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    Festival do Rio 2016: Júlio Andrade fala sobre “inconformidade” com sistema público de saúde, tema de Sob Pressão

    “Minha mulher é que sabe do que eu estou falando”.

    “Tesoura Metzembaum” não é um termo que você ouve todo dia por aí, na fila do cinema. Na boca de Júlio Andrade, no entanto, soa tão natural quando desejar “saúde” para uma pessoa que acaba de espirrar. Em entrevista ao AdoroCinema, o ator conta como foi a preparação para viver um médico em Sob Pressão, novo longa de Andrucha Waddington (Eu Tu Eles) que denuncia a situação precária da saúde pública no Brasil – e estreou na mostra competitiva (Première Brasil) do Festival do Rio.

    “No início, eles [os médicos] dão aquela segurança para o paciente, tratam com carinho. Depois, é uma coisa corriqueira. Essa mudança de estado me interessava [como ator]”, afirma o protagonista, que buscou “no olhar desses cirurgiões” o lado humano do Dr. Evandro, que interpreta.

    No filme, ele é o chefe de uma equipe que pratica “medicina de guerra”. Num “belo” dia, ele recebe, ao mesmo tempo, três baleados: um policial, um traficante e um menino filho de um jornalista influente, todos vítimas de um confronto ocorrido no morro perto do hospital onde trabalham. Com apenas dois centros cirúrgicos em funcionamento, ele tem que decidir quem operar primeiro.

    “O objetivo aqui era ser realista mesmo”, comenta o diretor, que escolheu uma ala desativada da Santa Casa de Misericórdia de Cascadura, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, como locação. “É uma obra de ficção, mas que é inspirada numa realidade nossa”, conceitua o cineasta. “Tem a questão da ética médica, da relação médico-paciente, médico-médico, da autoridade perante os médicos dentro de um território da medicina. Um policial não tem autoridade ali dentro, mas fora ele tem”, vai além, para concluir: “É uma questão urgente para trazer para o debate”.

    “O sistema cria condições tão adversas para você, que você quase que é expulso do sistema público de saúde. Você acaba adoecendo junto”, atesta o médico Marcio Maranhão, cujo livro “Sob Pressão – A rotina de um médico brasileiro” serviu de base para inspirar o roteiro – e que prestou consultoria para o longa-metragem.

    “Tinha um lado meu de denúncia, de crítica, de inconformidade com a questão que estava presente ali. Então, eu passei esses 18 dias de filmagem... fiquei meio mexido, balançado. Minha mulher é que sabe do que eu ou falando”, desabafa o ator.

    Candidato a “Rei” do Festival do Rio 2016, no elenco de três filmes selecionados para a mostra (além de Sob Pressão, Redemoinho e Elis – este último em esquema hors-concours), ele ainda informa que está creditado na fotografia do documentário Divinas Divas, de Leandra Leal. Parece que Júlio Andrade tem trabalhado tanto quanto os médicos que viram noites em plantões de hospitais precários.

    Sob Pressão tem estreia comercial agendada para o próximo dia 17 de novembro. Confira o trailer.

     

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