Palavras de Paul McCartney: "Acho que alguém só pode se considerar educado musicalmente depois de ouvir Pet Sounds".
Nesta segunda-feira, 16 de maio, o clássico álbum Pet Sounds, laureada obra-magna da banda The Beach Boys, completa 50 anos de lançamento.
A história do disco que sacudiu as estruturas do pop e foi eleito pela revista Rolling Stone o segundo melhor álbum de todos os tempos remonta à meados da metade dos anos 60, década de importantes revoluções musicais e da arte como um todo.
Cansado do passado de surf rock de sua banda, com canções pueris sobre praias, garotas e carros, o cantor, compositor e multi-instrumentista Brian Wilson abandonou os palcos em 1964 para focar na composição de um disco artisticamente impecável e coeso do início ao fim.
Sua principal inspiração conceitual foi o álbum Rubber Soul, dos Beatles. Wilson não é um músico qualquer. O que o diferenciava dos primeiros rockstars eram suas habilidades por trás de uma mesa de mixagem, o que lhe rendia a capacidade de produzir discos com técnicas audaciosas que deixavam Phill Spector no chinelo.
Quando os outros beach boys — Dennis e Carl Wilson, irmãos de Brian; Mike Love, primo do trio; e Al Jardine, um amigo de infância — voltaram de uma extensa turnê para conferir que o Brian estava preparando, o compositor já tinha um disco praticamente pronto.
O resultado de meses de trabalho árduo de Wilson foi um disco com letras com temas mais maduros do que o habitual para os Beach Boys (que refletiam as angústias e a introspecção de um homem de psiquê abalada que talhava sua obra-prima), arranjos de refino estético sem precedentes e algumas das melhores canções que o pop americano já produziu. Ao todo, quase 70 músicos, de formação popular e clássica, participaram do disco, que funde sons de múltiplos instrumentos tradicionais com buzinas de bicicletas, latidos e o tilintar de garrafas de Coca-Cola.
Os bastidores do disco e os dramas de Brian são apresentados nos cinemas com perfeição no filme Love & Mercy, lançado no Brasil com o título The Beach Boys - Uma História de Sucesso. Na trama, Paul Dano e John Cusack interpretam Wilson com muita competência sob a direção de Bill Pohlad.
Entretanto, essa não é a única conexão possível entre o universo sonoro dos Beach Boys e o cinema. Diversas faixas do catálogo da banda californiana já foram usadas para embalar cenas de filmes e séries de formas mais ou menos memoráveis. De acordo com o site IMDb, apenas Brian Wilson já foi creditado mais de 300 vezes como compositor de canções usadas em produções para cinema e TV.
Para celebrar o aniversário do disco Pet Sounds, selecionamos cinco grandes momentos em que canções do antológico disco são usadas em filmes.
Música: "Wouldn't It Be Nice"
Filme: Como Se Fosse a Primeira Vez
A açucarada comédia romântica conta com a mais hiperglicêmica faixa de Pet Sounds em sua trilha-sonora. O pop barroco de "Wouldn't It Be Nice" traz uma letra sobre um romance inocente em que o único desejo do eu-lírico é poder passar mais tempo junto com sua amada.
A canção solar e alegre tem uma importância central em Como Se Fosse a Primeira Vez, já que a personagem de Drew Barrymore sofre de perda de memória a curto prazo e está sempre se esquecendo do personagem de Adam Sandler, que é apaixonado por ela. No filme, Sandler se dá conta que, lá no fundo, ela lembra do romance que há entre os dois porque a jovem vive cantarolando a música dos Beach Boys, que ela conheceu através dele.
Música: "Sloop John B"
Filme: Forrest Gump - O Contador de Histórias
Rico em referências a cultura pop e a grandes eventos da História dos Estados Unidos no século XX, a venerada comédia dramática Forrest Gump - O Contador de Histórias tem em sua trilha-sonora de primeira uma de suas marcas registradas.
Em determinado momento, o personagem de Tom Hanks se alista no exército e vai lutar na Guerra do Vietnã. Ao chegar no decadente acampamento militar e ser apresentado às paupérrimas instalações, Forrest se surpreende com uma fétida latrina. Enquanto isso, toca ambígua e quase psicodélica faixa de folk rock "Sloop John B". Quando Forrest e Bubba terminam de receber as instruções do Tenente Dan ressoam os versos "This is the worst trip, I’ve ever been on" (ou "Essa é pior viagem que eu já fiz", em português).
Música: "God Only Knows"
Filme: Simplesmente Amor
"God Only Knows" é a joia da coroa de Brian Wilson e do Pet Sounds. É uma canção de amor incomum (por começar com o verso "Eu posso não te amar pra sempre") e dotada de um tom solene. A faixa tem uma forte carga emotiva e por isso foi utilizada para embalar o final de Simplesmente Amor, um dos filmes de Natal mais lembrados dos últimos 15 anos.
A música é tocada integralmente no momento em que todas as histórias paralelas do filme se entrelaçam em um aeroporto. Enquanto o coro dos Beach Boys repete "God only knows what I'd be without you" ("Só Deus sabe o que seria de mim sem você", em português), as imagens destacam diversas formas de amor, do romântico ao fraterno.
Música: "God Only Knows"
Filme: Boogie Nights - Prazer Sem Limites
Simplesmente Amor não foi o primeiro filme a terminar ao som de "God Only Knows". No clímax de seu vibrante clássico sobre a indústria pornô, o celebrado Boogie Nights - Prazer Sem Limites, o diretor Paul Thomas Anderson usou a melancolia agridoce da faixa dos Beach Boys para mostrar os destinos dos personagens da trama em finais felizes e outros nem tanto. A cristalina voz de Carl Wilson acompanha tanto um parto quanto a agressão a um pedófilo.
Música: "Sloop John B"
Filme: O Lobo de Wall Street
De primeira, o tom cândido e puro de muitas canções dos Beach Boys não pareceria muito adequado para um filme sobre um personagem sórdido e degenerado como O Lobo de Wall Street. Por isso mesmo, o cineasta Martin Scorsese escolheu uma versão punk de "Sloop John B", tocada pela banda Me First And The Gimme Gimmes, para tocar durante os pervertidos arroubos de Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) em um voo.