Depois de Como Nossos Pais jogar luz sobre o protagonismo feminino nos dias de hoje, a discussão sobre o empoderamento das mulheres também pautou o debate em torno do filme As Duas Irenes, terceiro título a entrar para competitiva nacional de longas-metragens da 45 ª edição do Festival de Gramado. Ou não.
No filme, o primeiro do formato assinado pelo diretor e roteirista Fábio Meira, Irene (Priscila Bittencourt), uma menina de 13 anos moradora de uma cidade pequena, descobre que tem uma irmã, fruto de outra relação do pai, Tonico (Marco Ricca), que leva uma vida dupla. Mas não é só isso. Para deixar as coisas um pouco mais confusas numa idade que já é naturalmente complicada, ela nota que a meia-irmã também tem 13 anos and também se chama Irene (Isabela Torres).
Como coming of age story, o filme se sai muito bem. Ambas atrizes transmitem com naturalidade as angústias da juventude, além de possuírem ótima interação. (Confira a crítica aqui).
Por mais absurda que possa parecer, a trama tem raízes na “vida real". O ponto de partida, o diretor explica, veio da história do próprio avô, que tinha uma outra filha de uma outra relação com o mesmo nome de uma tia de Meira. "Mas ela nunca quis dar esse passo, então, o filme é o que poderia ter acontecido".
"Ontem, um monte de gente veio me falar que conhecia uma família assim", garantiu Ricca. "Eu já escutei, mais de uma vez, [histórias] de duas famílias completas com os mesmos nomes. E que repetiam a ordem, segundo se supõe, para não confundir", atestou o realizador.
No debate com a imprensa, aberto ao público, muito se falou sobre o aspecto, em tese, "feminista" da obra, caráter que segundo o realizador não foi proposital. "Eu venho de uma família onde as mulheres eram quem mandava em tudo. Então, eu achava que o bacana, socialmente, no mundo, era ser mulher. Era uma questão orgânica pra mim".
"Não é um filme que levanta bandeiras explícitas", continuou a produtora Diana Almeida. "Mas acho, sim, que é uma história de empoderamento dessas meninas, de tomar as rédeas da situação", para Ricca discordar: "A poesia do filme está muito mais no amadurecimento de dois seres, independente da questão psicanalítica".
A palavra final veio de Fabio Meira: "me interessa muito que cada um veja de um jeito".
Já apontado como um dos favoritos ao Kikito por sua atuação, Marco Ricca afirmou que "a grande vantagem de trabalhar com diretores jovens é que eles nos recolocam na profissão de novo". E arrancou gargalhas da plateia quando disse: "Eu tenho sorte nas minhas escolhas. Na verdade, eu tô velho pra ser hipócrita, então eu estou achando que eu sei escolher mesmo".
Exibido na última edição do Festival de Berlim, As Duas Irenes tem previsão de estreia nos cinemas nacionais em 14 de setembro.
A terceira noite do Festival de Gramado 2017 também contou com a distribuição dos primeiros prêmios desta edição. Para os curtas gaúchos. Secundas, de Cacá Nazario, foi eleito o melhor filme.
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