O palco do Palácio dos Festivais ficou pequeno nesta quinta-feira, 24, no Festival de Cinema de Gramado. Não só porque Bio, longa do gaúcho Carlos Gerbase que entrou oficialmente na disputa pelos Kikitos é “prata da casa”, mas porque o filme traz 39 (!) atores no elenco, muitos deles presentes na noite de exibição.
E não é só isso (!!) Nenhum integrante do numeroso conjunto contracena com nenhum outro (!!!) Isso porque Bio é um falso documentário. A partir dos relatos para a câmera de personagens que têm ligação com um protagonista que nunca aparece em cena, a ideia é que o público monte uma imagem desse mesmo homem.
Trata-se de um projeto de fato original, ambicioso na concepção, do diretor de filmes como Menos que Nada (2012), Sal de Prata (2005) e Tolerância (2000), que parte de um roteiro bastante engenhoso, mas com um resultado um pouco enfadonho, a julgar pela duração de quase duas horas.
“Geralmente, os filmes têm dois mecanismos para chamar o espectador para dentro. Um é a identificação: a gente se identifica com alguém que está na tela; outro é a projeção: a gente se projeta, mesmo não se achando parecido, mas gostaria de ser como aquele cara”, disse o cineasta - e também professor - Gerbase, na noite de estreia.
“O personagem principal não proporciona isso para vocês nesse filme. Mas vocês vão poder usar uma outra característica maravilhosa do ser humano, que é a imaginação”, concluiu.
A arquitetura do texto de Bio divide o filme em 13 partes cronológicas, e cada uma conta com o depoimento de três personagens (totalizando os 39) - para os quais foram montados 27 cenários em um mesmo estúdio.
“Eu achei muito doido, parecia um exercício acadêmico”, confessou a atriz (também gaúcha) Tainá Müller, ex-aluna de Gerbasi, no encontro com a imprensa e o público na manhã desta sexta-feira. “Mas aí eu vi na tela e me trouxe um calor maior do que o que o que eu vi no roteiro”, completa.
“Eu me senti tão inteligente ontem vendo o filme”, concluiu, despertando os risos da plateia, a atriz Branca Messina.
“Eu gosto de filme que frite a minha cabeça”, depôs o realizador. “Eu prefiro ter um espectador que tenha dificuldade de acompanhar a narrativa - até perdê-lo, eventualmente, porque no filme tem muita coisa - do que fazer um filme que tem pouca coisa”.
Com Maria Fernanda Cândido, Maitê Proença, Marco Ricca, Werner Schünemann, Sheron Menezes, Rosanne Mulholland e outros 33 atores, Bio ainda não tem distribuidor e nem previsão de estreia.
A sétima noite do Festival de Gramado contou, ainda, com uma homenagem in memoriam ao produtor Oswaldo Massaini e a exibição do longa La Ultima Tarde (Peru), pela mostra competitiva internacional. Mas o destaque foi mesmo a entrega do Kikito especial, de cristal, à atriz e cantora argentina Soledad Villamil (O Segredo dos Seus Olhos) - com direito a emocionados depoimentos, no telão, dos atores Edson Celulari e o queridinho Ricardo Darín.
Ela, que está lançando um novo álbum nesta sexta-feira, até voltou ao palco para dar uma palinha depois do gritos de “canta!, canta!” da plateia. E deixou escapar que fará um show na noite de encerramento do festival, no próximo sábado. Surpresa. Ops.