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    "Dolores é uma mistura de Casablanca com Pearl Harbor", afirma a atriz argentina Emilia Attías (Entrevista exclusiva)

    Ela veio ao Rio de Janeiro para promover o lançamento nacional da coprodução entre Argentina e Brasil, já em cartaz nos cinemas.

    Emilia Attías pode não ser conhecida do grande público, mas tem seu fã-clube no Brasil. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, para participar da pré-estreia de Dolores - Uma Mulher, Dois Amores, a atriz argentina foi recepcionada em pleno aeroporto por cerca de uma dúzia de fãs de Casi Ángeles, espécie de "Malhação portenha" por ela estrelada entre 2007 e 2010.

    "O que me chama muito a atenção é que se passaram 10 anos! Isto me fez vibrar, porque os vi tão emocionados que disse: 'Uau, depois de 10 anos sentir isso?'. Fiquei surpresa e bem, feliz."

    O AdoroCinema pôde conversar com a atriz durante sua estadia carioca para promover a coprodução Dolores, já em cartaz nos cinemas nacionais. Ao seu lado, mais uma "coprodução": o uruguaio/brasileiro Roberto Birindelli, da série 1 Contra Todos e do ainda inédito Polícia Federal - A Lei é para Todos, seu companheiro de cena. Confira os melhores momentos deste bate-papo!

    UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA

    Filme de época situado na Argentina da Segunda Guerra Mundial, Dolores é uma coprodução entre Brasil e Argentina que tem um especial apreço para o diretor Juan Dickinson. Afinal de contas, trata-se da história de sua tia.

    "Quando conheci o Juan, eu disse a ele: 'cara, tem tanta minúcia tão bem sentida neste roteiro que ou viveu essa história ou você conhece quem viveu essa história!”. Aí ele assumiu que era a história da tia", revelou Birindelli. "Só podia ser, porque a delicadeza e o cuidado… Sabe aquela reação na medida? Como dramaturgo você pode imaginar, mas nesse grau de preciosidade, ou você viveu ou conhece muito. Ou você é um buda.", concluiu, rindo.

    Emilia também assumiu que o lado pessoal desta história para o diretor a atraiu para o projeto. "A proposta veio do diretor e do produtor, Fernando Musa e Juan Dickinson. A gente se reuniu, eles me mostraram o livro e contaram que era um roteiro baseado na família do diretor, o que me pareceu um pouco particular e gostei disso. Daí, quando li o livro, a história me pegou! Para mim, como atriz, era uma história muito curiosa de contar, me me deu vontade de experimentar."

    FILME DE ÉPOCA

    Questionada sobre como foi a pesquisa para compreender as peculiaridades da Argentina da Segunda Guerra Mundial, Emilia revelou que o diretor Juan Dickinson a ajudou bastante neste sentido. "Juan é filho de ingleses e nos contou que, nessa época, os imigrantes só sabiam das notícias através do cinema ou por meio jornais que chegavam, sobre a política de seus países de origem. Tive que interiorizar um pouco sobre como isso impactou a Argentina, levando em consideração o momento social e histórico do país, para compreender melhor."

    Para Birindelli, tal situação foi bastante familiar. "Sou a terceira geração de imigrantes, então vivi isso. Minha família saiu da Hungría e da Italia entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e alguns durante a Segunda Guerra. Então vivi muitas dessas histórias, e dos dois lados. Parte da família lutou pelo lado do eixo Alemanha-Itália e parte pela sua antiga cidade, que antes era na Hungria, mas que, na Primeira Guerra, foi conquistada pela Romênia [..] Trata-se de uma realidade paralela, porque não é nem lá e nem aqui. A gente acaba sendo uns párias, sabe? Uma coisa que flutua num não-lugar."

    Devido ao tema e ao formato adotados, Emilia fez uma comparação ousada: "É um filme de autor. É como ver um clássico, hoje. Isso é Dolores! Entre um Casablanca e um Pearl Harbor, de agora, com uma mistura dos dois filmes"

    UMA MULHER INDEPENDENTE

    Algo que chama bastante a atenção em Dolores é o fato da personagem-título ser uma mulher independente em plenos anos 1940, não apenas pelo modo como lida com a sociedade da época mas também com sua própria sexualidade. Para criar tal personagem, Emilia se baseou em ícones familiares.

    "Fui criada com minha avó e bisavó italianas, na Argentina. As duas foram exemplos de mulheres muito fortes e independentes, que romperam padrões em suas épocas e, desta forma, mulheres observadas e julgadas por suas ações. Foi fácil me convencer de que existem mulheres assim em todas as épocas."

    Na história, Birindelli interpreta um dos candidatos ao coração de Dolores, o banqueiro de origem alemã Octavio Brandt. Só que ela tem uma forte paixão enrustida pelo cunhado, agora viúvo, interpretado por Guillermo Pfening. "Como construir esse triângulo? Essa relação não pode ser simétrica: Dolores no meio e dois homens semelhantes. Não teria graça nenhuma! Por exemplo, a atração física. Jogar a atração física entre Brandt e Dolores não tem o menor sentido. Por quê? Porque o outro é mais jovem, o outro é o herói!".

    "A grandeza de Brandt está na compreensão. Ele entende Dolores, que o amor dela está em outro lugar. Mas compreende também, por exemplo, quando oferece dinheiro, ela vai e lhe dá um tapa. Se fosse um herói, nós teríamos uma briga ali e uma separação. Mas, com 50 anos, você tem uma outra compreensão de mundo. Então ele acolhe, mesmo ela batendo nele", complementa o ator. "É a idiossincrasia de compreender o mundo da mulher e dominá-lo igual, frio também", acrescenta a atriz.

    UM SET SILENCIOSO

    Acostumado a trabalhar em produções brasileiras e de diversos países latino-americanos, Roberto Birindelli disse que algo que lhe chamou a atenção no set de Dolores é que tudo era muito silencioso. "Aconteceu uma coisa engraçada, uma vez eu entrei e não me dei conta que estavam gravando ali. Tinha tanto silêncio, tudo tão quieto, que jamais pensei que aquilo lá era o set."

    "É claro que não dá para generalizar, mas é possível notar que [o cinema argentino] é muito centrado no roteiro, no trabalho do ator e diretor. Você não vê mil câmeras mirabolantes, você vê uma narrativa, uma história sendo contada. Olha os filmes do Ricardo Darín! Você não lembra aonde estava a câmera, sabe? Parece aquela câmera do Woody Alen, num tripé, uma lente 50 mm e deixa a história acontecer!"

     

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