Está chegando aos cinemas um novo filme de terror produzido por James Wan (Invocação do Mal, Sobrenatural)! Quando as Luzes se Apagam apresenta uma família aterrorizada pela figura de uma mulher que só aparece no escuro. Mas de onde vem esta criatura? Como combatê-la?
O AdoroCinema viajou até Los Angeles, a convite da Warner Bros. Brasil, e conversou com todo o elenco sobre a produção. Abaixo, você descobre nossa conversa exclusiva com a talentosa Maria Bello, que interpreta uma mãe à beira do colapso, por causa da relação muito particular que possui com a criatura maligna em sua casa. A atriz teve uma de suas primeiras experiências em filmes de terror. Para a nossa surpresa, ela nem mesmo é fã do gênero!
Descubra o que Bello tem a dizer sobre terror, realismo no cinema de gênero e feminismo em Hollywood:
Fã de filmes de terror?
Maria Bello: Eu não gosto particularmente do gênero e acho que o último que vi foi O Exorcista, quando era pequena. Fiquei muito assustada com aquela cabeça girando, com o vômito e, desde então, não vi muitos filmes de terror. O meu filho gosta bastante, ele tem 15 anos. Eu entendo porque a maioria das pessoas gosta de filmes de terror. Nós vivemos nossas vidas seguindo uma linha reta, com alguns altos e baixos e nós somos atraídos pelos filmes de terror. É quase como se você estivesse chapado, especialmente quando você vê o filme no cinema junto com um monte de gente que está sentindo as mesmas emoções que você. Acho que é por isso que as pessoas gostam tanto, especialmente os jovens.
Tirando a parte do terror, você percebe que esse é um bom filme de drama, sobre uma família lidando com doenças mentais. Os personagens são muito bem desenhados e as relações entre eles tornam o filme um estudo de personagens muito interessante.
Terror realista
Maria Bello: Queríamos manter tudo o mais realista possível. Sophie é uma mulher em depressão, ela está sem os medicamentos, está à beira de um colapso esquizofrênico e não entende tudo o que está acontecendo. Adoro as interações dela com a personagem de Teresa. Logo nas primeiras cenas com as duas, você compreende o passado das personagens e consegue entender porque Rebecca quer ficar sozinha, sem se aproximar de ninguém, sem tomar conta de ninguém. Ela passou a vida inteira cuidando da mãe, e cresceu num ambiente difícil. Para mim, interpretar esse tipo de relação de uma maneira realista, nada exagerada, foi muito importante.
Filmagem assustadora?
Maria Bello: Quando você está em um set, seja em uma comédia romântica ou em um filme de terror, às vezes você olha para cima e vê um cara de shorts, coçando as partes íntimas e bebendo uma Coca-Cola. Isso te faz dizer: "Ok, estou em um set de filmagem". Isso acontece em qualquer produção, e o monstro não é tão assustador assim ao vivo. Há uma cena que as pessoas dizem ser a mais assustadora do filme, quando a minha personagem é atacada por Diana. Nós tivemos que repetir essa cena 20 ou 30 vezes até acertar o ângulo certo do pulo de Diana. Começávamos a filmar e logo David gritava "Corta!". Movíamos a câmera de lugar e recomeçávamos. No fim das contas, eu estava me esforçando muito para parecer assustada.
Trabalhando em vários gêneros
Maria Bello: Para mim, participar de um projeto é sobre o personagem que vou interpretar e sobre a equipe que está ao meu redor. O gênero não importa. Não importa se é para a televisão ou se é para o cinema. No momento, eu estou filmando uma série para a Amazon, criada por David E. Kelley e também estrelada por Billy Bob Thornton e William Hurt. Ela se chama Goliath e acho que será lançada em breve. Participar de um projeto com um elenco desses e com um roteiro escrito por David E. Kelley é uma chance imperdível. Foi o mesmo com este filme.
Eu não rejeito o convite para participar de um filme porque ele é independente ou porque tem um diretor de primeira viagem. Se o papel é bom, se a equipe é boa, eu aceito o papel. Atualmente, tenho me aventurado mais na área da produção. The Journey is the Destination, um filme no qual eu fiz a produção executiva, foi selecionado para o Festival de Toronto e também estou produzindo um novo filme, de ação e aventura, ao lado de Viola Davis e da produtora dela. Faremos o anúncio do filme em breve. Estou interessada em produzir filmes com mulheres fortes tanto à frente quanto atrás das câmeras.
Mulheres no poder
Maria Bello: Um filme liderado por mulheres não é sobre personagens que falam o tempo todo sobre homens. Ao mesmo tempo, um filme liderado por mulheres não é um filme que grita para chamar sua atenção para o fato de que é um filme liderado por mulheres. Este é um filme de terror e os personagens principais são duas mulheres muito fortes. É incrível. Assim como também é incrível o que o novo Caça-Fantasmas fez.
Há uma verdadeira mudança no jogo em termos de igualdade de gênero em Hollywood, tanto à frente quanto atrás das câmeras. No fim das contas, apesar do preconceito de gênero, isso é um negócio e fazer filmes estrelados por mulheres é um bom negócio porque mais da metade do público de cinema e de televisão são mulheres. É apenas lógico que nós contemos cada vez mais histórias em que a mulher é a protagonista e não mais uma mera coadjuvante.
Conseguindo papéis depois dos 40
Maria Bello: Eu me sinto muito feliz pelo fato de que a minha carreira só melhora, cada vez mais eu recebo papeis interessantes para interpretar. Acredito que existam algumas razões para isso. A primeira delas é que eu tenho 49 anos e não tento parecer que tenho 20. Ouço pessoas de 49 anos reclamando que não conseguem papeis, mas talvez fosse diferente se elas não tivessem estragado seus rostos para tentar parecer que têm 25 anos. Outra razão é a escolha dos papeis, é o fato de que eu sou atraída por papeis mais complexos do que papeis que são simplesmente papeis coadjuvantes e que dão muito dinheiro. Isso não é ruim, não tem problema fazer isso de vez em quando, mas a escolha de papeis também é um fator importante.
Mulheres no Oscar e na indústria
Maria Bello: Acho que a Academia do Oscar avançou muito neste ano ao incluir mais diversidade dentro da associação, ao incluir mais mulheres e mais pessoas não-caucasianas. É uma situação muito complicada porque boa parte dos membros da Academia trabalhou na indústria durante vinte anos, enquanto os membros mais jovens acabam tendo um voto de menor peso por causa da falta de experiência. Então, quanto maior for a diversidade dentro da Academia, melhor ela será. Se a Academia não continuar nesse processo de inclusão, acredito que se tornará obsoleta.
No Sundance Institute, nós temos debatido bastante sobre a participação das mulheres no cinema. Segundo uma pesquisa que realizamos, só 4% dos maiores filmes de Hollywood foram dirigidos por mulheres. Grande parte das diretoras que apresentam seus filmes em festivais, filmes que são muito elogiados pela crítica, acabam não conseguindo trabalho na indústria. Enquanto isso, os homens que participam de festivais conseguem dirigir um longa-metragem logo após apresentarem um curta-metragem.
Há um preconceito quase inconsciente que estamos tentando destruir. Nós visitamos estúdios e dizemos coisas simples como "Vocês sabiam que só 30% dos figurantes são mulheres?" e eles sempre nos perguntam se estamos falando sério. Então, o problema não é que as pessoas odeiam as mulheres, elas simplesmente não reconhecem o problema, é algo inconsciente e agora estamos começando a trazer o problema à tona.