Na noite do último domingo (08), Meryl Streep foi homenageada no Globo de Ouro, recebendo o prêmio Cecil B. DeMille pelo conjunto de sua obra. Em seu discurso de agradecimento, ela aproveitou para falar da diversidade das pessoas em Hollywood e para criticar o desrespeito, a violência e a xenofobia, alfinetando Donald Trump. O presidente eleito dos Estados Unidos, por sua vez, resolveu se justificar e atacar a atriz.
Em uma entrevista por telefone com o The New York Times, Trump revelou que não tinha visto o discurso de Streep nem outras partes da cerimônia do Globo de Ouro, mas completou que não estava surpreso que tinha sido atacado por "pessoas liberais do cinema".
Ele também comentou a "afronta" da atriz em seu perfil no Twitter, chamando-a de "lacaia de Hillary [Clinton]".
"Meryl Streep, uma das atrizes mais superestimadas de Hollywood, não me conhece mas me atacou ontem à noite no Globo de Ouro. Ela é uma lacaia de Hillary, que perdeu feio", escreveu ele no Twitter.
Em seu discurso, a atriz também reprovou uma imitação que Trump fez de um jornalista com doença congênita durante um discurso de sua campanha presidencial em novembro do ano passado. Na ocasião, o então candidato ridicularizou Serge Kovaleski — repórter do The New York Times que contestou a alegação de Trump de que muçulmanos em Nova Jersey celebraram os atentados de 11 de setembro de 2001 — ao falar agitando os braços, claramente caçoando o jornalista, que tem artrogripose, condição que afeta o movimento das articulações.
Streep afirmou após celebrar a diversidade dos atores de Hollywood, que são, em grande parte, estrangeiros de diversas partes do mundo: "O único trabalho de um ator é entrar na vida das pessoas que são diferente de nós, e fazer você sentir como é isso. E há muitas, muitas, muitas atuações poderosas este ano que fizeram exatamente isso. Um trabalho sensível, de tirar o fôlego".
Então, criticou a posição desrespeitosa de Trump: "Mas teve uma atuação este ano que me aturdiu. Ela afundou seus ganchos em meu coração. Não porque era boa; não havia nada de bom sobre ela. Mas foi efetiva e fez seu trabalho. Fez seu público-alvo rir, e mostrar suas presas. Foi esse momento quando a pessoa pedindo para sentar no mais respeitado lugar do nosso país imitou um repórter com deficiência [nas articulações]. Alguém que ele superou em privilégio, poder e capacidade de lutar. Meio que quebrou meu coração quando eu vi, e ainda não consigo tirar da minha cabeça, porque não foi em um filme. Foi na vida real. E este instinto para humilhar, quando é modelado por alguém na plataforma pública, por alguém poderoso, se espalha pela vida de todos, porque meio que dá permissão para que outras pessoas façam o mesmo. Desrespeito convida desrespeito, violência incita violência. E quando os poderosos usam suas posições para humillhar os outros, todos nós perdemos."
Diante da crítica de Streep, Trump tentou se justificar: "Pela 100ª vez, eu nunca 'caçoei' de um repórter com deficiência (nunca faria isso) mas simplesmente mostrei como ele 'rastejou' quando mudou totalmente uma história que ele tinha escrito há 16 anos para me fazer ficar mal. Mais da mídia desonesta!"
Nas redes sociais, o caso também foi bastante comentado. Apoiadores do presidente eleito usaram a hashtag #MerylStreepRant para criticar a posição da atriz, enquanto defensores de Streep compartilharam seu discurso inúmeras vezes e reprovaram o comportamento de Trump.
Um usuário do Twitter escreveu: "Apoiadores de Trump dizendo que Meryl Streep deveria ficar fora da política porque é uma celebridade rica. Eles não votaram por uma celebridade rica?".
Assista ao discurso na íntegra de Meryl Streep (com legenda automática do YouTube):