Em condições normais, o verão é o melhor período do ano para o cinema estadunidense, época em que os grandes estúdios invadem as salas com suas maiores apostas e suas mais caras e explosivas produções. Os espectadores em geral, por sua vez, também aguardam com ansiedade a temporada dos blockbusters para conferir as últimas novidades do cinema de ação e aventura. No entanto, estes não são tempos normais.
Segundo reportagem da Variety, com base nas projeções da empresa de análise comScore, 2017 será a primeira ocasião em dez anos em que a arrecadação de verão não ultrapassará a marca de US$ 4 bilhões, algo que não acontecia desde 2006. A previsão é que sejam arrecados "apenas" US$ 3,78 bilhões, aproximadamente 15% a menos do que no verão de 2016. E o motivo para a queda das bilheterias do verão "cinematográfico" — que compreende o período entre a primeira sexta-feira de maio e o dia 4 de setembro, quando é comemorado o Dia do Trabalho nos Estados Unidos — é, na verdade, uma confluência de fatores.
Para além da adesão cada vez maior do público aos serviços de streaming, outra tendência que vem sendo aprofundada nos últimos anos é a de lançar blockbusters fora do verão. Os dois maiores filmes de 2017, por exemplo, A Bela e a Fera e Velozes & Furiosos 8 foram distribuídos nos meses de março e abril, respectivamente. No ano passado, é possível identificar a mesma situação: Rogue One e Mogli, dois dos mais bem-sucedidos longas de 2016, não foram programados para o verão. Isso sem contar a nova inclinação inaugurada por Deadpool — lançado em fevereiro do último ano — de aproveitar o início dos anos com as produções para maiores, tendência seguida por Logan.
Outro elemento que não aumentou o montante geral foi a má recepção de certos longas, que não foram aprovados nem pelo público e nem pela crítica. Obras como Valerian e a Cidade dos Mil Planetas e A Torre Negra fecharam o verão com o pé esquerdo, que já havia sido prejudicado pelo fracasso retumbante de filmes como A Múmia em solo doméstico — o longa estrelado por Tom Cruise estourou nas bilheterias mundiais.
A Variety também aventa a possibilidade de que o público tenha começado a perder interesse em sequências e em filmes que pertencem a franquias e universos cinematográficos, argumento que poderia justificar o pouco entusiasmo com que produções (ou repetições genéricas de fórmulas fílmicas) como Piratas do Caribe - A Vingança de Salazar e Transformers: O Último Cavaleiro foram recebidas. Apesar disso, alguns dos maiores sucessos do verão são continuações ou fazem parte de universos: entre estes títulos estão Guardiões da Galáxia Vol. 2, Mulher-Maravilha e Homem-Aranha: De Volta ao Lar.
A situação, que realmente não é das melhores quando se trata do imensamente lucrativo ramo do cinema, torna-se ainda pior quando se leva em consideração que a Universal arrecadou mais de US$ 4 bilhões antes do verão começar. Além de Velozes 8, o estúdio também é responsável pelos hits Fragmentado e Corra!, que juntos arrecadaram mais de US$ 500 milhões ao redor do mundo.
No fim das contas, é certo que quedas e aumentos de rendimento são comuns em um negócio tão volátil quanto o da indústria cinematográfica, especialmente no contexto do surgimento das novas mídias, redes sociais e da mudança do comportamento de consumo de produtos audiovisuais. No entanto, o declínio financeiro certamente fará com que Hollywood abra o olho para o ano que vem.