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    Festival de Cannes 2017: Almodóvar e Will Smith divergem ao comentar controvérsia com Netflix

    Coletiva de imprensa foi marcada por opiniões fortes. Antes do início do festival, Smith chegou a brincar dizendo que estava ansioso para discutir com Almodóvar.

    A edição de 2017 do Festival de Cannes começa com discussões acaloradas envolvendo plataformas de streaming e a experiência de assisitir um longa-metragem na tela grande. Após uma sessão considerada morna do filme de abertura Les Fantômes d'Ismaël, a coletiva de imprensa com o júri contou com o desfile de opiniões opostas entre o cineasta Pedro Almodóvar e o ator Will Smith nesta quarta-feira (17).

    "Eu pessoalmente entendo que a Palma de Ouro não deve ser entregue para um filme que não foi visto nos cinemas", afirmou o cineasta espanhol que é o presidente do júri da 70ª edição do tradicional festival francês. "Tudo isso não significa que eu não esteja aberto para celebrar novas tecnologias e oportunidades, mas enquanto eu estiver vivo, vou defender a capacidade de hipnose que uma tela grande tem sobre o espectador, algo que as novas gerações não conhecem".

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    Na edição deste ano, dois filmes da Netflix passarão pela Croisette. Okja, filme de ação e aventura de Bong Joon-ho, e The Meyerowitz Stories, comédia dramática de Noah Baumbach, integram a competição principal e concorrem à Palma de Ouro. A declaração de Almodóvar levanta a suspeita de que as produções já começam disputa em desvantagem.

    Redes de cinema da França tradicionalmente exibem os filmes em competição em Cannes no circuito comercial após o festival. Como a Netflix tem como visão estrear suas produções somente no serviço de streaming, exibidores franceses pressionaram a organização do festival a mudar suas regras. A partir de 2018 apenas filmes com distribuição garantida em salas de cinema francesas estarão aptos para a seleção. Reed Hastings, CEO da Netflix, disse que a decisão é um sinal de que "o establishment está se fechando contra nós".

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    Ao ser perguntado se preferia vencer a Palma de Ouro ou ser assistido nos 190 países nos quais os serviços da Netflix são oferecidos, Almodóvar reagiu de forma exaltada e disse: "Mais do que ser visto em 190 países, para mim um filme meu precisa sempre ser assistido em uma tela grande." Diversos filmes do diretor já foram exibidos na competição de Cannes ao longo dos anos, mas o cineasta nunca venceu uma Palma de Ouro — embora tenha vencido o prêmio de melhor diretor por Tudo Sobre Minha Mãe (1999) e de melhor roteiro por Volver (2006).

    Em seguida, o cineasta leu um comunicado no qual versa sobre sua opinião do assunto. "Plataformas digitais são uma nova maneira de oferecer imagens e palavras, o que, por si só é enriquecedor. Mas estas plataformas não deveriam tomar o lugar de plataformas pré-existentes, como cinemas", afirmou. "Elas não deveriam, sob nenhuma circunstância, mudar a oferta para os espectadores. A única solução que vejo seria que as novas plataformas aceitassem e obedecessem as regras que já foram adotadas e respeitadas por meios mais antigos."

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    Numa entrevista concedida antes do início do festival, Will Smith, que integra o júri, afirmou que estava ansioso para bater o pé e discordar de Almodóvar e ter um belo "escândalo", em suas palavras. A oportunidade surgiu rápido.

    "Eu tenho filhos de 16, 18 e 24 anos em casa", disse o ator, usando Willow, Jaden e Trey Smith como exemplos. "Eles vão aos cinemas duas vezes por semana e assistem Netflix. Uma coisa não atrapalha a outra", comentou o astro, que estrela o sci-fi policial Bright, dirigido por David Ayer e produzido pela gigante do ramo de streaming.

    "Em casa, a Netflix é absolutamente benéfica — meus filhos assistem filmes que não teriam acesso de outra maneira. Ela tem expandido a compreensão global dos meus filhos sobre cinema", afirmou o ator, observado por um Almodóvar com cara de poucos amigos enquanto argumentava.

    Também parte do júri, a diretora Agnès Jaoui evitou polêmicas e defendeu as produções da Netflix que concorrem à Palma de Ouro. "Não podemos fingir que a tecnologia não existe. Mas seria um absurdo penalizar esses diretores apenas por causa disso."

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