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    Mostra de São Paulo 2016: Jarkko Lahti fala sobre o candidato da Finlândia ao Oscar, O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki

    Entrevista exclusiva com o ator principal desta bela biografia.

    Pekka Tynell / Yle

    Entre as centenas de atrações da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo encontram-se uma dezena de filmes que concorrem ao próximo Oscar de melhor filme estrangeiro. Um deles é o candidato finlandês, O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki. A biografia do boxeador mostra a pressão sofrida para se tornar um grande ídolo nacional, logo na época em que o tímido Olli (Jarkko Lahti) se preocupava mais com o seu namoro e outros aspectos da carreira.

    Este é não um tradicional "filme de boxe", já que o foco está muito mais na personalidade do biografado do que nas lutas. O AdoroCinema já viu - e adorou - a produção, uma das nossas favoritas da Mostra até o momento. Aproveitamos para conversar em exclusividade com o ator sobre o projeto:

    AdoroCinema: Antes do convite para o filme, você já conhecia a história de Olli Mäki?

    Jarkko Lahti: Sim, eu venho da mesma cidade de Olli, na costa da Finlândia, falo o mesmo dialeto que ele fala. No início de 2011, o diretor do filme, Juho Kuosmanen, que é um velho amigo meu, me disse que se ele conseguisse terminar de escrever o roteiro e conseguisse financiamento para fazer o filme, eu interpretaria o protagonista. Eu aceitei e fui direto para o ginásio treinar. Olli Mäki é como um herói da minha infância, um homem que veio da classe trabalhadora da área onde eu nasci. Interpretá-lo foi uma grande oportunidade para mim.

    Como foi a preparação para o filme, tanto física quanto em termos de pesquisa?

    Jarkko Lahti: Foi uma preparação principalmente física. A habilidade de Olli é tão única que eu percebi que precisaria de todo o tempo possível para me preparar para o papel. Eu e Juho combinamos que eu não focaria no boxeador, e sim no ser humano, nas relações pessoais. Então, precisei preparar o meu corpo para o boxe. Treinei durante quatro anos e meio, competi duas vezes em um torneio peso leve para sentir a dinâmica do ringue. Mesmo que nós não tivéssemos feito esse filme, já teria valido a pena por eu ter encontrado esse novo mundo. A comunidade finlandesa de boxe me aceitou muito bem, foi ótimo. Eu vou continuar treinando. Não vou mais competir, mas vou seguir praticando.

    Era importante para você se parecer fisicamente com Olli, adotar a mesma voz e os gestos?

    Jarkko Lahti: De certa forma, sim. Eu não queria simplesmente imitá-lo, esse não é o meu estilo de atuação. Mas é claro que eu quis trazer algumas coisas dele como o que ele fazia no ringue ou o jeito de andar. O meu objetivo principal era encontrar o núcleo do personagem, algo que me desse um entendimento da personalidade do meu personagem no geral. Para mim, a coisa mais importante em Olli é o seu sorriso. Apesar de ele ser um cara modesto, humilde e tímido, seu sorriso mostra muita alegria.

    Como você descreveria Olli?

    Jarkko Lahti: Olli declarou várias vezes que o boxe é um jogo. O boxe era a maneira de Olli brincar. Tudo o que fazemos criativamente, seja arte, seja esporte, seja dança, seja pintura, seja música ou qualquer outra atividade, nos coloca no ponto mais alto do ser humano. Quando as coisas começam a ficar sérias e nós passamos a falar de dinheiro e de poder, atingimos o nosso ponto baixo, somos realmente maus. Na minha opinião, Olli nunca foi um atleta ambicioso. Era dedicado, motivado e trabalhava muito, mas nunca quis ser uma celebridade, nunca foi assim. Ele é um herói no sentido em que os valores dele são belos e corretos.

    O filme aborda principalmente a pressão sofrida por Olli para se tornar uma celebridade. 

    Jarkko Lahti: Esse tipo de pressão pode ser uma prisão. Eu sinto o mesmo. Na verdade, acho que Juho Kuosmanen queria contar essa história como uma alegoria da situação em que se encontrava após vencer um prêmio em Cannes para estudantes de cinema, alguns anos atrás. O prêmio garantia que seu primeiro filme seria selecionado automaticamente para uma das outras mostras competitivas do festival. Então, ele passou por um período de crise e pressão no qual sua criatividade se esgotou por um tempo. Juho me contou sobre isso e eu disse a ele que essa poderia ser o tema do filme. Ele não ficou muito convencido. De repente, ele disse que sabia qual história deveria contar: sobre um boxeador que precisa encarar uma espécie de missão impossível. Juho se sentia da mesma forma antes do Festival de Cannes. No fim das contas, deu tudo certo.

