Não é novidade para ninguém que o estabelecimento da Netflix e do Amazon Prime como dois dos principais players do mercado cinematográfico incomodou muita gente. As tensões causadas pelas políticas de distribuição dos serviços de streaming fizeram com que a direção do Festival de Cannes mudasse suas regras para a edição do ano que vem e que cineastas como Christopher Nolan afirmassem que os novos modelos são uma moda passageira.
Entretanto, há uma corrente na indústria que parece estar disposta a mudar a situação. Segundo o diretor de fotografia John Bailey (Feitiço do Tempo), recém-eleito presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, instituição que organiza a cerimônia e a premiação do Oscar, há uma possibilidade de que as regras do maior evento cinematográfico do planeta também sejam alteradas. Mas, desta vez, em favor da Netflix e das companhias análogas.
"Regras mudam todos os anos. Ainda não houve uma conversa profunda sobre isso dentro da Academia. Tudo foi feito com finalidades distintas para resolver situações individuais. Esta é uma das prioridades da nossa lista, algo com o qual nós temos que nos engajar para encontrar uma definição. Como a Academia poderá ir para frente e lidar com a realidade do streaming?", declarou Bailey em entrevista ao site IndieWire.
Como exemplo de produção que muito provavelmente ficará de fora da lista de indicados caso a Netflix não programe nenhum tipo de lançamento nas salas de cinema até o final do ano, Bailey citou Wormwood, a nova obra de Errol Morris (Sob a Névoa da Guerra): "O que é mais impressionante é que este docudrama é extraordinário. É uma obra que reinventou tudo o que Morris começou a fazer desde A Tênue Linha da Morte".
Definindo os filmes produzidos pela Netflix e pelo Amazon Prime como os longas que "ninguém teve coragem de fazer", Bailey coloca ainda mais lenha na fogueira do debate, um dos mais importantes do momento na indústria cinematográfica. Segundo a declaração do presidente, a Academia deseja tentar redefinir o que significa o conceito de "longa-metragem", que, hoje em dia, engloba toda e qualquer produção que é lançada no circuito comercial. "É preciso estar nos cinemas para ser um filme?", indagou Bailey.
O que é certo, no momento, é que a mudança não ocorrerá a curto prazo. Por mais que o presidente da Academia esteja disposto a debater, ainda será preciso convencer os conservadores membros da instituição a entrarem na conversação. E será só aí que uma alteração no panorama geral poderá ser produzida. Portanto, certamente teremos que esperar para ver se a Academia realmente acompanhará as novas tendências da indústria ou se a declarão de Bailey não sairá do papel.
A cerimônia do Oscar 2018, evento que completará 9 décadas no ano que vem, terá lugar no dia 4 de março. O anúncio oficial dos indicados, por sua vez, ficou para o dia 23 de janeiro.