Já está em cartaz nos cinemas brasileiros o filme de terror Quando as Luzes se Apagam, primeira experiência do sueco David F. Sandberg na direção de longas-metragens. Ele chamou a atenção do grande produtor James Wan (Invocação do Mal, Sobrenatural) graças ao curta-metragem Lights Out, que venceu um festival de gênero e se tornou fenômeno na Internet. Depois disso, foi contratado para expandir o conceito do curta em Hollywood.
Mas como um cineasta pouco experiente consegue uma oportunidade dessas? Como se desenvolve um filme de menos de três minutos num longa-metragem? Por que Sandberg escolheu usar pouquíssimos efeitos especiais, e por que fez um raro filme de terror permitido aos menores de idade?
O AdoroCinema viajou a Los Angeles, a convite da Warner Bros. Brasil, para conversar com Sandberg e sua esposa, a atriz Lotta Losten, sobre este curioso projeto:
Novatos em Hollywood
David F. Sandberg: Hollywood não é um lugar assustador. É um pouco estranho, mas foi uma questão de se adaptar ao processo de realizar filmes aqui. Encontrei algumas coisas esquisitas, por exemplo com Annabelle 2. Antes mesmo de termos um roteiro pronto para a sequência, uma data de lançamento já havia sido marcada. Terminamos um filme e já pulamos para o próximo.
Lotta Losten: O elenco de Quando As Luzes se Apagam foi escolhido tardiamente, não houve tempo para realizar ensaios e nós achávamos que teríamos esse tempo. Não sabíamos que era assim.
David F. Sandberg: Tudo parece ser produzido muito rapidamente, meio que em cima da hora, mas o produto final acaba sendo bom de qualquer forma.
Do curta no YouTube ao longa em Hollywood
David F. Sandberg: Isso já aconteceu anteriormente com Mama, um curta-metragem espanhol que foi expandido para um longa-metragem. Fede Alvarez, diretor do remake de A Morte do Demônio, também ficou conhecido por causa de um curta-metragem seu disponível no Youtube. Eu já vi isso acontecer muitas vezes anteriormente e acho que é uma ferramenta incrível, que te permite fazer algo por si próprio.
No meu caso, tudo começou quando nós passamos a receber muitos e-mails e ligações de inúmeros produtores de Hollywood. Foi surpreendente porque o curta só tem dois minutos e meio, não achávamos que era o suficiente para fazer um filme. Mas, todos os produtores e os estúdios nos contataram. Eu tive que fazer uma planilha só para saber quem era quem. Eu ficava no telefone durante a noite inteira. Eu tive que pesquisar as contas das pessoas no IMdB para saber com quem eu estava falando.
Um dos primeiros produtores de quem eu realmente gostei foi Lawrence Grey porque ele parecia ter realmente gostado do curta-metragem. Quando ele disse que conhecia James Wan e que estava falando com ele sobre um trabalho em conjunto, disse que poderia ser o nosso projeto. James já tinha visto o curta na internet e tinha gostado, mas não sabia se havia material o suficiente.
Então, escrevi um primeiro tratamento da trama que queria contar. Lawrence enviou para James e ele aceitou fazer parte do projeto, ele viu potencial. Lawrence nos trouxe para cá para uma reunião com James e como ele já tinha uma boa relação com a New Line e com a Warner, os estúdios também entraram a bordo. Tudo deu certo e deu certo muito rapidamente. Todos me disseram para não me acostumar com isso. Isso não acontece com frequência.
Desenvolvendo a ideia
David F. Sandberg: Foi realmente baseado no fato de apagar as luzes em casa, de noite, achar que você viu algo e acender as luzes novamente para conferir. Eu pensei: e se realmente houver algo lá quando você acende as luzes? Lotta e eu sempre pensávamos em como fazer filmes cujos roteiros precisassem apenas de uma pessoa e de um apartamento.
Lotta Losten: Toda vez que eu ia ao banheiro no meio da noite, eu sentia como se tivesse alguém lá. A partir disso, nós começamos a construir a ideia, algo bem simples.