    O que pensa do título internacional do filme, "O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki"?

    Jarkko Lahti: Acho engraçado! Eu gosto da ideia de que um título precisa ser curto, comercial e eficiente e nós fazemos exatamente o contrário, temos um título enorme em inglês. Na verdade, esse título vem de uma citação do próprio Olli. Quando ele perdeu o título mundial, disse que aquele era o dia mais feliz de sua vida porque, no mesmo dia, ficou noivo de sua esposa. Olhando por esse ângulo, é um bom título. Em finlandês, o título é "Hymyilevä mies", que significa "O Homem Sorridente", em tradução livre.

    O filme dá a sensação de que você teve muita liberdade para compor o personagem. Como foi o trabalho com o diretor?

    Jarkko Lahti: Como nós filmamos em película, nós não tínhamos muito tempo para repetir tomadas. Mas nós gravamos planos longos, planos de dois minutos ou mais e isso foi bom porque isso me permitia ficar no personagem. Não tínhamos pressa, eu pude ficar no personagem por um bom tempo. Nós não improvisamos, não diria isso, mas éramos livre para atuar como queríamos. Tínhamos uma ideia do significado e do objetivo da cena, mas dentro desses limites nós tínhamos bastante liberdade. Juho não me pedia para olhar para um lugar específico ou levantar a minha mão, por exemplo. Foi bom poder viver o personagem dentro de cada plano.

    Tendo visitado muitos países com o filme, você acha que as reações das pessoas ao redor do mundo são iguais às reações dos finlandeses?

    Jarkko Lahti: Basicamente, sim. Nosso filme trata de temas universais. No fim das contas, somos todos iguais, mas é claro que existem algumas diferenças na recepção. Na Europa, principalmente na França e na República Tcheca, no Festival de Karlovy Vary, acho que o público é mais sério, então o filme funciona como um drama. Em Toronto, aqui em São Paulo ou na Finlândia, o filme funcionou mais como uma comédia. Não exatamente uma comédia, mas acho que nesses lugares o público prestou mais atenção no humor da trama. 

    Considerando a fama de Olli Mäki na Finlândia, qual foi a reação do público em seu país?

    Jarkko Lathi: Graças a Deus, reagiram muito bem. Foi realmente empolgante ver o filme estrear na Finlândia após ser exibido em Cannes. Mas as reações mais importantes para mim foram as do próprio Olli e de Raija [esposa do boxeador, também retratada no filme]. Eles gostaram muito da minha interpretação e eu senti que realmente entenderam que o meu trabalho foi uma forma de homenagem. Nós nos tornamos bons amigos. Para mim, essas foram a reações mais importantes. As reações da comunidade de boxeadores da Finlândia também foram muito boas. Fiquei bastante aliviado com o retorno positivo.

    O filme foi escolhido pela Finlândia para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A campanha já começou?

    Jarkko Lathi: Sim, mas isso não tem muito a ver comigo, é mais relacionado com Juho e o nosso produtor, Jussi Rantamäki. Nós começamos a fazer a campanha no Festival de Toronto e de lá fomos para a Filadélfia e para Chicago, onde ganhamos o prêmio do festival na semana passada. Juho está em Los Angeles agora promovendo o filme. É tudo incrível, é um momento que só acontece uma vez na vida. Entendo perfeitamente que essa seja uma situação privilegiada, mas não consigo me levar tão a sério assim na minha própria vida. A minha vida é como uma tragicomédia e eu sou o protagonista. Eu rio bastante desse personagem.

    O que o Oscar representaria para esse filme e para o cinema finlandês? Vocês sentem alguma pressão?

    Jarkko Lahti: Não, não. A Finlândia só tem uma indicação ao Oscar com O Homem Sem Passado em 2002, de Aki Kaurismäki. Ter o nosso filme indicado ao prêmio, por si só, já seria histórico. Então, nós não estamos sofrendo nenhuma pressão. Nós estamos em uma ótima companhia com os outros indicados. A competição na arte é algo traiçoeiro. Eu não me importo em competir, mas a decisão é muito subjetiva. Quando você está em um alto nível, todos os filmes são bons. É uma questão do que você prefere e como o filme se coloca em relação ao mundo, como ele se comunica. Não estamos sendo pressionados, estamos empolgados.

     

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