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    A Glória e a Graça: Carolina Ferraz fala sobre hipocrisia – “Você acha que alguém vai dar o papel da mocinha da novela para uma ‘trans’?” (Entrevista Exclusiva)

    “Existem muitos galãs que fazem papeis de galãs e são homossexuais”, compara a atriz, rebatendo as críticas por ter vivido uma travesti no filme.

    O primeiro tratamento do roteiro de A Glória e a Graça data de 2008. De lá para cá, não só o texto mudou, como o mundo também. A discussão sobre representatividade de gênero, por exemplo, é uma pauta que ganhou/ vem ganhando cada vez mais voz na sociedade.

    No filme do diretor Flávio R. Tambellini (Malu de Bicicleta), quando Graça (Sandra Corveloni) descobre que tem uma doença terminal, resolve procurar o irmão, Luis Claudio, com quem não tem contato há anos, para que ele cuide dos filhos dela quando Graça partir. Acontece que ele agora é ela e atende pelo nome de Glória (Carolina Ferraz).

    “A Carolina, ela tem uma coisa assim, masculina. E ela estava tão apaixonada pelo projeto, até para mudar a carreira dela, redirecionar”, comenta Tambellini. Mas a atriz, que também é produtora do filme, foi criticada por assumir o papel da travesti (a personagem mantém o órgão sexual masculino), em vez de deixar o protagonismo para uma atriz travesti/ transexual. “A invisibilidade precisa deixar de existir”, reflete ela, que reconhece que não há uma equiparidade entre os gêneros.

    Para a coadjuvante que vive a melhor amiga da protagonista, no entanto, o diretor fez questão de chamar uma transexual. E é aí que entra a atriz Carol Marra como Fedra. Mas, como se diz popularmente, “o buraco é mais embaixo”. “Você acha que alguém vai dar o papel da mocinha da novela das nove para ela [Carol] fazer? O preconceito é muito latente ainda”, denuncia Ferraz. “Mesmo que no Brasil a gente viva uma coisa muito hipócrita. Existem muitos galãs que fazem papeis de galãs e são homossexuais. Nada contra”, ela aprofunda.

    “Eu pesquisei bastante e tive dificuldades, na época, de achar atores e atrizes transexuais”, diz o cineasta. Por outro lado, Sandra atesta: “Hoje, depois de dez anos, muitas atrizes ‘trans’ estão preparadas para enfrentar o mercado de trabalho. Porque você precisa de uma preparação”.

    “A palavra ‘travesti’ era um empecilho”, confessa Tambellini, a respeito das dificuldades de captar recursos financeiros para a realização do longa-metragem. “A gente chegou a desistir, em um momento”. Ele acredita que possa, sim, haver uma rejeição também do público, a respeito da temática.

    “A gente faz um filme que evidentemente defende a personagem de uma transgênero e, por outro lado, tem transgêneros que estão chateados de não ser uma [atriz] transgênero [no papel]. , eu não posso ter problema do conservadorismo e problema do outro lado”.

    Confira a entrevista completa no vídeo acima.

    A Glória e a Graça está em cartaz nos cinemas brasileiros.

     

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