Aconteceu de novo. Em 2013, Nicolas Winding Refn chegava a Cannes rodeado de badalação graças ao sucesso de seu filme anterior, o premiado Drive. O público, implacável, vaiou intensamente Apenas Deus Perdoa - que sequer estreou no circuito cinematográfico brasileiro, sendo apenas exibido no Festival do Rio.
Três anos mais tarde, Refn - ou NWR, sua atual assinatura - retornou à mostra competitiva, com The Neon Demon. E, mais uma vez, o público vaiou ao término da sessão.
De certa forma, há semelhanças entre Apenas Deus Perdoa e The Neon Demon. A preferência em estabelecer a estética das sequências em detrimento da história é a mesma, assim como o abandono de elementos narrativos estabelecidos anteriormente. Ambos os filmes também trazem um ritmo lento e de poucos diálogos.
Desta vez, Refn está interessado em estabelecer e criticar o vazio existente no mundo das modelos, com sua perseguição incessante pela juventude e beleza. Tal ambientação até é bem feita, com o modelo ideal de beleza natural sendo personificado por Elle Fanning, sem qualquer experiência prévia neste universo. A primeira metade até rende algumas boas sequências, contrapondo a ingenuidade de Jesse (Fanning) com o mundo hostil da moda. Tudo com cenas hiper estilizadas, seja através dos cenários ou da própria iluminação.
Só que, aos poucos, o diretor demonstra cada vez menos interesse na história e mais em construir belos cenários, tornando-o tão vazio quanto o universo que critica. As falas em tom pausado, com longos hiatos entre elas, dão o tom da forma acima do conteúdo, ao menos o narrativo.
Vale lembrar que este não foi o primeiro filme vaiado na mostra competitiva do Festival de Cannes deste ano. O mesmo já havia acontecido com Personal Shopper, na segunda passada. The Neon Demon tem lançamento nos cinemas brasileiros agendado para 18 de agosto.