Dois chefes de família, trabalhadores e de meia-idade. Enquanto um, que vive em um futuro não muito distante, só quer “encolher”; o outro, morador de uma comunidade aparentemente perfeita nos anos 1950, só não quer ter que lidar com as consequências de uma invasão à própria casa. Dois Matt Damon´s. Duas sátiras à sociedade americana.
No Festival de Toronto 2017 (ou Toronto International Film Festival), o ator marcou presença em duas produções de peso da temporada - e teve que se desdobrar em duas coletivas de imprensa sequenciais neste domingo. Matt Damon é o protagonista de Pequena Grande Vida, de Alexander Payne, e Suburbicon, assinado por George Clooney.
Baseado em um roteiro escrito inicialmente pelos irmãos Joel e Ethan Coen, o filme de Clooney atira para um bom número de lados: critica o individualismo e a ganância (subtrama diretamente ligada ao personagem de Damon, Gardner Lodge) do cidadão comum; mete o dedo na ferida da hipocrisia e do racismo quando uma família de negros, os Myers, é recebida com hostilidade em um território, em tese, aberto a oportunidades - “para um macho branco hétero”, ironizou o diretor, no evento para a imprensa.
A equipe do filme dedicou uma parte da coletiva à defesa do retrato do núcleo afro-americano, considerado raso (crítica completa aqui). “Você não os conhece direito”, disse Damon. “[Mas isso acontece] Porque a comunidade não chega a conhecê-los, eles apenas surtam”.
Mais “leve” (crítica aqui), Pequena Grande Vida apresenta a oportunidade de encolhimento do ser humano ao tamanho de uma boneca Barbie como solução para os problemas do meio ambiente. Argumento este, claro, que se presta a convencer uma pessoa moralmente evoluída. Porque o tratamento serve, também, para reduzir os custos de consumo, com um incomparável ganho de “qualidade de vida”.
“Eu quero continuar grande”, brincou Damon quando provocado. “Eu não acho que o Alexander [Payne] e o Jim [Taylor, corroteirista] pensaram em todo o processo do [encolhimento] do gato, do pássaro, do inseto”. Mas, “eu teria feito a ‘lista telefônica’ se ele tivesse me pedido”, brincou, a respeito de trabalhar com o elogiado cineasta.