Abrindo a mostra competitiva de longas-metragens brasileiros da 45ª edição do Festival de Gramado, O Matador, de Marcelo Galvão (Colegas), foi recebido com tímidos aplausos na noite desta sexta-feira, 18, na Serra Gaúcha. O clima se repetiu no debate com a imprensa - aberto ao público - na manhã seguinte, onde um silêncio constrangedor teimava em pontuar a conversa com os realizadores da obra, primeiro longa nacional com o selo "Netflix Originals".
Ambientado no sertão pernambucano, O Matador conta a história de Cabeleira (Diogo Morgado) que, abandonado à sorte árida do mondo cane do sertão ainda quando bebê, é adotado por aquele que sustenta a fama de "o matador dos matadores", Sete Orelhas (Deto Montenegro). Isso em linhas gerais. O "faroeste" traz um sem número de subtramas e, principalmente, de personagens, aos quais fica difícil se apegar (confira a crítica completa aqui).
De cara, um dos jornalistas presentes ressaltou que ele teria sido o único "de um grupo de 20" que se divertiu com o longa de Galvão. E, em seguida, o realizador foi questionado a respeito do numeroso (e subaproveitado) elenco: "porque está no roteiro", se resumiu a dizer, ele que também é responsável pelo texto do filme.
Fã de western desde que assistia, pequeno, com o avô, aos filmes do gênero, Galvão defendeu o trabalho com atores como uma de suas principais preocupações. “Me incomoda muito, às vezes, a atuação dos personagens”, disse, citando como anti-exemplo Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), de Glauber Rocha. A ele interessa mais o naturalismo nessa relação com o elenco.
A despeito da polêmica que já havia movimentado a última edição do Festival de Cannes, Galvão contou que, para ele, não importa em qual plataforma o filme será exibido (se no cinema ou não): “o importante é que seja bem feito”. E revelou que o projeto foi parar na Netflix por meio de um processo de pitching (uma espécie de “defesa oral”), quase que acidental, quando ele já havia até captado dinheiro de forma “tradicional”, via Fundo Setorial - mas a o orçamento não fechava. “Foi a primeira vez que eu devolvi dinheiro”, se recorda.
Sem data de estreia definida (nem orçamento revelado, como é praxe para os conteúdos originais Netflix), a promessa é que O Matador chegue às telas da plataforma sob demanda até o fim do ano.
João, o Maestro, por outro lado, que já está em cartaz na maioria das praças no Brasil, gerou um acalorado (e amistoso) debate com a imprensa. Um ponto curioso da conversa foi quando a equipe foi perguntada a respeito de uma cena específica do filme, em que a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) “salva” os planos do protagonista do filme - o que é retratado de forma quase institucional. Parênteses: vale lembrar que a FIESP é comumente criticada no meio artístico por uma posição política tendenciosa à direita e ao conservadorismo.
“Todos nós temos um posicionamento político diametralmente oposto ao da FIESP”, disse o diretor Mauro Lima. “Mas aquele momento precisou acontecer na vida dele para ele ser maestro”, ponderou.
O Festival de Gramado segue até o dia 26 de agosto na Serra Gaúcha.