O Cine PE: Festival do Audiovisual foi adiado — pela segunda vez — após sete cineastas solicitarem que seus filmes fossem retirados da mostra por discordâncias políticas com a mensagem de filmes que foram selecionados para integrar a 21ª edição da mostra.
Em nota divulgada nesta quinta-feira, Sandra Maria Ramos Bertini Bandeira, diretora do Cine PE, afirmou que respeita as decisões dos diretores que se manifestaram, mas classificou a atitude como uma "represália" realizada no "tempo impróprio", visto que o festival deveria começar daqui a menos de duas semanas, no dia 23 de maio.
Bandeira afirmou que a organização do festival precisará de mais tempo para realizar o evento por conta protesto dos cineastas. "Essa adequação da situação à nova grade de programação, por razões técnicas e burocráticas, demanda por um tempo superior ao prazo do período de realização agendado de tal modo que, pelo dever da prudência que sempre inspirou o Festival, será necessária postergar a execução do evento", afirmou. A nova data de realização do Cine PE será "divulgada oportunamente", diz a nota.
Na última quarta-feira (10), sete realizadores pediram que seus filmes não fosse exibidos na mostra por discordarem da seleção do documentário O Jardim das Aflições, sobre o filósofo de direita Olavo de Carvalho, e do drama Real - O Plano por Trás da História, que apresenta uma visão baseada no livro 3.000 Dias no Bunker - Um Plano na Cabeça e um País na Mão sobre o desenvolvimento do Plano Real no governo Itamar Franco.
"Constatamos que a escolha de alguns filmes para esta edição favorece um discurso partidário alinhado à direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de direito ocorrido no Brasil em 2016. Para nós, isso deixa claro o posicionamento desta edição, ao qual não queremos estar atrelados", diz a nota pública dos diretores que decidiram protestar contra o festival.
Foram retirados da seleção o longa O Silêncio da Noite é que tem sido Testemunha das Minhas Amarguras, de Petrônio Lorena, e os curtas Abissal, de Arthur Leite; A Menina Só, de Cíntia Domit Bittar; Baunilha, de Leo Tabosa; Iluminadas, de Gabi Saegesser; Não me Prometa Nada, de Eva Randolph; e Vênus – Filó a Fadinha Lésbica, Sávio Leite.
Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Josias Teófilo, diretor de Jardim das Aflições, se disse perseguido. "Eles querem que o filme não seja visto, querem causar o caos. O objetivo é muito claro: é uma tentativa de constranger as pessoas que querem colocar o filme em cartaz".
Abaixo, a nota oficial da diretora do Cine PE na íntegra. Clique aqui para ler a nota completa dos diretores.
Cine PE 2017
Nota Oficial
A Direção do Cine PE, em função das manifestações contrárias à programação do evento, que proporcionaram a retirada de alguns dos filmes selecionados, dirige-se ao público em geral, para esclarecer os pontos e comunicar as seguintes decisões:
1. Que ao longo de 20 anos de realizações, que tornaram o Festival uma das referências nacionais do setor, todas suas programações, indistintamente, foram pautadas pelo respeito aos valores básicos da liberdade, quais sejam o direito de expressão, o respeito à pluralidade e o combate ao instrumento da censura;
2. Que, por isso mesmo, jamais houve quaisquer formas de politização das programações, pois uma simples pesquisa sobre as edições passadas, facilmente será revelado que o Festival sempre se pautou em mostrar tendências, linguagens, estéticas e ideologias, da forma mais coerente possível, por entender e evidenciar que o conceito da diversidade dever ser de todos e para todos;
3. Que apesar dessas manifestações se colocarem em tempo impróprio da pré-produção do evento, posto que a surpresa por essa represália, evidentemente, proporcionou um ônus fora do planejamento, torna-se cabível, pelo verdadeiro princípio democrático, respeitar-se as decisões tomadas;
4. Que essa situação implica na substituição dos títulos por outros que também fizeram suas inscrições de modo espontâneo, que estejam em ordem classificatória da Curadoria e que ainda se revelem dispostos a entenderem os valores que são a essência de quem faz arte e cultura – a liberdade de produzir e o sentimento de consideração pelas obras realizadas, na maioria das vezes, com enormes esforços;
5. Que essa adequação da situação à nova grade de programação, por razões técnicas e burocráticas, demanda por um tempo superior ao prazo do período de realização agendado, de tal modo que, pelo dever da prudência que sempre inspirou o Festival, será necessária postergar a execução do evento, cuja nova data será divulgada oportunamente;
6. Que, por fim, destacamos e enaltecemos o papel da Curadoria, a quem foi confiada a árdua missão do processo seletivo dos filmes, justo por ela reconhecer a importância do respeito à pluralidade, desde a criação à difusão, enquanto princípio basilar a ser perseguido, irrevogável e indistintamente, quaisquer que sejam os produtos artístico-culturais.
Recife, 11 de maio de 2017.
Sandra Maria Ramos Bertini Bandeira
Diretora do Cine PE