Assim que colocou os pés em Teerã, trazendo em sua mala de viagens a boa recepção da crítica do Festival de Telluride ao seu novo filme, A Man of Integrity, o cineasta iraniano Mohammad Rasoulof não tinha a menor ideia de que teria problemas com a lei novamente. Segundo o THR, o governo confiscou o passaporte do diretor e o obrigou a comparecer ao tribunal até o final desta semana.
Kaveh Farman, coprodutor de A Man of Integrity, conversou com o jornal estadunidense e afirmou que desde a vitória do longa na mostra Un Certain Regard — na edição deste ano do Festival de Cannes —, Rasoulof conseguiu sair e retornar ao Irã sem ser incomodado pelas autoridades. Os oficiais da polícia não explicaram os motivos pelos quais confiscaram os documentos do cineasta. Assim, como não pode utilizar seu passaporte, Rasoulof não conseguirá acompanhar a turnê internacional de A Man of Integrity, que foi produzido de forma clandestina no norte do Irã e ainda será exibido em outros festivais ao redor do mundo até o fim do ano.
Ainda que o abuso de poder possa soar incongruente para alguns, a nova ação da administração iraniana é apenas mais um capítulo no longo histórico de censura promovido pelo governo aos realizadores locais, que, geralmente, são contrários à ideologia vigente. Em 2010, Rasoulof foi preso ao lado do também cineasta Jafar Panahi. Enquanto seu colega foi obrigado a deixar a produção cinematográfica e cumprir pena de prisão domiciliar — período no qual produziu os aclamados e premiados Isto Não é um Filme, Cortinas Fechadas e Táxi Teerã —, Rasoulof completou apenas um ano de sua sentença antes de ser liberado; o novo caso pode fazer com que o cineasta tenha que cumprir o tempo restante de sua pena.
A Man of Integrity ainda não tem previsão de estreia no Brasil.