Se a mostra competitiva do Festival de Cannes tem sido bastante irregular, com poucos grandes filmes e muitas decepções, fato é que, até o momento, nada havia alcançado o nível de bomba indiscutível. Hoje, Sean Penn chegou com seu novo filme e rapidamente assumiu este posto.
The Last Face, seu novo trabalho como diretor, é incrivelmente ruim. Estrelado por Charlize Theron e Javier Bardem, trata-se de um libelo por melhores condições de vida na África e também para que os demais países, da Europa principalmente, tratem melhor os refugiados. Tudo muito bonito e digno de aplausos, se o diretor não tivesse assumido de forma escancarada o viés do clichê e do preconceito diante do continente africano.
Sem o menor interesse em compreender a realidade local, como fez o emblemático Beasts of No Nation, Penn opta pela visão do "estrangeiro branco dedicado a salvar a África de seus males", custe o que custar. Os habitantes locais ora são selvagens bárbaros, ora o perfil típico do "bom africano", de camisa social limpa e educação impecável. Não há meio termo entre eles.
Bastante violento, de forma a ressaltar a barbárie existente, The Last Face ainda traz um romance insípido entre seus protagonistas, recheado de diálogos redundantes. Foi quando, impressionado com a má qualidade do filme, o público passou a ridicularizar o longa-metragem a cada novo diálogo tosco, com risadas e aplausos sarcásticos.
Ao término da sessão, a esperada vaia não tardou. Vale lembrar que este é o terceiro filme da mostra competitiva vaiado neste ano, após Personal Shopper e The Neon Demon. Juste la Fin du Monde também teve algumas vaias, apesar dos aplausos terem sido mais intensos.
Ainda não há previsão para o lançamento de The Last Face nos cinemas brasileiros.