Responsável pela comédia italiana Viva a Liberdade (2013), o diretor Roberto Andò chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 17 de novembro, com seu mais novo projeto: As Confissões. O filme mescla elementos do drama, suspense e até comédia, e marca uma nova parceria com o ator Toni Servillo.
O AdoroCinema conversou com exclusividade com o cineasta sobre o longa. Confira como foi a entrevísta!
Você pode falar um pouco sobre o que te motivou a contar essa história?
O que era importante para mim era criar uma oportunidade especial para reunir as pessoas conectadas com o poder, pessoas que tomam decisões cruciais sobre o mundo, com um indivíduo solitário, desconectado do mundo - como este monge. No meu último filme, Viva a Liberdade, o que me interessava era descrever o estado do poder. Eu acho que estamos em uma situação muito difícil em todo o mundo. Hoje, eu acredito que as pessoas que detém o poder desejam escapar do poder. Neste filme, As Confissões, eu decidi observar a economia globalizada em um momento onde ela está desorientada. Após a grande crise de 2008, a economia parou de conseguir entender o mundo e a teologia voltou a tomar conta. Me parece que este grupo de personagens que eu reuni em um hotel não têm certeza das decisões que precisam tomar e, no fim das contas, é o monge que luta contra as dúvidas, através do silêncio, através de uma linguagem completamente diferente.
No filme, você trabalha com elementos de drama, suspense e até mesmo de comédia. Como foi trabalhar com esses gêneros?
Eu acho muito interessante misturar todos esses elementos. Uma referência da qual gosto muito é Muito Além do Jardim, com Peter Sellers. De certa forma, a comédia está sempre conectada com o poder, assim como o drama. Nesse momento em particular, onde o poder não consegue agir como poder, a comédia é mais forte. Então, é preciso dispor esses elementos na narrativa. Para este grupo de personagens, a presença desse monge é um fenômeno imprevisível, o que a economia chama de "cisne negro"; eles não são capazes de lidar com esse fenômeno, o monge é algo que escapa do entedimento deles. É claro que o filme não é um ensaio, não é um estudo sobre como a economia está se desenvolvendo no mundo atualmente; é uma ficção. A conversa entre o monge e o diretor do Fundo Monetário, por exemplo, se encontra nesse nível narrativo. O outro nível narrativo é a questão de como essas pessoas são frágeis. O que quero dizer é que antes de adquirirem poder, elas tinham certeza do que faziam; agora, não têm mais. Isso é interessante.
Algumas pessoas acreditam que o monge do filme é inspirado pela figura do Papa Francisco. É verdade? Você vê alguma conexão entre os dois?
O monge pertence à Ordem dos Cartuxos, e existem poucos como ele no mundo. Existem por volta de duzentos monges cartuxos no mundo inteiro. Escolher se isolar, abdicar do dinheiro e se manter em silêncio é uma escolha muito complicada a ser feita. Creio que na América Latina, especificamente no Brasil e na Argentina, onde eu estive com o filme, é possível que o público veja relações entre o monge e o Papa Francisco; eu entendo essa correlação. Mas esse monge não faz parte do clero da Igreja Católica e leva uma vida solitária. Os monges sempre foram figuras excêntricas em relação ao poder central da Igreja. Eles não são representantes do poder, eles são periféricos.
Você pode falar um pouco sobre os seus próximos projetos?
Eu comecei a projetar um novo filme, mas é um assunto muito pesado para falarmos sobre agora. Ao mesmo tempo, estou escrevendo uma série para a tv sobre política. Não é a construção histórica de um período específico, mas uma visão sobre como será a política na Itália nos próximos anos.