William Friedkin chocou um mundo que não estava preparado para a atmosfera macabra a aterrorizante que marca o clássico absoluto O Exorcista, lançado em 1973. O tema da possessão demoníaca foi explorado com maestria graças a atuações consistentes, o auxílio de uma maquiagem eficiente em marcar a derrocada da menina Reagan e um roteiro que permite diferentes leituras da trama do filme — fábula perversa sobre a puberdade, tratado sobre as dicotomias bem/mal, fé/dúvida...
O longa assustou milhões e milhões de espectadores ao redor do mundo nas últimas quatro décadas, mas Friedkin e a equipe de O Exorcista não eram os maiores especialistas em possessões demoníacas quando o material foi produzido. "Na época não sabíamos como era um exorcismo: inventamos tudo", contou o diretor de 82 anos de idade durante uma coletiva de imprensa no Festival de Veneza, que recebeu a première do filme, segundo informações do site UOL.
Friedkin está no tradicional festival europeu para promover o filme The Devil and Father Amorth, sobre o padre Gabriele Amorth, chamado de "exorcista mais famoso do mundo" após realizar mais de 70 mil sessões para expurgar demônios e integrar a Associação Internacional de Exorcistas (AIE), organização reconhecida pelo Vaticano.
Durante a conversa com os jornalistas, Friedkin tentou convencer os presentes que The Devil and Father Amorth retrata casos reais de pessoas atormentadas por forças sobrenaturais. "Não tinha a intenção de fazer esse filme. Estava na Itália para receber um prêmio, no ano passado, decidi em um impulso pedir para um amigo teólogo para entrar em contato com o padre Amorth. Eu já sabia que ele tinha visto meu filme e o havia elogiado em um livro que escreveu", disse o diretor sobre a gênese do projeto, que acompanha Amorth realizando rezas para libertar uma mulher identificada apenas como Rosa de um espírito malígno. De acordo com o cineasta, tudo foi real e a mulher já havia passado por experiências do tipo diversas outras vezes. "Já imaginaram passar por nove episódios de exorcismo e não conseguir se livrar desse horror?"
Durante a coletiva, a veracidade dos registros foi questionada e o diretor foi direto: "Não há nada errado com fazer ficção, mas tudo aquilo foi verdade". Apesar de dizer crer em coisas sobrenaturais, o diretor apontou uma mazela material ao ser perguntado qual seria o maior horror que atinge a humanidade. "O grande horror do mundo é o terrorismo islâmico."