Enquanto, no Brasil, a Secretaria do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura (MinC) anunciava Pequeno Segredo como o postulante nacional a uma vaga na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro, no Canadá, o diretor Kleber Mendonça Filho acompanhava Sonia Braga em (mais) uma sessão de fotos para divulgar Aquarius, o até então favorito na disputa – e único longa majoritariamente brasileiro selecionado para o Toronto International Film Festival (TIFF) 2016.
O cineasta não ficou surpreso com a decisão: “Eu não quis tirar [a candidatura], porque eu queria testar o sistema até o final. Foi muito interessante como experiência, política e cultural. E o resultado é esse”, disse, ao final do “In Conversations With...” – programa em que a organização da mostra canadense convida personalidades de renome internacional para uma conversa intimista sobre a carreira – em homenagem à atriz brasileira, na noite dessa segunda-feira.
Sonia, que entreteu e dominou o pequeno, porém animado público, composto de muito brasileiros residentes na cidade, endossou a fala: “São vários candidatos, há uma comissão, eles escolheram um. A gente faz o filme para a audiência e estamos muito felizes com a carreira que ele tem feito. Ele me trouxe até aqui. Vocês estão aqui”.
Cara de Oscar
De acordo com reportagem do G1, Luiz Alberto Rodrigues foi o membro da comissão responsável por fazer o comunicado, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo: “A gente considerou essa hipótese: que filme teria maior potencial para seduzir o júri da Academia a escolher como concorrente a filme de língua estrangeira?”
Ao final do evento-homenagem, os jornalistas brasileiros perguntaram o que Kleber havia achado do argumento de que, traduzido para o bom português, Aquarius não teria “cara de Oscar”. A resposta: “Eu não sei o que é um filme ter uma cara de Oscar. Rocky, um Lutador, tem cara de Oscar? Crash [No Limite] tem cara de Oscar? O Tesouro de Sierra Madre tem cara de Oscar? Eu só acho que cada governo tem uma política de audiovisual estratégica. E talvez [essa] seja uma política muito correta para o nosso atual governo”.
O que não quer dizer que a produção nacional ainda não tenha lá suas chances em outras categorias da premiação de Hollywood. Embora negue que haja uma “estratégia” para tanto, o realizador lembra que “[O filme] Foi muito bem recebido na crítica internacional. Sonia está incrível. Então, naturalmente, sim, eu acho que ela pode ser considerada. E o distribuidor americano quer, sim, Sonia para o que estiver disponível para ela, [a categoria de] melhor atriz, claro. O ScreenDaily deu há dois dias atrás que ela e Isabelle [Huppert, por Elle] estariam como contenders [candidatas]. E a Natalie Portman por Jackie”.
“Tem muita coisa acontecendo com o filme”.
Kleber dá a entender, no entanto, que o lançamento internacional do filme é o protagonista da carreira de Aquarius neste momento. Amanhã, ele embarca para Paris (a estreia acontece dia 28 na França) e segue por outros países da Europa. Nos Estados Unidos, o release será em 14 de outubro – mas antes, a produção passa pelo prestigiado New York Film Festival, no início do mesmo mês.
“Tem muita coisa acontecendo com o filme. E o Oscar é mais uma. É claro que, culturalmente, se dá muita importância, mas a gente já meio que entendia como a coisa estava sendo feita”.
A lista final dos indicados da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood será divulgada em 24 de janeiro.
(E um adendo: Quando ouviu da reportagem do AdoroCinema o comentário feito pelo diretor de Pequeno Segredo, David Schürmann, de que “Aquarius é maravilhoso, mas é também muito Brasil”, Kleber riu, mas preferiu não comentar).