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    Festival de Brasília 2016: Precisamos falar sobre as mulheres

    Três filmes, três variações sobre temas urgentes.

    O que querem as mulheres? Esta complexa questão povoou boa parte da programação do segundo dia do Festival de Brasília, visto que três dos quatro longas exibidos abordavam questões pertinentes ao sexo feminino. Sempre sob o aspecto político, marca constante do evento, e também ressaltando a urgência dos temas nos dias atuais.

    Meu corpo, minhas regras

    Partindo da séria questão do aborto e do direito da mulher sobre o próprio corpo, o documentário Sexo, Pregações e Política entrega cenas impactantes envolvendo os bastidores da política. Repleto de questionamentos sobre a responsabilidade das mortes de mulheres em clínicas clandestinas, os diretores Aude Chevalier-BeaumelMichael Gimenez foram atrás da ala mais conservadora da política nacional, no intuito de desnudar preconceitos e táticas baseadas na fé e na ignorância alheias.

    Por mais que assuma de forma escancarada uma posição, Sexo, Pregações e Política desperta questionamentos importantes ao revelar o uso de espaços do Congresso Nacional para a realização de cultos religiosos, a presença de máquinas de cartões de crédito para recolher o dízimo em igrejas e ainda a questão da culpa católica sobre o próprio corpo, algo entranhado no inconsciente coletivo. Trata-se de uma análise contundente sobre o estado da política brasileira atual, especialmente em relação à existência de uma bancada mais conservadora no Legislativo.

    O que eles dizem

    Câmara de Espelhos parte de uma estrutura parecida com a de Jogo de Cena, dirigido por Eduardo Coutinho. Nele um grupo de sete homens é levado a um local fechado, rodeado por câmeras, onde assistem imagens pré-selecionadas de forma a gerar um debate sobre questões femininas.

    Por mais que seja bem intencionado, no intuito de desnudar preconceitos masculinos em relação ao modo de agir feminino, o documentário dirigido por Dea Ferraz possui problemas técnicos e de execução que prejudicam bastante o resultado final. A começar pela fragilidade dos códigos pré-definidos neste "jogo", que jamais ficam claros para o espectador, como acontece especialmente na figura do convidado coringa que, orientado pela direção, supostamente teria a função de incitar o debate mas, na prática, pouco participa. O súbito desaparecimento de integrantes de um dos grupos e o número excessivo de debatedores são outros complicadores, assim como falhas na captação de som que, em alguns momentos, impossibilitam a compreensão do que é dito.

    #meuprimeiroassedio

    Mais um documentário conceitual, só que bem melhor executado. A proposta de Precisamos Falar do Assédio é, de certa forma, simples. Um van foi colocada em alguns locais nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Isolada acusticamente, ela oferece às mulheres interessadas a oportunidade de falar sobre algum assédio que tenha sofrido na vida.

    Bastante doloroso, este longa-metragem da diretora Paula Sacchetta explora o ambiente de isolamento de forma a conseguir a liberdade necessária para que segredos íntimos venham à tona. Por mais que os relatos tenham sempre um tom de desabafo, eles refletem também não apenas a incredulidade diante do ocorrido e as consequências emocionais do ato, mas, especialmente, o preconceito arraigado na sociedade brasileira, seja ele de gênero ou de cor. É difícil não se sensibilizar em vários momentos.

    Por outro lado, trata-se também de um documentário bastante limitado se for analisado como cinema, já que se resume a repetir uma mesma estrutura, sem qualquer variante. Com isso, este longa de 80 minutos poderia também ter uma duração muito maior ou ainda ser um curta-metragem, sem grandes dificuldades.

    *O AdoroCinema viajou a convite do Festival de Brasília.

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