O Caso Dionísio Diaz tem como principal imagem de divulgação uma foto mal tirada, ausente do filme em questão, em que os diretores Fabiana Karla e Chico Amorim posam em frente à estatua do personagem biografado durante a fase de produção do documentário. A pobreza do material reflete o amadorismo de todo o projeto, ponto mais baixo da fraca mostra competitiva de longa-metragem do Cine PE 2017.
Pessoas aleatórias narram, com devoção e detalhes, acontecimentos que não testemunharam. Quando os depoimentos e imagens não se repetem (algo raro!), um pesquisador põe em xeque a veracidade da história, uma tragédia ocorrida em 1929 (ou 1924, ou sei lá) no interior do Uruguai. Essas contradições, em vez de provocar, expõem a colheita de um conteúdo paupérrimo, que sabota a relevância de seu tema central e evidencia a sua abordagem deficiente.
O ponto mais constrangedor de O Caso Dionísio Diaz, no entanto, é a sua forma. Fabiana Karla e Chico Amorim não fazem cinema; seu filme parece um jornalístico realizado por pessoas sem qualquer referência audiovisual. Um documentário de registro, edição e montagem primitivos, em que certidão de óbito e nascimento surgem como um slide de Power Pont, sem qualquer propósito, sem função narrativa, tendo como contexto uma fonte e uma trilha sonora de profundo mau gosto artístico.
Enfim, O Caso Dionísio Diaz é uma obra tão ruim, tão ingênua, que sua seleção para um festival do porte do Cine PE gera sérios questionamentos sobre o trabalho de curadoria do evento — o que apimentou o debate sobre o documentário, alimentou dúvidas sobre a transparência do processo e não resultou em qualquer explicação sobre o critério de escolha do precário filme, que, com seus 50 minutos, nem longa-metragem é.
Minutos antes, Entre Andares ensinava as possibilidades do documentário. O trabalho de conclusão de curso de Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel dispensa o trabalho preguiçoso, convecional, e ilustra cada depoimento com lindas imagens da paisagem arquitetônica do Recife, tão particular e representativa da denúncia de seu ótimo curta-metragem: uma especulação imobiliária que engole a história da capital pernambucana.
José manteve o alto nível das animações do Cine PE 2017. Com traço e movimento distintos, um apuro técnico impressionante (especialmente em termos de iluminação e trilha sonora), o curta de Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos cria a vida no campo, as memórias e os dilemas de seu protagonista com um bela combinação de fábula e poesia.
Felipe Arrojo Poroger alcança uma proeza com o curta Aqueles Anos em Dezembro: uma obra de forma rigorosa, ambiciosa em basear sua coesão em cartelas com linguagem de roteiro, com conteúdo profundamente particular (a vida pessoa e a origem histórica de sua família — reconstituição esta que nem sempre se justifica ou se alterna com harmonia) e, ainda assim, resulta numa homenagem de efeito comovente. Um dos filmes que mais emocionou o público em Recife.
Hoje no Cine PE 2017
O Cinema São Luiz revelará hoje os ganhadores dos Trófeus Calunga nas categorias de longa-metragem, curta pernambucano e curta nacional. O Cine PE 2017 também apresenta os melhores segundo a crítica e o curta vencedor do prêmio Canal Brasil.
O AdoroCinema viajou a convite da organização do evento.