Por mais que Dançando no Escuro seja um dos pontos altos da carreira da cantora Björk, o filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Canção também foi marcado por uma péssima experiência. Em seu Facebook, a atriz e compositora islandesa revelou que foi assediada sexualmente pelo diretor Lars von Trier no set de filmagens:
"Inspirada pelas mulheres ao redor do mundo que estão testemunhando online [sobre abusos sexuais sofridos], contarei minha experiência com um diretor dinamarquês. Como venho de um país que é um dos lugares do mundo onde existe maior igualdade entre os sexos e por causa da forte independência que conquistei duramente no mundo da música, logo ficou claro para mim, quando fiz minha estreia como atriz, que minha humilhação e papel como ser sexualmente assediado era a norma para aquele diretor e a maior parte de sua equipe, que permitia essa situação e a encorajava. Percebi que é algo universal o fato de que um diretor pode tocar e assediar suas atrizes à vontade e que a instituição do cinema permite isso. Quando resisti aos repetidos avanços do diretor, ele ficou irritado e me puniu e criou uma ilusão para a equipe onde eu fui enquadrada como a 'difícil'. Por causa da minha força, minha equipe e porque não tinha nada a perder e não tinha ambições no mundo da interpretação, fui embora e me recuperei dentro de um ano. Tenho medo que outras atrizes que trabalharam com esse diretor não tenham conseguido se recuperar. O diretor estava ciente deste jogo e tenho certeza que seu filme seguinte foi baseado em sua experiência comigo. Porque eu fui a primeira a me posicionar e a não deixar ele conseguir o que queria. Na minha opinião, a relação dele com as atrizes melhorou após ser confrontado por mim, então há esperança. Torço para que esta declaração apoie atrizes e atores ao redor do mundo. Vamos acabar com isso [com os assédios]. Há uma onda de mudança no mundo"
Ainda que não revele o nome de von Trier, Björk só trabalhou com um diretor dinamarquês em sua breve trajetória cinematográfica. E, de fato, o realizador de filmes como Ninfomaníaca e Melancolia é conhecido por ser uma figura bastante controversa. Além de ter sido banido do Festival de Cannes — evento para o qual deseja retornar no ano que vem — por fazer comentários nazistas, von Trier é constantemente considerado como um diretor misógino e machista pela forma como trata suas personagens femininas. As filmagens de Dogville — obra referenciada por Björk no final de seu texto —, por exemplo, foram pontuadas por fortes desavenças entre o dinarmarquês e a estrela Nicole Kidman, que recusou convites para trabalhar novamente com o cineasta em outros projetos.
O testemunho da cantora Björk chega para reforçar a onda de denúncias de abusos sexuais iniciada quando várias atrizes e ex-funcionárias, através do jornal The New York Times e da revista New Yorker, revelaram que Harvey Weinstein, poderoso produtor de Hollywood, acumula décadas de casos de assédios e estupros. Incriminado por mais de 30 mulheres — incluindo Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Rose McGowan —, o ex-magnata de Hollywood foi expulso da Academia do Oscar e é alvo de investigações criminais conduzidas pelas polícias de Nova Iorque e Londres e também pela Scotland Yard.
Na manhã desta segunda-feira, von Trier negou ter assediado Björk no set de Dançando no Escuro, mas se negou a dar uma declaração oficial sobre o caso (via The Hollywood Reporter).