#CasamentoEdirEEster
Edir Macedo entrou mudo e saiu calado de seu casamento com Ester. Em pouco menos de 30 segundos, ouviu os votos do pastor que pregou, entre outras coisas que, “nas dificuldades do dia a dia, um se apoiará no outro”. Vestia uma camisa bege levemente transparente e uma calça verde-escura, bem à moda dos anos 1970. E essa foto você não vai ver aqui. No máximo, um registro “real” do momento, facilmente encontrado na onipresença do Google Imagens:
Assim foi, pelo menos na ficção. Na última terça, 20 de junho, o AdoroCinema acompanhou as blindadas (não podia fotografar, por exemplo) filmagens de Nada a Perder, longa-metragem dividido em duas partes que vai contar a história do futuro fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – e que um dia viria a comprar o grupo de comunicação Record, que inclui a Record Filmes, parceira da Paris Filmes na produção/ distribuição do filme, cuja primeira parte deve chegar aos cinemas no primeiro trimestre de 2018.
“Posso até estar errado, mas nunca foram feitos dois filmes simultâneos na história do cinema brasileiro”, comemora o diretor Alexandre Avancini (prata da casa, responsável pelo hit Os Dez Mandamentos – novela e filme), tal qual Peter Jackson e seus O Senhor dos Anéis.
Passada no prédio da Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio de Janeiro, a cena em questão era a reconstrução do matrimônio do religioso. Não ironicamente, o local foi onde Edir Macedo teve seu primeiro contato com a igreja evangélica, no fim dos anos 1960, explica o diretor.
Repetida à exaustão (como é praxe no cinema), a cena terminava com o casal (vivido por Petrônio Gontijo e Day Mesquita) recebendo os cumprimentos da numerosa família à frente de cerca de 70 figurantes que preenchiam o quadro no enorme salão.
O silêncio só era interrompido pelo acalorado abraço recebido de R. R. Soares (André Gonçalves) – cunhado de Edir, com quem rompeu relações devido a divergências no comando da IURD. E terminava numa torta de casamento de climão num gelado aperto de mão entre o noivo e o bispo Eloir (nome fictício), que havia sido contra o casamento do pobre Edir com a classe média Ester.
Climão, aliás, é o que não vai faltar quando a luz do cinema se apagar, garante Avancini. O episódio de um bispo da IURD chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida? As denúncias de lavagem de dinheiro por parte do líder religioso veiculadas pelo Jornal Nacional? “A gente vai abordar tudo”, se limita a dizer, ressaltando que os filmes são baseados na trilogia literária autobiográfica assinada por Edir Macedo e escrita por Douglas Tavolaro, vice-presidente de jornalismo da TV Record.
E, claro, há a expectativa de que as polêmicas se convertam em ingressos. “A gente tem um público gigantesco que gosta muito do Edir, e tem um público que não gosta tanto, mas eu acho que vai gerar muita curiosidade. Mostraremos a trajetória desse homem: o Edir começa católico, tem a sua não identificação com essa religião, e ele começa a fazer suas buscas. A gente tem uma cena em que ele frequenta um centro esotérico” comenta o diretor, assumidamente católico.
Outra sequência de destaque, segundo Avancini, é a compra da Rede Record das mãos do empresário Silvio Santos. “O Edir vai disfarçado como o próprio motorista para assistir à reunião. Ele achou que se ele se apresentasse para o Silvio como Edir, pudesse sofrer algum tipo de rejeição. Isso aconteceu de fato e a gente vai mostrar”, adianta, negando os rumores de que Rodrigo Faro vá interpretar o dono da Jequiti (o ator já está escalado, mas Avancini não revela o nome).
Egresso de Os Dez Mandamentos, Petrônio Gontijo entrou no projeto de supetão: “Me convidaram para uma reunião e eu não esperava esse convite [para o papel]”. Sobre a responsabilidade de interpretar o patrão, o ator diz que só se sentiu seguro depois de se encontrar com o homem, que não conhecia até então. “Foi através deste contato pessoal que eu senti que teria capacidade para poder desenvolver esse personagem que é tão carismático, tão conhecido”.
Alexandre Avancini não vê “conflito de interesse” em contar a história de quem, em última instância, paga seu salário. “Eu sou um diretor que prezo muito pelo que está escrito, tanto que eu sou amigo de mais autores do que de diretores. Tem um roteiro que está muito claro em sua intenção, então, a gente segue com o nosso plano”.
Sobre o texto, aliás, a produção resolveu pedir o auxílio de um cara lá de cima, mais especificamente dos Estados Unidos. Quem assina o roteiro é o norte-americano Stephen P. Lindsey, de Sempre ao Seu Lado (aquele lacrimoso, com Richard Gere e o cachorro). O motivo? “Em parte pela expertise, em parte porque o desejo do projeto da Record e da Paris é fazer um projeto internacional”, conta Avancini. Ele até já tem uma estratégia de lançamento lá fora. Mas, claro, não revela.
Na volta da visita ao set, um colega da redação, desconfiado, pergunta: “Mas tem cara de cinema?” A resposta é de Avancini: “Utilizamos lentes anamórficas, que são muito caras. São as lentes que o David Fincher usa, que o Steven Spielberg usa” - e que resultam em um visual atraente para o mercado internacional. Inevitavelmente, perguntamos sobre o orçamento. E a resposta (um terreno no céu para quem adivinhar) foi: “A gente não pode falar disso”. “Mas é um ótimo orçamento”, repetiu Avancini, por duas vezes, feliz naquela terça-feira.
Nada a Perder (os filmes) começou a ser rodado em 15 de maio, em São Paulo e, além do Rio, terá locações em Israel e na África do Sul. As filmagens terminam em outubro. E corre à boca pequena que cada um dos longas custará em torno de R$ 16 milhões.
Colaborou Andressa Araújo.