Está chegando nas lojas os aguardados DVD e Blu-Ray de Capitão América: Guerra Civil, repletos de cenas inéditas e materiais extras para os fãs da Marvel. O AdoroCinema aproveitou a oportunidade para conversar com duas pessoas muito importantes para o filme, mas que costumam ficar longe dos holofotes: Dan DeLeeuw, diretor de efeitos especiais, e James Young, coordenador das cenas de luta.
Como alguém consegue um cargo como desses? Quais foram os momentos mais difíceis do filme? De que modo a tecnologia tem mudado o trabalho deles? Resposta a seguir:
Entrevista com Dan DeLeeuw, diretor de efeitos especiais de Capitão América: Guerra Civil
Como você se tornou diretor de efeitos visuais em uma produção como Capitão América?
D DL: Trabalhar com efeitos visuais sempre foi algo que eu queria fazer. Quando estava no Ensino Médio, eu construía maquetes e quando chegava o Dia da Independência eu tentava explodi-las como nos filmes que gostava de assistir. Quando cresci, a computação gráfica surgiu e eu me interessei, então estudei ciência da computação na faculdade. Comecei a trabalhar numa empresa chamada Dream Quest, o que foi ótimo porque eles faziam muitos dos efeitos dos filmes com os quais cresci. Quando entrei pude fazer um pouco de cada disciplina - composição, animação, letreiros... Aprendi isso tudo cedo, então eu sabia bem o que cada peça fazia.
Assim é possível criar em diferentes aspectos da produção. Eu me tornei supervisor digital e trilhei meu caminho. Quando você se torna conhecido, quando sabem do que você é capaz, te oferecem trabalhos como supervisor. Com a Marvel, quando estavam fazendo Homem de Ferro 3, eu trabalhei na segunda unidade. Os irmãos Russo se interessaram pelo meu trabalho lá e me chamaram para uma entrevista. A gente se deu bem, então eu fiz Capitão América: O Soldado Invernal e Guerra Civil depois.
Quais foram as principais mudanças na computação gráfica nos últimos dez anos?
D DL: Todas as técnicas mudaram completamente. [...] A película domina muito menos a indústria, quase tudo agora é digital. De repente somos capazes de criar sequências inteiras em computação gráfica, ou mesmo personagens. Quando começou a gente mal dava para completar a cena de um torpedo direito. Agora dá para fazer um aeroporto inteiro com mais de dez pessoas destruindo-o.
No desenvolvimento tecnológico, as pessoas estão mais interessadas em realismo ou dinamismo? Qual é a meta final?
D DL: As técnicas estão amadurecendo. A vida real é complexa, e estamos trabalhando cada vez mais para colocar essa complexidade. Anos atrás nós sabíamos criar iluminação no computador, mas era caro demais para fazer, e demorava demais. Hoje os computadores já têm capacidade de fazer os cálculos complexos para a luz, e podemos criar personagens. A complexidade do movimento é algo que vem fazendo falta nos últimos anos. No futuro nós vamos ser capazes de colocar todos os detalhes em rostos, tudo para fazer com que nosso trabalho saia do reino do inacreditável.
Qual foi a cena mais difícil de Capitão América: Guerra Civil?
D DL: Acho que foi a cena do aeroporto. A escala, o tamanho... Nós filmamos em Atlanta. Escaneamos o aeroporto na Alemanha e recriamos lá. Trabalhar com os heróis, com o fundo de computação gráfica... É algo que já tínhamos feito, mas não nessa escala. É uma sequência inteira de destruição em um aeroporto.
Qual é a importância de ter um bom diretor para o chefe de efeitos visuais? Como o diretor ou os atores podem influenciar o seu trabalho?
D DL: O trabalho com os diretores é muito importante. Precisamos ter as mesmas sensibilidades, sermos inspirados pelos mesmos filmes, poder entender o que eles querem, e os Russo são ótimos para isso, eu adoro trabalhar com eles. Para inventar as cenas e tentar executá-las num filme como esse é necessário entrosamento, ou as coisas não vão dar certo.
