Antecipar o representante do Brasil na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro é uma tarefa difícil. Cada júri tem seus critérios, e às vezes aparecem escolhas surpreendentes: na última edição, por exemplo, o país foi representado pelo fraco Pequeno Segredo, título sem apoio dos críticos nem do público, muito menos uma repercussão internacional.
Mas passada esta escolha equivocada - para muitos, uma retaliação ao favorito absoluto Aquarius - esperamos que o filme selecionado volte a representar o que a cinematografia brasileira produz de melhor, e que tenha maiores chances de se adequar ao estilo da Academia. Por isso, analisamos os mais fortes candidatos, na opinião do AdoroCinema, para o Oscar 2018:
Como Nossos Bingos
Duas produções seriam ótimas escolhas para representar o Brasil: Como Nossos Pais e Bingo - O Rei das Manhãs. São filmes totalmente diferentes, porém ambos muito bons. O primeiro venceu Gramado e tem sido elogiado em grandes festivais como Berlim, tanto pela delicadeza na abordagem dos relacionamentos contemporâneos quanto pela atuação excelente de Maria Ribeiro no papel principal. Por ser um filme de apelo universal, competente e delicado, poderia chamar a atenção dos votantes.
Bingo é uma excelente história de superação em moldes hollywoodianos, como admite o produtor Dan Klabin. Raramente o cinema nacional produziu uma biografia desta qualidade. Embora aborde a vida de uma personalidade pouco conhecida fora do país, pode impressionar pelo apuro técnico, pelo humor e pela crônica de costumes dos anos 1980. Além disso, o diretor Daniel Rezende é conhecido pela Academia, tendo sido indicado ao Oscar pela edição de Cidade de Deus.
O maestro, o sonhador, o revolucionário
Outros projetos de aspecto "internacional" podem concorrer à vaga, mas talvez com chances menores: João, o Maestro traz cenários multiculturais e retrata a trajetória de João Carlos Martins, um músico de renome mundial. No entanto, a narrativa é mais engessada, menos complexa do que a de Bingo, por exemplo.
Enquanto isso, Selton Mello deixou claro à imprensa que aceitaria fazer campanha pelo Oscar com O Filme da Minha Vida. A recepção de público tem sido calorosa (220 mil espectadores até o momento, resultado considerável no cenário atual). A imagem de um Brasil sulista, pouco conhecido lá fora, pode funcionar como atrativo, além da história adaptada de um livro de Skármeta, o mesmo de O Carteiro e o Poeta, vencedor do Oscar de melhor trilha sonora. Mas em termos de qualidade cinematográfica, não seria nosso candidato mais forte.
Joaquim constituiria uma boa escolha por ter sido o único brasileiro selecionado na competição oficial do festival de Berlim. No entanto, desde então, a recepção do filme não ganhou a amplitude que se esperava. Teríamos um candidato de respeito pela qualidade das imagens e pelo tema histórico, porém de chances reduzidas na competição.
Blockbusters pop (de direita?)
Uma incógnita, por enquanto, é a potência de Polícia Federal - A Lei é Para Todos. Como ainda não foi apresentado à imprensa, desconhecemos a qualidade do filme que retrata os acontecimentos políticos recentes, tendo Sérgio Moro como juiz-herói. Por esta escolha, o projeto parece se conectar com os sentimentos da direita, apesar de os trailers insistirem em divulgar um filme apartidário. A sintonia com a atualidade e a produção de grande porte poderiam chamar a atenção dos jurados no processo de seleção.
Na mesma via política e pop, Real - O Plano Por Trás da História deve aparecer como candidato. Os números das bilheterias decepcionaram e os críticos desaprovaram a trama defensora de medidas econômicas neoliberais, mas é possível que os produtores busquem a vaga. O filme, no entanto, seria um azarão entre os candidatos.
Outras produções de qualidade, como Malasartes e o Duelo com a Morte, Era o Hotel Cambridge, Redemoinho, Soundtrack e Fala Comigo devem ter chances ainda menores.