isso não foi adiante." O diretor ainda contou que apenas na TV francesa, onde trabalhou nas décadas de 1980 e 1990, conseguiu ter um orçamento maior para tocar seus projetos.
OS SETE DESERTORES
Dentre os filmes exibidos na retrospectiva em sua homenagem está o mais recente trabalho do diretor, o inédito Os Sete Desertores. Vecchiali contou que teve a inspiração em um filme de 1945, do qual é fã. "Assisti a Também Somos Seres Humanos, com Robert Mitchum, e de imediato quis fazer Os Sete Desertores. Os dois filmes não têm nada a ver, mas foi este filme que me deu vontade de falar sobre a guerra. Os Sete Desertores é dedicado a quatro cineastas: William Wellman, Jean-Luc Godard, Raymond Bernard e Samuel Fuller, que é um dos grandes do cinema."
Uma curiosidade sobre o novo longa-metragem é que boa parte dele foi gravado a partir do aplicativo Filmic Pro, presente em iPhones. Apenas para as cenas noturnas houve o uso de câmeras 5D, de maior definição.
NOVA GERAÇÃO
Contemporâneo de grandes nomes do cinema francês, como Godard, Truffaut e Agnes Varda, Paul Vecchiali também acompanha de perto a nova geração de cineastas de seu país. Dentre eles, destaca dois em especial: Alain Guiraudie (Um Estranho no Lago, Na Vertical) e Audrey Estrougo (Uma História Banal).
UM INVESTIGADOR
Como todo bom realizador francês, Vecchiali gosta de classificar os diretores locais em autores e bons cineastas. Ele mesmo explica: "Um bom cineasta tem uma moral e conhecimento técnico perfeito, mas não possui uma assinatura cinematográfica que o defina. Já autores têm uma forma bastante própria em seus filmes."
Questinado sobre em que categoria se encaixaria, o diretor foi direto ao ponto: "Eu sou um investigador!", ressaltando as expementações narrativas que tanto gosta de fazer a cada filme.