E com os atores, alguém como Chris Evans, por exemplo, que foi o Capitão América em tantos filmes... Ele arremessa aquele escudo e em boa parte das tomadas é um escudo de computação gráfica. Ele tem uma habilidade incrível de sempre saber onde está o escudo digital, e saber para onde olhar. Quando está entrando na cena ele tem um escudo de verdade, e aí quando começa a luta ele se torna digital, e é muito louco, porque ele sempre sabe onde pegar, e quanto se esticar para pegar, o timing, se o escudo quica na parede antes de voltar para ele, enfim. Ele tem essa habilidade única. É uma das coisas que nos ajuda a acreditar nos superpoderes do Capitão América.
Na hora de trabalhar com uma adaptação de quadrinhos, você costuma voltar para o material original para tentar reproduzir o mesmo estilo?
D DL: O legal de se trabalhar com a Marvel é que todo mundo espera que você esteja com os quadrinhos na mão. Alguns são mais nerd que outros, mas com certeza nós voltamos e tentamos usar os quadrinhos como parte da inspiração para o trabalho. Procuramos imagens e ângulos interessantes e mandamos para os animadores como inspiração. [...] O Homem-Formiga na flecha do Gavião Arqueiro é algo que já tinha sido feito nos quadrinhos, por exemplo. Aquela cena no final, quando o Homem de Ferro ataca o Capitão e seus raios batem no escudo foi retirada diretamente da Guerra Civil dos quadrinhos. Era o plano de fundo do meu computador, e um dia o Joe Russo me mandou o quadro por correio e falou "Temos que fazer isso" e eu respondi "É claro!", então colocamos na história.
Entrevista com James Young, coreógrafo das cenas de ação de Capitão América: Guerra Civil
Como alguém se torna o coordenador de lutas num filme como Capitão América?
JY: Eu sempre amei lutas. Jackie Chan, Jet Li, Bruce Lee... A luta sempre esteve na minha vida. Então a luta era o aspecto que mais me interessava no cinema. Um dia recebi uma ligação da produção do Capitão América e foi assim.
Você era fã dos quadrinhos? Tentou reproduzir as lutas dos quadrinhos no filme?
JY: Com certeza, desde que eu era criança. Cresci lendo Homem-Aranha, Demolidor, Capitão América... Adoro graphic novels. Em Capitão América: Guerra Civil, sempre voltávamos para os quadrinhos, para o material original, para saber o que os personagens eram de verdade. Desde a primeira história queríamos os personagens que as pessoas amam. Relemos a Guerra Civil.
Como seu trabalho é influenciado pela necessidade de efeitos especiais?
JY: Nós não queríamos usar muitos efeitos especiais. Queríamos que as pessoas acreditassem nas lutas, com o impacto das coisas batendo no chão. A intenção era que o público reagisse ao impacto dessas colisões reais. Então conversamos com a equipe de efeitos especiais sobre com cada equipe se envolveria.
E a interação com atores e dublês? Quanto tempo de treinamento é necessário antes das gravações?
JY: Mais ou menos seis ou sete semanas com a equipe de dublês. Para os atores, depende do cronograma. Normalmente eles entram em treino para ficar em forma. Treinamos para cenas de luta com mais ou menos uma semana de antecedência.
Quais foram as cenas mais difíceis de trabalhar em Capitão América: Guerra Civil?
JY: A batalha do aeroporto. Não só do ponto de vista do design, mas do ponto de vista criativo. Você tem tantos super-heróis juntos, e cada um com um movimento próprio. Passamos meses trabalhando nessa cena, pra cada um ter um momento heróico. Todos eles possuem uma função importante na batalha.
Você percebeu mudanças no jeito que o seu trabalho é feito ao longo dos anos?
JY: Com certeza. O fato de que a gente pode gravar uma prévia do que a luta vai ser, por exemplo, para ver o que funciona ou não. É uma indústria que sempre está aprendendo. A ação sempre muda, então eu tento me manter atualizado com o que as pessoas gostam.