É oficial, Asghar Farhadi não comparecerá à cerimônia de entrega do Academy Awards 2017. Iraniano, o diretor do indicado O Apartamento não pode ir aos Estados Unidos por conta da polêmica ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump que impede a entrada de cidadãos de Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen ("nações propensas ao terrorismo") no país. Ainda assim, havia viva alguma esperança de exceção ou liberação mediante pressão de poderosos da indústria - o que ocorreu recentemente com o pequeno Sunny Pawar, de Lion - Uma Jornada Para Casa. Farhadi, no entanto, declarou ao The New York Times que não irá mesmo que receba autorização especial.
"Eu lamento anunciar que decidi não comparecer à cerimônia do Academy Awards junto com meus colegas membros da comunidade cinematográfica.
Durante os últimos dias, apesar das injustas circunstâncias que surgiram ante os imigrantes e viajantes que têm como destino os Estados Unidos, minha decisão se manteve: participar da cerimônia e expressar minha opinião sobre os acontecimentos usando a imprensa. Não tinha intenção de faltar ou boicotar o evento para demonstrar objeção, pois sei que muitos da indústria cinematográfica americana e membros da Academia são contra o fanatismo e extremismo que ganham força hoje mais do que nunca. No dia do anúncio dos indicados acertei com a distribuidora do filme nos EUA minha presença junto com o diretor de fotografia. Entretanto, agora a possibilidade da minha presença vem sendo acompanhada de expressões como "se", "talvez", "mas", que não vejo como aceitáveis, mesmo que sejam feitas exceções para minha viagem. [...]
Humilhar uma nação sob o pretexto de guardar a segurança de outra não é um fenômeno novo na história e sempre semeou divisões e hostilidades. Por este meio expresso minha condenação das injustas condições aplicadas em meus compatriotas e cidadãos dos outros seis países que tentam entrar legalmente nos Estados Unidos. Espero que a situação atual não gere ainda mais ódio entre as nações."
O Apartamento concorre ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro com representantes de Alemanha (Toni Erdmann), Austrália (Tanna), Dinamarca (Terra de Minas) e Suécia (Um Homem Chamado Ove). Semana passada, antes até da assinatura da medida, Taraneh Alidoosti, atriz principal do drama, comunicou via redes sociais que não iria ao Oscar em protesto.
O banimento atinge também os protagonistas de dois filmes indicados na categoria dos curtas documentais: The White Helmets, sobre trabalhadores humanitários sírios, e Watani: My Homeland, sobre uma família de refugiados.
Farhadi já tem um Oscar por A Separação e começa a despontar como novo favorito da categoria, desbancando a comédia Toni Erdmann. Lançado em três cinemas dos EUA, O Apartamento teve a maior média de público por sala do fim de semana no país.
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