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    George Clooney defende Meryl Streep de Donald Trump, que chamou a atriz de "superestimada"

    Ator ironizou o presidente eleito dos Estados Unidos.

    Lester Cohen / Getty Images

    Além de atuar e dirigir filmes, George Clooney também é também um ativista de causas humanitárias e relacionadas aos direitos humanos e não hesitou em defender Meryl Streep dos comentários de Donald Trump, que chamou a atriz mais celebrada e premiada de sua geração de "superestimada" após ser criticado pela artista durante um discurso no Globo de Ouro.

    Como de costume, o presidente-eleito dos Estados Unidos xingou muito no Twitter após Streep pedir mais empatia e repudiar Trump, que durante sua campanha debochou de forma grosseira de um repórter deficiente. O ex-apresentador do reality show O Aprendiz gesticulou grotescamente durante um comício para fazer chacota do jornalista Serge Kovaleski, do jornal The New York Times, que é portador de uma doença congênita que faz com que seus braços sejam atrofiados.

    Durante um evento na The Clooney Foundation for Justice para promover o documentário Capacetes Brancos, realizado na última segunda-feira (9), George Clooney concedeu uma entrevista para a revista People onde, sarcasticamente, fingiu concordar com Trump. "Eu sempre disse isso sobre a Meryl. Ela é a atriz mais superestimada de todos os tempos. Eu e ela trabalhamos juntos em O Fantástico Sr. Raposo onde dublamos marido e mulher e eu te digo que, mesmo como uma raposa fêmea ela é superestimada", disse, brincando. "Falando sério, você [Trump] não deveria estar comandando o país?", perguntou Clooney de forma retórica.

    "Nós temos que esperar que ele faça um trabalho decente porque quando o presidente dos Estados Unidos falha, coisas muito terríveis acontecem. Nós tivemos muita sorte enquanto país por muito tempo. Eu acho que vai nos faltar sorte agora, mas eu espero o melhor. Veja bem, eu não votei nele, eu não o apoiei e não acho que ele seja a escolha correta", afirmou o ator, que apoiou a candidata Hillary Clinton durante as eleições presidenciais americanas. A democrata venceu o pleito no voto popular por uma margem de mais de 2 milhões de votos, mas foi derrotada no Colégio Eleitoral. "Nós temos que esperar que ele não destrua tudo", completou o ator.

    Produzido pela Netflix, o documentário Os Capacetes Brancos, dirigido por Orlando von Einsiedel acompanha os voluntários da ONG Defesa Civil Síria, que atua no Guerra da Síria e alega já ter resgatado mais de 60 mil pessoas em áreas de conflito. Clooney recentemente comprou os direitos do filme, que está na lista de pré-indicados ao Oscar de melhor curta-metragem documentário, e planeja rodar um drama baseado na mesma história.

    "O que faz pessoas famosas se envolverem nesse tipo de causa é o fato ninguém saber nada sobre elas", justificou o ator. "Eu não posso mudar a política, mas eu posso amplificar as coisas. Os cineastas [responsáveis por Os Capacetes Brancos] são os verdadeiros corajosos. São eles que estão fazendo todo o trabalho e são os heróis. Então, se eu puder ajudá-los a fazer com que todos saibam sobre o que está acontecendo, acho que é um bom uso do meu status de celebridade".

    Abaixo, leia a íntegra do discurso de Meryl Streep no Globo de Ouro e relembre este e outros momentos da premiação na matéria do AdoroCinema.

    "Muito obrigada. Por favor, sentem-se. Obrigada. Amo todos vocês. Vocês terão de me desculpar, pois perdi minha voz gritando e me lamentando nesta semana. E perdi minha cabeça em algum momento deste ano, então preciso ler [o discurso]. Obrigada, Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood. Pegando a deixa do que disse o Hugh Laurie: vocês, e todos nós neste auditório, realmente pertencem ao segmento mais demonizado da sociedade americana hoje. Pensem bem: Hollywood, estrangeiros e a imprensa.

    Mas quem somos nós? O que é Hollywood, afinal de contas? É apenas um monte de gente de lugares diferentes. Nasci, fui criada e educada nas escolas públicas de Nova Jersey. Viola [Davis] nasceu em uma fazenda na Carolina do Sul e cresceu em Central Falls, Rhode Island. Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por uma mãe solteira no Brooklyn. Sarah Jessica Parker é de uma família de sete ou oito crianças de Ohio. Amy Adams nasceu em Vicenza, na Itália, e Natalie Portman nasceu em Jerusalém – cadê a certidão de nascimento delas? A linda Ruth Negga nasceu em Addis Abeba, na Etiópia, e foi criada na Irlanda, acredito, e está aqui, indicada por interpretar uma garota de uma pequena cidade da Virgínia. Ryan Gosling, como todas as pessoas mais legais, é canadense. E Dev Patel nasceu no Quênia, foi criado em Londres, e está aqui por interpretar um indiano criado na Tasmânia.

    Então Hollywood está cheia de forasteiros e estrangeiros, e se você expulsar todos eles [dos Estados Unidos] não terá nada para assistir além de futebol e artes marciais, que não são as artes.

    Me deram três segundos [para concluir o discurso], então…O único trabalho do ator é entrar na vida de pessoas diferentes de nós e fazer você sentir como é. Houve muitas, muitas, muitas atuações poderosas este ano que fizeram exatamente isso – trabalhos de tirar o fôlego, cheios de compaixão. Mas houve uma atuação este ano que me chocou, que cravou um gancho no meu coração. Não porque foi boa. Não foi nada boa. Mas foi eficaz e conseguiu o que queria, fez o público-alvo rir e mostrar os dentes. Foi aquele momento em que a pessoa que estava pedindo para sentar na cadeira mais respeitada do nosso país imitou um repórter com deficiência – alguém em relação a quem ele tinha mais privilégio, mais poder e mais capacidade de enfrentar. [Esta cena] partiu meu coração, e ainda não a consegui tirar da minha cabeça, porque não foi em um filme, foi na vida real.

    E esse instinto de humilhar, quando é exibido por alguém em uma plataforma pública, por alguém poderoso, é filtrado na vida de todo mundo, porque dá permissão para outras pessoas fazerem o mesmo. O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita violência. Quando os poderosos usam sua posição para fazer bullying, todos nós perdemos.

    Ok, isso me leva à imprensa. Precisamos de uma imprensa com princípios para fiscalizar o poder, para cobrar cada absurdo. É por isso que os fundadores [da democracia americana] colocaram a imprensa e suas liberdades na Constituição. Então apenas peço que a próspera Associação de Jornalistas Estrangeiros de Hollywood e todos da nossa comunidade se juntem a mim no apoio ao Comitê de Proteção aos Jornalistas, porque vamos precisar deles para seguir adiante, e eles vão precisar de nós para proteger a verdade.

    Mais uma coisa. Uma vez eu estava no set reclamando de alguma coisa – íamos filmar na hora do jantar, muitas horas de trabalho ou qualquer coisa do tipo – e Tommy Lee Jones me disse: ‘não é um enorme privilégio ser ator, Meryl?’. Sim, é. E temos de lembrar uns aos outros do privilégio e da responsabilidade do ato de empatia. Todos devemos ter muito orgulho do trabalho que Hollywood está homenageando aqui esta noite.

    Como a minha amiga que partiu, a querida Princesa Leia, me disse uma vez: ‘pegue seu coração partido, transforme em arte’. Obrigada."

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