A primeira noite de exibição da mostra competitiva do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro ratificou o caráter político do evento. Vários dos discursos no palco do Cine Brasília chamaram a atenção para a onda de censuras que temos vivido no país recentemente, iniciada com o fim da exposição Queermuseu em Porto Alegre e que se seguiu com obras retiradas de outras exposições e até uma peça cancelada após protestos diante do fato de que trazia Jesus Cristo representado como uma mulher trans. Os fatos foram mencionados em boa parte das apresentações, que reforçaram sempre o caráter transgressor da arte.
Outro ponto defendido nas falas dos convidados do evento foram as leis de incentivo à cultura. A produtora Sara Silveira, de Vazante, lembrou que o cinema brasileiro contou com representantes nos principais festivais de cinema do mundo em 2017 e que este bom momento deveria ser seguido de mais investimento. Ela pediu ainda pela salvação da Lei do Audiovisual, que ainda não foi renovada e que, por enquanto, encerra sua vigência no final deste ano.
A noite de sessões foi prejudicada por uma seleção pesada que incluiu três curtas e dois longas. Todas as demais noites da competitiva contarão apenas com um curta e um longa. Era de se esperar que as produções fossem melhor distribuídas ao longo dos dias, ainda mais que dois dos curtas exibidos possuíam mais de 20 minutos de duração. Também não ajudou o fato de que houve um atraso de mais de uma hora para o início das sessões oficiais, o que fez o último filme acabar pouco antes de 1h da manhã.
Para abrir a noite, foram escolhidos os curtas O Peixe e Nada. O primeiro, de Pernambuco, apresenta uma série de pescadores que seguem a proposta de abraçarem os peixes que acabaram de pescar nos instantes antes de suas mortes. Levanta um debate sobre a relação do homem com o animal, de certa forma celebra a pesca para o consumo próprio e mostra um respeito entre presa e caçador. Ainda assim, é prejudicado pela duração exagerada e repetição da ideia. Já o segundo, de Minas Gerais, conta a história de uma jovem que não tem planos para o vestibular. Ela que apenas não fazer nada, o que perturba seus pais e professores. Há um elemento musical interessante, mas o filme acaba por tornar sua personagem antipática ao julgar algumas de suas atitudes.
Já o primeiro longa da noite foi Música Para Quando as Luzes se Apagam, filme de estreia como diretor de Ismael Caneppele, roteirista de Os Famosos e os Duendes da Morte. O filme é repleto de boas intenções e levanta temas importantes envolvendo a questão de gênero, mas a execução é pobre e pouco inspirada.
A mostra competitiva seguiu com o curta paulista Peripatético, que lembra o período de maio de 2006, quando a resposta policial aos ataques do PCC acabaram com as mortes de muitos civis nas periferias de São Paulo. É uma obra tematicamente interessante, mas que também sofre no desenvolvimento da mise-en-scène.
A noite terminou com a exibição de Vazante, bom filme de Daniela Thomas (foto acima), que busca um resgate histórico de um período brutal da história brasileira. A impecável fotografia em preto e branco é o grande atrativo da obra.
Críticas dos filmes do Festival de Brasília
Música Para Quando as Luzes se Apagam
Vazante
O AdoroCinema viajou a convite da organização do evento.