Pegue um diretor escocês e o coloque para rodar um filme sobre a América profunda. Esta mistura um tanto quanto estranha no fim das contas deu muito certo, tanto que A Qualquer Custo recebeu quatro indicações ao Oscar, incluindo na cobiçada categoria de melhor filme. Confira nossa crítica!
O AdoroCinema teve a oportunidade de conversar com o diretor David Mackenzie no último Festival de Cannes, onde foi exibido na mostra Un Certain Regard. Na conversa, ele falou não apenas sobre como foi esta adaptação a uma realidade tão distinta, mas também sobre a mescla entre orgulho ferido e revolta pelo empobrecimento existente no interior do Texas atual. Confira!
REALIDADES DISTINTAS
Diante da nacionalidade do diretor, a pergunta é inevitável: como descobriu o mundo retratado por A Qualquer Custo? "Tenho um amigo escocês que mora na cidade de Alpine, no Texas, e passei um tempo em sua casa, há alguns anos atrás", explicou. "Passei o quatro de julho, conheci um pouco da cultura, visitei o local em que filmaram Assim Caminha a Humanidade. Desde então, sempre tive a vontade de fazer um filme naquele ambiente, que é um lugar muito cinematográfico."
As referências cinematográficas foram fundamentais para que Mackenzie se interessasse pelo projeto. "Tenho muita nostalgia pelos filmes estadunidenses dos anos 1970. Nós visitamos o banco que aparece em A Última Sessão de Cinema, mas não filmamos lá. Foi incrível, porque existe e ainda é igual ao que é mostrado no filme. Queria muito filmar lá, mas não tínhamos o tempo necessário para isso. Hoje em dia, não existem mais filmes como aqueles, feitos daquela forma. Acho que isso está por todo o lado, mas, especialmente, essa sensação de nostalgia, por causa da crise econômica e social, parece atingir o Meio-Oeste estadunidense com mais força."
Apesar de tamanho interesse pessoal, o projeto trazia ainda certas condições específicas que facilitavam o envolvimento do diretor. "Quando li o roteiro, senti essa parte dos Estados Unidos e achei que seria uma boa oportunidade trabalhar com esse filme. É um roteiro simples e objetivo que trata de temas universais, o que possibilita que você venha de uma outra cultura e ainda assim entenda o que acontece."
UM FILME DO TEXAS
No fim das contas, o que é a tal mentalidade texana que o filme tanto aborda? David Mackenzie explica: "É um sentimento de querer ser independente, de querer decidir o próprio destino. Não digo isso de uma maneira política, mas como uma forma de fazer as coisas do próprio jeito. Isso faz parte da cultura texana."
O diretor dá como exemplo um pequeno detalhe, existente no próprio filme: "No trailer do personagem de Ben Foster, Tanner, há uma bandeira de Gadsden, um símbolo dos exércitos rebeldes. Essa mentalidade não está presente em todos os lugares e nem mesmo é a mentalidade da maioria, mas definitivamente ainda existe por lá [..] O filme me parece ser sobre a transição do Velho Oeste para um período de novas circunstâncias. É contemporâneo, mas as pessoas parecem pertencer a outros períodos. É como se elas estivessem desaparecendo."
TRILHA SONORA
Um dos destaques de A Qualquer Custo é a trilha sonora, composta por Nick Cave e Warren Ellis. "A trilha deles é muito importante para o filme, adoro o trabalho deles", afirma o diretor. "Nós tentamos equilibrar a música local, country, com a trilha deles. Começamos utilizando músicas existentes de outros filmes e uma trilha temporária e, então, tomei a iniciativa de perguntar se eles gostariam de compor as músicas para o filme. Eles aceitaram, compuseram e é uma trilha fantástica. Adoro a atmosfera que eles criaram, as canções são épicas e retratam a imensidão do Texas sem ser bombástica, grandiosa ou barulhenta. Gosto muito do equilíbrio que eles trouxeram."
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