A segunda-feira, 28, foi o último dia de felicidade no país, e o clima tratou de retratar esse aspecto ao seu modo. Ao contrário do luto chuvoso em Chapecó ou do surpreendente dilúvio que banhou o Rio de Janeiro nesse sábado (3), um lindo céu azul emoldurou o Museu do Amanhã na abertura do evento de que foi sede: o VFX Rio 2016. "Parece um quadro", disse David Fogler, numa resposta que denota a visão de mundo de quem projeta o olhar para a tela como ofício.
Curiosamente, porém, o supervisor de efeitos visuais da multimilionária Industrial Light & Magic declara a soberania do orgânico sobre o digital quando o assunto é substituir atores reais por sua versão digitalizada. "Isso subestima o quão difícil é o que fazemos. As pessoas vêm tentando cruzar esse limite há tempos, mas ainda não chegamos lá. E, mesmo que um dia nós cheguemos, teríamos um trabalho enorme! O computador é uma ferramenta, operada por um artista — talentoso, com sorte... Isso não seria criado por mágica. Então, por que um cineasta iria querer todo esse trabalho, quando ele pode filmar um humano real?", provocou Fogler, arrematando que a sua arte pode e deve ser utilizada de forma mais proveitosa.
Assim foi durante todo o bate-papo: descontraído e de respostas bem dadas. Mesmo que, ao falar de Transformers: O Último Cavaleiro, ele não tenha sido capaz de dizer mais que "a palavra de ordem será tornar tudo maior e maior" — como sempre deve ser com Michael Bay. "Esse é o meu sétimo trabalho com ele, que entende como ninguém a disciplina do nosso trabalho. Ele é muito inteligente", elogiou Fogler. Ainda segundo ele, o versátil cineasta ("edita, filma, faz tudo o que puder num set") atua como um parceiro do time de efeitos visuais, o que otimiza o trabalho e põe mais que o dedo de Michael Bay no acabamento final de seus longas-metragens.
Um grande trabalho em equipe também marcou a realização de Star Wars - O Despertar da Força com J.J.Abrams. Dave Fogler conta que o segredo do sucesso do Episódio 7 em relação à segunda trilogia, por exemplo, foi além das novas tecnologias. Os profissionais envolvidos trabalharam com a "consciência" de que deveriam "trazer um delicado equilíbrio entre a linguagem visual estabelecida na trilogia clássica e as ferramentas que temos à disposição hoje para criar efeitos que deem apoio à história" — e o "enorme" senso de narrativa do diretor do filme foi fundamental para isso.
"J.J. tem um apuro muito grande em projetar as sequências. Ele nos ajudou muito filmando tomadas apropriadas. Em sequências de ação como a do Rathtar, por exemplo, tivemos elementos reais com que trabalhar, como iluminação e espaço. Colocamos os monstros e tornamos os sets mais complexos, mas sempre é preciso um trabalho real. Assim, não precisamos criar tanto sem nada em que se basear", explicou o artista sobre a elogiada aventura de The Force Awakens.
Outro aspecto interessante, no que tange à criação das cenas de ação, foi a aparência de que as naves são mais potentes no último filme da franquia espacial — como observado pelo jornalista e amigo Beto Menezes, do Cinema em Série, também presente à entrevista. Dave explicou: "Podemos dizer que muitas coisas em O Despertar da Força são iguais a nos originais, mas também são mais. E pensamos muito no quanto desse mais. Não podíamos ousar muito, pois não pareceria Star Wars".
Um exemplo disso é a linda tomada lateral em que uma X-Wing voa rasante sobre o lago. "Pelo modo como elas voam e espirram água no lago, seria complicado demais de fazer com miniaturas, como nos filmes originais. E tanto J.J. quanto nós pensávamos: 'Exageramos aqui? Ultrapassamos a linha em que isso não soa mais como Star Wars?'. Em cada tomada, em cada decisão, chegávamos a essa linha e fazíamos o mais legal que pudéssemos. Fizemos uma homenagem às X-Wings originais, mas também um pouco mais legais", disse David Fogler, sorrindo, demonstrando muito prazer em fazer e falar sobre efeitos visuais.
Infelizmente, o artista ainda não sabe se voltará para Star Wars: Episódio VIII. Está na expectativa, e espera finalizar Transformers: O Último Cavaleiro a tempo de voltar para a franquia espacial — pois nela deseja trabalhar "por mais 10 anos, quem sabe?". Afinal, compensa demais trabalhar na icônica franquia, apesar de ser tão difícil e desafiante; e por causa disso.
"Há muita história em tudo que se faz. Sendo um artista de efeitos visuais, você tenta sempre, continuamente, se reinventar, ir além dos limites. E, apesar de termos feito isso, em Star Wars você também tem que ser respeitoso e homenagear o que foi feito 40 anos atrás. É um equilíbrio bastante trabalhoso. Há uma linguagem visual nos filmes que é preciso ser mantida, e é um desafio e tanto", disse Fogler, com um respeito e um entendimento que só nos faz torcer, torcer muito, pra que ele possa voltar ao Episódio 8 de Star Wars.
David Fogler termina a entrevista falando sobre a indústria de VFX no mundo. Experiente, ele ressaltou quão duro, de competição acirrada, é o seu ofício. Se ele tem a sorte de trabalhar numa das maiores empresas do ramo em todo o mundo, grande parte dos artistas de efeitos visuais trabalha independentemente, e acaba "pulando de projeto em projeto ao redor do mundo". O que, apesar de tudo, ele vê como positivo. Pois tornou o trabalho global nos últimos anos e fomentou uma competição não só democrática, como positiva em termos de troca e do aumento de qualidade do trabalho. Bacana!
O próximo trabalho de David Fogler, em Transformers: O Último Cavaleiro, chegará aos cinemas no dia 22 de junho de 2017. Seis meses depois estreia o seu pretendido projeto seguinte: Star Wars: Episódio VIII, em 17 de dezembro.