Talvez você conheça Teresa Palmer de filmes leves como o romance A Escolha ou a comédia Meu Namorado é um Zumbi. Mas agora a atriz australiana se aventura pelo terror sobrenatural em Quando as Luzes se Apagam, história de uma família atormentada por uma criatura estranha, que ataca apenas no escuro. Quando os irmãos Rebecca (Palmer) e Martin (Gabriel Bateman) começam a investigar o caso, com a ajuda do namorado dela, Bret (Alexander DiPersia), descobrem que o fenômeno está ligado a um trauma no passado da mãe (Maria Bello).
O AdoroCinema viajou até Los Angeles, a convite da Warner Bros. Brasil, para assistir ao filme em pré-estreia e conversar com o elenco. Quando as Luzes se Apagam estreia no Brasil dia 18 de agosto.
Abaixo, você descobre o bate-papo com Teresa Palmer e Alexander DiPersia, que discutem seus próprios medos e o desenvolvimento dos personagens:
Do curta ao longa
Teresa Palmer: Eu não estava familiarizada com o curta-metragem Lights Out [no qual Quando as Luzes se Apagam é baseado] até conhecer o produtor e o diretor do filme e começarmos a falar sobre o curta. Eu lembro que na mesma noite, decidi ver o filme. Estava sozinha, dez horas da noite e depois de um minuto assistindo ao curta, eu disse: "Não, não vou ver esse filme agora!". Então, no dia seguinte, com o meu marido ao meu lado no sofá, eu terminei de assistir. Lembro que assim que acabamos de assistir, ele se virou para mim e disse que eu tinha que fazer parte do filme. Foi incrível.
Alexander DiPersia: Comigo foi a mesma coisa. Eu não conhecia o curta até ler o roteiro. Quando você vê o curta-metragem, percebe que ele é ótimo desde a sequência inicial. Não tive como recusar. É um conceito aparentemente simples que foi executado de maneira brilhante no curta, e que David conseguiu adaptar para um longa-metragem.
Filme de terror com crianças
Alexander DiPersia: Eu e Teresa gostamos muito de Gabriel Bateman [ator mirim que interpreta Martin] e sempre que podíamos, nós checávamos para ver se estava tudo bem com ele, se não estava com medo.
Teresa Palmer: Foi um desafio para ele. Para interpretar o personagem de maneira realista, tenho certeza que ele teve que descobrir e acessar certas emoções desconfortáveis. Então, como acabei de me tornar mãe de um menino recentemente, vi o meu filho várias vezes nele e tentei ajudá-lo, sempre checando para ver se ele estava bem emocionalmente, para saber como ele estava se sentindo sobre uma determinada cena, para saber se ele queria conversar sobre alguma coisa. Adorei poder fazer isso. Acho que em certos momentos todos ficamos um pouco desconfortáveis porque a casa onde filmamos era bastante assustadora.
Alexander DiPersia: Sim, muito assustadora. Estava sempre escura, ela foi coberta com panos para não passar nenhuma luz.. Nós estávamos no escuro o tempo inteiro e precisávamos sempre de uma lanterna para andar por lá. A equipe criou um ambiente sombrio o tempo inteiro, então acabamos ficando um pouco nervosos. Foi inquietante.
Teresa Palmer: Todos estávamos muito ansiosos para terminar as cenas e sair da casa.
Roqueiros de bom coração
Alexander DiPersia: Não se pode julgar um livro pela capa. Nós moramos em Los Angeles, então vemos pessoas vestidas de maneira estranha o tempo inteiro ao andar na rua. Cabelos coloridos, piercings no rosto inteiro. Mas isso nem sempre diz quem a pessoa é. No filme, conseguimos enxergar além do exterior dos personagens.
Teresa Palmer: Apesar de Rebecca usar esse figurino todo preto e ter imagens de caveiras nas paredes, essas coisas funcionam como uma dica sobre a vulnerabilidade dela. No fundo, ela é só uma mulher buscando um pouco de aceitação, conexão, buscando um lar. Sua infância foi prejudicada. O fato de sua mãe ter uma doença mental severa impactou sua infância. Então, ter essa entidade que vem à sua caça... Como resultado desse passado difícil, ela gosta de manter as pessoas afastadas. É muito bacana ver essa jornada, ver onde ela começa e como ela termina o filme.
Alexander DiPersia: Conforme a história avança, Bret entende um pouco mais. De início ele acredita que Rebecca o quer manter afastado, mas logo ele entende que ela teve uma infância muito difícil.
Teresa Palmer: Sempre que falamos sobre coisas sobrenaturais, acho que lidamos com esse tipo de dúvida. Todo mundo que ouve uma história de fantasma logo se pergunta: isso realmente aconteceu? A ideia da existência de fantasmas e de fatos sobrenaturais não é aceita por todo mundo.
Identificação com os personagens
Teresa Palmer: Tirando a entidade do filme, eu tive uma relação muito parecida com a minha própria mãe. Sou filha única, minha mãe sofria de uma doença mental, então pude traçar muitos paralelos entre a minha personagem e a minha experiência de vida. Precisei confrontar essas coisas, fiquei muito vulnerável, mas foi incrível porque Maria Bello está fantástica em seu papel, é uma atuação muito realista. Foi maravilhoso poder explorar essa dinâmica e como eu consegui me relacionar com isso, interpretar minha personagem, no contexto do filme, foi relativamente fácil para mim. Obviamente, eu nunca tive muitas experiências sobrenaturais.
Alexander DiPersia: Nós dois tivemos pessoas em nossas famílias ou amigos que sofrem ou sofriam de doenças mentais, então estar próximo disso foi quase terapêutico mesmo. Maria interpretou de maneira tão perfeita, tão precisa, sem exageros ou faltas, que ficou fácil acreditar que esse fantasma talvez fizesse parte de sua vida de verdade.
Teresa Palmer: Além da esquizofrenia, há uma psicose e uma confusão na personagem, algo que a retira da realidade e a coloca em um estado irracional. Eu conseguia ler esse tipo de coisa no rosto dela, dava para perceber os momentos de lucidez e o estado irracional. Eu conseguia ver isso também nos movimentos que ela fazia com seus dedos. Ela movia muito os dedos e isso é algo que pessoas com esquizofrenia fazem, eu testemunhei esse tipo de coisa.
Trabalhar com um diretor estreante
Alexander DiPersia: Foi espetacular ver a transição de David F. Sandberg de um homem que fazia vídeos para o YouTube no seu computador para um diretor que trabalha em um set com centenas de pessoas, que trabalha para um grande estúdio. O processo foi incrível para todos nós, foi algo cooperativo. Ele nos ouvia, ouvia os produtores, todos trabalharam juntos de certa forma.
Teresa Palmer: Foi divertido. Às vezes eu perguntava como ele estava e ele me dizia, com calma, que estava um pouco estressado, com uma cara meio triste, e eu ficava "Isso é quando você estressado?". Quando contei essa história para o Alex, nós rimos muito. Não dava para perceber se ele estava estressado ou não.
Alexander DiPersia: Ele é muito calmo. Ele dizia: "Ok, é o suficiente, vamos para a próxima cena". Perguntávamos se ele estava falando sério e ele respondia, calmamente, que sim.
Teresa Palmer: Ele é provavelmente o diretor mais calmo com quem já trabalhei.
Alexander DiPersia: Ele nunca gritou com ninguém no set.
Teresa Palmer: Nunca. Eu acho que ele sequer tem a habilidade de gritar com alguém. Ele é uma alma muito gentil.