O Homem-Aranha, um dos mais icônicos personagens da Marvel, está de volta às telonas. Em De Volta ao Lar, Tom Holland assume o papel de Peter Parker novamente - ele estreou sua versão do herói em Capitão América: Guerra Civil -, com a difícil missão de conciliar sua adolescência à necessidade de derrotar o perigoso Abutre (Michael Keaton). Além de trazer o retorno de um dos personagens mais amados pelo público, De Volta ao Lar também é importante por sacramentar a participação do Homem-Aranha no Universo Cinematográfico Marvel.
A situação é complexa. Enquanto propriedade da Sony nos cinemas, o Homem-Aranha não poderia fazer parte do MCU - cujos personagens só podem ser adaptados pela Marvel Studios, adquirida pela Disney em 2009. Mas, calma: como assim a Marvel não pode utilizar um personagem criado pelos seus próprios escritores na década de 1960? Para entender a questão, é preciso compreender que estúdio possui os direitos de adaptação de cada personagem dos quadrinhos da empresa de Stan Lee. Senta que lá vem história.
Antes de X-Men, de Bryan Singer, ser lançado em 2000, nenhum longa significativo baseado nos personagens da Marvel havia sido produzido. A adaptação foi encarada com desconfiança porque o cenário não era dos melhores. Afinal de contas, depois dos fracassos das adaptações do Batman durante a década de 1990, o gênero dos filmes de super-herói parecia estar morrendo. Mas a Fox apostou no potencial dos personagens relacionados à saga dos X-Men e comprou os direitos de adaptação. Resultado: o filme foi bem aceito pela crítica em geral e arrecadou quase US$ 300 milhões - quatro vezes mais que o seu custo de produção.
Logo, a Sony também quis entrar na jogada e negociou a adaptação do Homem-Aranha. Em 2002, a primeira versão do personagem chegou às telonas. A abordagem de Sam Raimi trouxe mais realismo aos filmes de super-herói e a trilogia protagonizada por Tobey Maguire se tornou um grande sucesso. Atenta ao contexto e aos hits da concorrência, a Marvel decidiu que precisava agir e responder com filmes produzidos "em casa".
Sem poder contar com os seus personagens mais famosos - além dos X-Men, a Fox também comprara os direitos do Quarteto Fantástico -, a Marvel planejou seus passos futuros com extremo cuidado. Kevin Feige, o grande estrategista por trás do MCU, apostou em heróis menos conhecidos pelo grande público como o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Capitão América (Chris Evans). Hoje, 10 anos depois, a Marvel comanda um dos maiores impérios cinematográficos de todos os tempos.
Mas, mesmo com todo o sucesso, algo estava faltando: na visão de Feige, o MCU não estava completo sem o Homem-Aranha. Entra, então, Amy Pascal. O que a ex-comandante da Sony realizou foi algo sem precedentes: ela conseguiu negociar um contrato de colaboração com a Marvel para que os dois estúdios pudessem compartilhar o Homem-Aranha.
O acordo foi o seguinte: 100% da verba de financiamento e distribuição de De Volta ao Lar veio dos cofres da Sony e a direção criativa do longa - ou seja, a escolha do diretor, da equipe, do elenco e da tonalidade do filme - ficou a cargo de Feige. Contudo, quando se trata de negócios, é claro que as coisas não são tão simples assim.
Primeiramente, há a questão dos lucros: segundo o contrato, a Sony ficará com todo dinheiro que for arrecadado nas bilheterias e a Marvel levará para casa toda a renda proveniente do merchandising. Em segundo lugar, o Peter Parker de Tom Holland só poderá ser apresentado como parte do MCU em 5 filmes: ou seja, Guerra Civil, De Volta ao Lar, sua sequência e as partes três e quatro da saga dos Vingadores. É evidente que depois de 2019, ano em que Vingadores 4 e De Volta ao Lar 2 serão lançados, as partes podem retomar as negociações para estender o contrato - principalmente se De Volta ao Lar 3 realmente vier a ser produzido.
Olhando por esse ângulo, parece que é a Marvel que sai ganhando da negociação. Entretanto, a Sony não perdeu tempo e assim que viu o sucesso obtido por Holland na pele de Peter Parker, anunciou novos filmes baseados nos personagens derivados da saga do Homem-Aranha. Venom (estrelado por Tom Hardy) deve chegar aos cinemas em 2018 e Sabre de Prata e Gata Negra tem previsão de lançamento para o ano seguinte. Todavia, o que é importante notar é que estes dois longas, que serão distribuídos durante o auge da Fase 3 do MCU, não poderão ser influenciados de forma alguma por Kevin Feige e companhia, uma vez que são propriedades exclusivas da Sony nos cinemas.
Isso quer dizer que Venom e Sabre de Prata e Gata Negra não pertencem ao Universo Cinematográfico Marvel e que Tom Holland, enquanto Peter Parker, não poderá ser parte de nenhum dos dois filmes. Se ele aparecer em Venom, por exemplo, isso automaticamente faria com que o longa de Ruben Fleischer se tornasse parte do MCU, levando em consideração que a versão do Homem-Aranha de Holland é de exclusiva utilização da Marvel nos cinco filmes citados anteriormente. Enquanto Kevin Feige conseguiu o que queria - trazer o Homem-Aranha de volta, ainda que temporariamente -, a Sony ganhou notoriedade e crédito suficientes para inaugurar seu próprio Universo Marvel.
O que acontecerá com o Peter Parker de Holland no cinema ainda é uma incógnita. Por enquanto, tudo o que pode ser feito é especular acerca do futuro do personagem nas telonas - e aproveitar a interpretação "radiante e irresistível" de Tom Holland, como define nossa crítica 4 estrelas, em De Volta ao Lar. Coestrelado por Robert Downey Jr., Marisa Tomei, Zendaya, Laura Harrier e Donald Glover, o filme dirigido por Jon Watts está em cartaz nos cinemas brasileiros.