Um dos principais nomes do Nuevo Cine Argentino que revelou na década de 1990 talentos como Lucrecia Martel, Pablo Trapero e Martín Rejtman, Daniel Burman anda muito ocupado, mesmo sem nenhum filme em desenvolvimento. O que ele está fazendo? Tomando o mesmo caminho que Woody Allen, David Fincher, Todd Haynes, Martin Scorsese, Steven Soderbergh e José Padilha seguiram recentemente: voltando-se para as séries.
Burman, que costuma contar histórias envolvendo um homem chamado Ariel, problemas familiares e judaísmo, foi homenageado na última quinta (25) em uma sessão do cineclube Joias do Riso, realizado no lendário Cine Joia, no Rio de Janeiro. Comédia não é exatamente o primeiro gênero que vem à mente ao pensarmos na filmografia do diretor - ainda que a graça sempre esteja presente -, porém, falando no inesperado, ele também não deve ter imaginado no início da carreira que um dia estaria em Copacabana recebendo calorosos aplausos brasileiros. "A verdade é que quando comecei a fazer cinema nunca pensei que daria tão certo e até hoje não sei como acabei fazendo tantos filmes", disse ele em entrevista exclusiva ao AdoroCinema.
Com uma dezena de longas no currículo - o último deles lançado em maio, O Décimo Homem - e um Urso de Prata do Festival de Berlim (por O Abraço Partido) na estante, Daniel está conhecendo melhor a televisão e trabalhando muito no Brasil. Grande aposta da Rede Globo na temporada, a série de terror Supermax estreia em setembro com assinatura de José Alvarenga Jr., mas uma versão internacional está sendo preparada por Burman com Santiago Segura, Cecilia Roth, César Troncoso, Rubén Cortada e Laura Neiva no elenco.
"É um projeto bastante inovador e muito provocador que gosto de chamar de 'transgênero', pois mistura variados gêneros. Trata-se de um desafio novo para mim e tem me dado muito prazer. É a primeira vez que me envolvo em um projeto televisivo tão grande e pude fazer coisas que nunca havia feito em meus filmes, exercitar outras habilidades".
Showrunner estreante em Supermax, ele avança rápido na nova carreira com outra responsabilidade gigante sobre os ombros: comandar a primeira produção argentina da Netflix. A série com ares de thriller, chamada Edha, vai acompanhar uma jovem mãe solteira que trabalha na indústria da moda de Buenos Aires e se envolve com um modelo imigrante. Segundo ele a pré-produção já está a pleno vapor, "num momento de intenso trabalho criativo", o elenco ainda não foi definido e a estreia será em 2017. E a vida de showrunner, será melhor que a de cineasta? "É um cargo que me entretém muito, pois reúne responsabilidades artísticas e criativas, mas também lida bastante com a produção e com a ação em tempo real. Acho que é a ocupação em que me sinto mais confortável". Tão confortável a ponto de abrir mão da sétima arte? "Vou fazendo o que consigo, me interessa manter as duas frentes [cinema e TV], porém acredito que pelos próximos anos vou ter muito o que fazer na televisão..."
Sem projetos cinematográficos no horizonte, o argentino fã de Carandiru se diz completamente focado no grande volume de trabalho das duas séries, cansado e feliz. Por que ele faz audiovisual? "Não podia fazer outra coisa, é o que dá sentido para minha vida."