David F. Sandberg: Eu queria mostrar o menos possível, mas eu sentia que precisávamos mostrar, ao menos, algo dela, algo para satisfazer o público. Mas, no geral, eu queria mostrar pouca coisa: as coisas que você não vê são mais assustadoras que qualquer outra coisa.
Escolha do elenco
David F. Sandberg: A ideia de escolher Teresa Palmer partiu de James Wan, na verdade. Eu vi Meu Namorado é Um Zumbi, mas não conhecia outros trabalhos dela. Foi uma sugestão de James. Eu me reuni com Teresa e ela pareceu ser a escolha perfeita. Quanto à Maria Bello, eu sempre fui um fã do trabalho dela. Eu fiquei muito feliz por ela ter aceitado o convite para participar do filme. É como Lotta disse: tudo aconteceu muito rápido e tudo foi produzido de última hora. Maria assinou o contrato com as gravações praticamente iniciadas. A primeira vez em que a encontrei foi quando estávamos prestes a gravar a primeira cena dela. "Prazer em te conhecer, ação".
Lotta Losten: E essa é uma das cenas mais emocionantes do filme, então todo mundo conseguia sentir a tensão. A equipe não sabia se ia funcionar, Maria e David não se conheciam. É a cena do bilhete [quando a mãe transmite ao filho pequeno um bilhete, pedindo ajuda]. Foi muito emocionante e os dois filmaram uma cena incrível. Depois da filmagem, você podia ouvir o espanto das pessoas porque tudo correu bem.
Um monstro sem efeitos especiais
David F. Sandberg: Quando você tem personagens desenhados com efeitos digitais, principalmente em filmes de terror, fica fácil ver que o personagem não estava lá de fato durante as filmagens. Então, é mais assustador ter uma atriz de verdade, ajuda bastante ter uma presença física. Além disso, foi ótimo para os atores interagir, de fato, com o que o público veria no produto final.
Nós tínhamos a ideia de escalar uma atriz para interpretar Diana e uma dublê para todos os momentos em que precisássemos de acrobacias. Então, escalamos Alicia Vela-Bailey, de início, para ser dublê, mas como ela é uma dançarina e tem um controle total sobre o corpo, decidimos escalar Alicia para interpretar Diana, principalmente depois de ela me mostrar as coisas que conseguia fazer. Ela ficou perfeita no papel e agora está escalada para Annabelle 2 também.
Terror permitido aos menores de idade
David F. Sandberg: Não fizemos isso por causa da classificação, fizemos isso por causa do meu estilo. Meu curta também não seria para maiores de dezoito anos porque é um filme mais de suspense do que terror. Não foi uma decisão consciente, foi algo que aconteceu. Existem outros filmes de terror para maiores de doze anos, como O Chamado. Mas quando nós classificamos o nosso filme como um filme para maiores de doze anos, eu fiquei um pouco receoso quanto à reação dos fãs de filme de terror porque há um estigma de que filmes para maiores de doze anos não podem ser assustadores. Mas se você não tiver sangue...
Lotta Losten: Ou nudez.
David F. Sandberg: Nós adicionamos uma cena mais forte posteriormente porque os produtores queriam um pouco de sangue.
Fãs de terror
David F. Sandberg: Eu gosto muito de O Iluminado, mas também gosto muito de filmes de terror e de ficção científica como Alien e O Enigma de Outro Mundo.
Lotta Losten: Eu prefiro os suspenses. Adoro Se7en. David foi quem me trouxe para o mundo dos filmes de terror. Eu costumava atuar em peças de teatro, fazer comédias e dramas. Foi o interesse dele no gênero que me atraiu para o mundo do terror. Percebi que comédia e terror são dois gêneros muito similares porque ambos provocam uma reação instintiva do público.
David F. Sandberg: O ritmo é muito importante também. No curta, eu queria utilizar o interruptor apenas quando fosse necessário. Você pensa que algo vai acontecer, mas ainda não, até que acontece.
Lotta Losten: Quando eu coloco o papel sobre o interruptor, eu olho por cima do meu ombro com uma reação um tanto quanto cômica, algo como "Fique aí, não se aproxime". Isso é algo que está no filme também. Há uma comédia no filme e a mistura de comédia e terror é ótima.