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    Carolina Dieckmann fala sobre atuar em espanhol e sobre cena de estupro em O Silêncio do Céu (Exclusivo)

    A atriz interpreta a vítima de uma agressão sexual que esconde de todos o trauma.

    Pedro Luque

    Destaque no 44º Festival de Cinema de Gramado, O Silêncio do Céu é um filme brasileiro surpreendente. Tudo começa com uma forte cena de estupro: Diana (Carolina Dieckmann) é atacada por dois homens dentro de sua própria casa. O marido Mario (Leonardo Sbaraglia) testemunha a cena, mas fica paralisado e não faz nada para impedi-la. Depois disso, nenhum dos dois comenta o ocorrido, e o silêncio começa a destruir o relacionamento.

    Carolina Dieckmann esteve presente no festival, junto do diretor Marco Dutra e da equipe, para apresentar o filme e conversar com os jornalistas. Como ela construiu uma personagem tão misteriosa? Quais foram as principais dificuldades neste projeto? Abaixo, você descobre nosso bate-papo com a atriz. O Silêncio do Céu estreia no cinema dia 22 de setembro.

    Pedro Luque

    Qual foi a sua reação ao ler o roteiro pela primeira vez?

    Carolina Dickemann: A partir do momento em que acaba a cena do estupro, o silêncio dela foi a coisa que me chamou mais atenção e que me deu mais vontade de fazer. Pensei que o resto do roteiro precisava ser muito ruim para eu não aceitar! Diana vai se tornando uma personagem cada vez mais interessante, porque o silêncio vai crescendo, e ela não compartilha aquilo com o marido. A tensão entre eles, aquela vida, aquela casa, são elementos muito interessantes. 

    Diana é muito misteriosa. Não se sabe sobre o passado dela. Você construiu toda a história pregressa da personagem?

    Carolina Dieckmann: Construí um pouco com o Marco [Dutra] e muito num trabalho que eu fiz de mesa com a minha professora de espanhol. Precisei realmente criar um repertório, um pano de fundo, para não ficar insegura na hora do set, para ficar livre lá. Tentei criar imagens, palavras e sons em espanhol, para na hora este olhar não ficar vazio. Você não sabe o que é: não é um olhar perdido, é um olhar conturbado, turbulento, cheio de coisas.

    Pedro Luque

    É uma interpretação minimalista, sem cenas de catarse. Como construiu esse tom com o Marco Dutra?

    Carolina Dieckmann: Foi uma preocupação enorme minha. Ontem fui jantar e a Andreia Horta [atriz de Elis] falou: “Carol, como você conseguiu falar um espanhol tão comedido? Porque a gente, quando fala espanhol, cria um sotaque.” Eu tinha uma preocupação muito grande de internalizar o espanhol para virar um traço meu, e não a língua falada por mim, mas eu me expressando enquanto Diana, como se fosse a minha língua do dia a dia. Não tem nenhum acento exagerado, não tem um comportamento afetado. Fiquei bem neurótica com isso.

    A dinâmica com Leonardo Sbaraglia é bastante convincente. Isso foi construído em ensaios?

    Carolina Dieckmann: Não muito, mas eu acho que a gente estava muito aberto um com o outro. Tivemos pouco tempo para ensaiar e conviver, então o que conseguimos construir realmente foi um fluxo energético, como se tivesse sido alimentado o tempo inteiro. A ideia era que a gente estivesse, embora distantes em cena, conectados pela história, em unidade. 

    Pedro Luque

    No cinema, você tem feito personagens muito diferentes daqueles da TV. Isso é uma escolha proposital?

    Carolina Dieckmann: É um misto de escolha e sorte. Ser convidada é uma sorte, não conto só com o meu desejo. Claro que os projetos que eu escolho fazer são aqueles que me faltam, sobre coisas que eu necessito falar e o que ainda não consegui falar. Conto com esses convites para poder fazer esse desejo se tornar realidade.

    O Silêncio do Céu tem uma mistura de gêneros muito grande. Como você define o filme?

    Carolina Dieckmann: O suspense é muito forte. A iminência de acontecer alguma coisa que às vezes acontece e às vezes não acontece traz uma temperatura de suspense. Ele tem um drama, uma situação que não pode ser modificada. Mas é muito difícil classificar. Também existe o romance. A gente está falando de um casamento, no qual existe o amor, e tem a tragédia também. Ainda tem o suspense que beira ao terror naquela cena do estupro.

    Pedro Luque

    Houve preparação ou pesquisa para a cena de estupro?

    Carolina Dieckmann: O meu trabalho foi estar disponível, sem nenhuma preocupação, nem com o corpo, nem com nada. O Marco [Dutra] teve muita preocupação comigo, o tempo inteiro. Ele vinha com um roupão, me cobria, me deixava segura. Em vários momentos ele chorou, ele vinha depois com o olho molhado, e isso me deu tranquilidade porque eu via que ele estava conectado. Para ele estava difícil também. Eu não era a única exposta. Ele, de alguma maneira, estava sendo responsável por aquilo. A equipe também foi protetora, me deixou segura.

    O que achou da reação do público em Gramado?

    Carolina Dieckmann: Estou vendo que hoje, passadas doze horas, as pessoas [na coletiva de imprensa com jornalistas e com o público de Gramado] ainda estão refletindo não só sobre o filme, mas sobre o que o filme causou, ou pensando sobre o que levou o Marco a fazer esse filme. Vejo que o filme marcou as pessoas.

     

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