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Tom Cruise está mais do que acostumado aos holofotes. Astro do cinema desde a explosão em Negócio Arriscado, no distante 1983, ele tem no currículo filmes que ficaram marcados no imaginário cinéfilo coletivo, como Top Gun, Entrevista com o Vampiro, Jerry Maguire e, é claro, na pele do espião Ethan Hunt na franquia Missão Impossível, que já vai para o sexto episódio.
Entretanto, na última década, Cruise tem se mostrado repetitivo. Por mais que tenha se notabilizado como galã e pelos filmes de ação, sua carreira foi marcada por uma certa diversidade de gêneros e papéis, como em Nascido em 4 de Julho, Rain Man, Magnólia e De Olhos Bem Fechados. Era como se, consciente de seu star power em Hollywood, o utilizasse para também executar projetos mais autorais, entremeados aos blockbusters de ocasião. Cruise, é bom lembrar, já foi três vezes indicado ao Oscar, sem jamais ter levado a cobiçada estatueta dourada para casa.
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Este ator inquieto, tentando fazer algo diferente, pouco tem sido visto ultimamente. Nas brechas deixadas pelas novas aventuras de Hunt, o astro tem se aventurado em filmes de ação genéricos que pouco acrescentaram à sua carreira - a lista é extensa, indo de Encontro Explosivo a Oblivion, passando por Operação Valquíria e os dois Jack Reacher. O exemplo maior é o atualmente em cartaz A Múmia, um filme de ação burocrático moldado em torno de sua posição de astro de Hollywood que, como novidade, apenas traz sua inclusão em um universo compartilhado.
A questão principal é que Cruise não precisa disto. Pela posição conquistada ao longo de décadas, poderia perfeitamente se dedicar à série Missão Impossível - a qual é também produtor, detalhe importante! - e abrir espaço na agenda para papéis mais ousados, como os que já teve em Rock of Ages, Trovão Tropical e Colateral. A obsessão em permanecer como astro de filmes de ação, superando a barreira da idade - ele está prestes a fazer 55 anos -, aliado ao ego massageado pela procura de grandes estúdios para que (ainda) protagonize franquias nascentes têm sido um forte impeditivo e, ao mesmo tempo, motivo de acomodação.
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Neste sentido, um filme que promete um certo frescor no trabalho recente do astro é Feito na América, cuja estreia está agendada já para 31 de agosto deste ano. Com ares de Prenda-me Se For Capaz, o trailer traz ao menos uma cena surpreendente para sua versão século XXI: Cruise surge com o rosto completamente coberto por cocaína! No mais, sua agenda conta com mais um Missão Impossível (para 2018), uma sequência para Top Gun (ainda sem data) e futuras conexões no tal Dark Universe. Ou seja, mais do mesmo - por mais que o padrão Cruise de filmes de ação sempre resultem ao menos em boas cenas de ação, estreladas pelo próprio ator.
Tom Cruise é melhor que isso. Com a popularidade ainda em alta, vide o fato de A Múmia ter sido sua melhor estreia internacional na carreira, ele é capaz de se reinventar e até surpreender, como fez no passado na pele de Lestat, Les Grossman e Frank T.J. Mackey. Basta querer.
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