Laura (Natalie Portman) e Kate Barlow (Lily-Rose Depp) são duas irmãs que realizam apresentações em que se comunicam com os mortos. Fascinado, o produtor francês André Korben (Emmanuel Salinger) solicita uma sessão particular, e enquanto Laura testa a possibilidade de se tornar atriz, Kate participa de gravações e exercita os seus poderes mediúnicos.
Terceiro filme da diretora francesa Rebecca Zlotowski, Além da Ilusão acompanha uma história de mediunidade para traçar uma metáfora maior, da 'magia do cinema' através de ilusões e ideias mediúnicas. Em passagem pelo Brasil duranto o Festival do Rio de 2016, Zlotowski conversou com exclusividade com o AdoroCinema e contou a respeito do processo criativo que a levou a se interessar pela história:
“Acho que, primeiramente, eu queria passar mais tempo com os atores. Fiz dois filmes correndo, as filmagens duraram poucos dias e eu realmente queria passar mais tempo com os atores, me aproximar deles. Então, tive a ideia de escrever sobre transes, vodu e espiritualismo. Isso me levou à história das Irmãs Fox, que inspiraram as irmãs do filme.Gostei especialmente de um dos episódios que envolvem as irmãs Fox, quando elas foram contratadas por um banqueiro para reanimar a mulher dele, que estava morta. Era muito hitchcockiano. Mas não queria que esse personagem fosse um banqueiro, que a história se passasse nos Estados Unidos. Queria que o filme se passasse na Europa, na década de 30. E transformei o banqueiro em um produtor de cinema. Logo, alguém me chamou a atenção que um produtor cinematográfico judeu em Paris no final dos anos 30 só poderia ser Bernard Natan. Então, a ficção me levou a uma pessoa real para narrar o filme. Foi basicamente assim que essas loucas histórias se uniram.”
Em uma história que trata primordialmente de ilusões e do poder da imagem sobre a mente, há um tipo de relacionamento específico com a indústria cinematográfica e o fascínio que exerce sobre o público. Por isso, o cenário foi especificamente importante para a diretora:
“Acho que nós definitivamente precisamos manter o foco e questionar a revolução das imagens digitais. É uma verdadeira revolução, mas nós fingimos que não. Fazemos filmes como se estivéssemos nos anos 50, mas não estamos. Não usamos mais película hoje em dia, não há mais o filme em si. Nós simplesmente capturamos as coisas pelo computador, via números. Isso é empolgante, é muito interessante, mas nós precisamos prestar atenção nessa revolução e à pergunta que ela faz. É por isso que fiz um filme de fantasmas, para questionar o estado das imagens e dos fantasmas e das coisas que realmente estão acontecendo em frente à câmera. É por isso que o cenário da França dos anos 30 também foi muito interessante para nós: estamos vivendo uma situação parecida. Nós suspeitamos das imagens, não confiamos nelas. Não sei se estou me fazendo entender, mas tudo isso é relacionado para mim. Hoje em dia, Paul Thomas Anderson, por exemplo, é definitivamente um cineasta incrível e que, para mim, ele está criando imagens novas. Sob a Pele, de Jonathan Glazer, também é incrível. Consigo entender completamente as preocupações deles, elas são familiares para mim. Pode ser que eu não faça parte da família deles, mas consigo entender completamente o que eles estão tentando fazer e dizer através da ferramenta do cinema.”
Quanto à participação de Natalie Portman, que recentemente esteve no excelente Jackie, neste filme de menor orçamento, a diretora conta:
“Tive sorte porque minha melhor amiga é uma maquiadora que costuma trabalhar com Natalie, então já a conhecia há uns 10 anos e sabia que ela estaria de passagem em Paris, para encontrar amigos dela... Foi o momento certo para fazermos um filme juntas. Ela foi ótima comigo, viu e gostou dos meus dois primeiros filmes. Senti que ela queria atuar e trabalhar na Europa e que ela queria trabalhar com uma mulher, que provavelmente seria eu... Foi um processo natural, foi ótimo. Trabalhar com ela é muito fácil, ela é ótima no set. Tive muita sorte. E Natalie também me apresentou a Lily Rose-Depp. Quando estava procurando a irmã mais nova, Lily ainda não era famosa na França e quando a vi, foi uma grande surpresa porque ela era muito coerente para o filme. Uma jovem de 15 anos, talentosa e famosa, foi perfeita para interpretar uma jovem que também tem um dom e que sabe lidar com a fama mesmo sendo tão nova. Foi por causa disso e por causa de Natalie que escalei Lily. Depois a conheci, fizemos alguns testes e ela foi incrível. Ela é uma atriz incrível, foi muito fácil para mim. E ela fala inglês e francês. Foi a escolha perfeita para o filme, a mais coerente.”
Por fim, a diretora explicou ainda sobre as inspirações que serviram de base para o longa:
“Eu, meu diretor de fotografia e minha diretora de arte temos um Tumblr, um blog no qual trocamos ideias visuais conforme eu e meus corroteiristas escrevemos o roteiro. Esse blog é como a memória do filme. E, então, conforme novas pessoas chegam ao set, envio esse material a eles e eles começam a adicionar suas ideias. Colocamos muitas coisas lá. Só há alguns dias que percebi a quantidade de material que reunimos. Para atingirmos o realismo dos anos 30, usamos Gente no Domingo de Robert Siodmak. É um filme bem antigo que explora os momentos cotidianos de várias pessoas nas ruas de Berlim nos anos 30. Essa foi uma inspiração. Outra inspiração, em relação à temática, foi o filme sobre Hanussen, o astrólogo de Hitler. É um dos primeiros filmes de Klaus Kinski. Mas vi esses filmes porque me interessam, eles não estão exatamente no meu filme. Li muitos artigos e outras coisas, mas elas são muito chatas, desculpa. De verdade. Acho que nós tentamos criar nossa própria linguagem. Mas Esther Kahn, de Arnaud Desplechin, foi certamente uma inspiração para a personagem principal em relação aos sentimentos dela.”
Além da Ilusão já está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. Leia a crítica.