Wagner Moura é um dos atores brasileiros mais bem sucedidos de sua geração quando o assunto é o sucesso alcançado no exterior. Apesar de ter atuado em apenas uma superprodução americana em sua carreira nos cinemas (no sci-fi Elysium, estrelado por Matt Damon), Moura chamou a atenção do mundo com sua interpretação do poderoso narcotraficante colombiano Pablo Escobar na série Narcos, exibida na Netflix para mais de 190 países.
Em entrevista para o jornalista Pedro Bial no programa Conversa com Bial, exibido pela TV Globo na última terça-feira (11), o ator baiano disse que sua atuação como Escobar lhe rendeu, além de uma indicação ao Globo de Ouro, muitos outros convites em Hollywood. Entretanto, boa parte das ofertas não tiveram apelo para ele, que tem como missão pessoal apresentar um retrato plural da experiência latina-americana nas telas, fugindo de representações preconceituosas.
"Eu nego um monte de coisa que me chamam para fazer. Depois do Pablo [Escobar] então. Nós latinos somos o grupo mais sub-representado em Hollywood. Só 5% das personagens são latinas e aparecem estereotipadas. O que eu quero fazer é trabalhar personagens latinos que não reforcem estereótipos", contou.
Ao comentar a amplitude da repercussão de sua atuação como o personagem Capitão Nascimento por conta do sucesso de Tropa de Elite (2007) e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010), o ator explicou que não se incomoda com a constante associação ao papel e disse quais são seus critérios para aceitar um trabalho. "[Capitão Nascimento] é o personagem que as pessoas mais se referem. Isso é normal, é um personagem muito forte de fato e teve um tamanho muito grande, nunca vi como um problema. Sei que sou um ator que consigo fazer coisas diferentes. O meu critério hoje para escolher personagem é o que aquilo vai acrescentar na minha vida, o que eu vou aprender com aquilo".
Bial então perguntou a Moura qual foi o último personagem que mudou sua vida e o ator voltou a Narcos. "Pablo Escobar me deu um sentimento de pertencimento tão grande a uma coisa maior do que ser brasileiro, estudei o narcotráfico, o combate às drogas. Aprender a língua espanhola me deu pertencimento da cultura latina. Eu me senti pela primeira vez latino naquela série", contou.
O ator ainda falou das dificuldades para viabilizar o filme que será sua estreia como diretor, um longa-metragem dramático sobre Carlos Marighella, guerrilheiro comunista que participou ativamente da luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Moura defendeu mecanismos como as leis de incentivo à produção, mas criticou o que chamou de visão "neoliberal" que impera nessas leis, pontuando que elas prevem isenção de impostos para empresas que financiam a produção audiovisual no Brasil, deixando um poder grande nas mãos da iniciativa privada. O ator contou que tem encontrado resistência para encontrar patrocinadores para o filme de Marighella, o que classifica como "uma bobagem gigante" porque o que deveria ser levado em consideração é o mérito artístico do projeto e não a posição ideológica da figura retratada.
"Ele foi um personagem apagado da nossa história. Sempre tive curiosidade sobre esse universo da ditadura. A minha geração nasceu muito anestesiada pela ditadura. Enfim, eu sempre me interessei pela vida das pessoas que resolveram fazer algo que não era para elas", contou Moura. O ator ainda prometeu que o filme será uma produção de ação. "Existe uma lacuna de mercado no cinema brasileiro e ação é o tipo de filme que a gente menos produz. Vou fazer um filmaço".