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    Cine PE 2016: “Não faço filme para o meu umbigo”, diz Luiz Rosemberg Filho, expoente do cinema marginal

    Guerra do Paraguay é uma homenagem ao cinema “do passado”.

    Daniela Nader

    Quando o produtor carioca Cavi Borges convidou Luiz Rosemberg Filho para rodar um longa, deu carta branca para que o veterano cineasta, hoje aos 73 anos, escolhesse o tema. Ouviu como resposta: “Eu quero falar sobre a Guerra do Paraguai”. “, mas logo um filme de guerra?”, retrucou Cavi, preocupado com o possível orçamento do filme.

    Daniela Nader

    “As armas vão ser as palavras”, tranquilizou-o o diretor, considerado um expoente do cinema marginal (ou “de invenção”, como ele prefere). E, ao custo de R$ 750 mil, inteiramente rodado no sítio do pai de Cavi, o resultado é Guerra do Paraguay, terceiro longa-metragem a entrar para a disputa competitiva do Cine PE, exibido na noite dessa quarta-feira, 4 de maio, no Cinema São Luiz, em Recife.

    O projeto é antigo, fruto de um roteiro escrito há cerca de 15 anos pelo próprio Rosemberg, incomodado com a referência que ele tinha do conflito (em que a Tríplice Aliança, composta por Brasil, Argentina e Uruguai, praticamente dizimou a população masculina do Paraguai entre os anos 1864 e 1870), baseada em livros editados pela Biblioteca do Exército e, portanto, de avaliação parcial - segundo contou o realizador no encontro com a imprensa na manhã desta quinta-feira. O objetivo, de acordo com o cineasta, era “repensar essa postura de matar para se reafirmar”.

    Na tela, nada de tiro, porrada (quer dizer, mais ou menos) e bomba. O que o filme retrata é um embate filosófico, um colóquio entre um soldado vitorioso (Alexandre Dacosta) que acaba de retornar da guerra e uma atriz de teatro (Patricia Niedermeier) calejada da vida. Apesar de coabitarem o quadro, os dois parecem oriundos de épocas diferentes.

    Cinema “do passado”.

    Divulgação

    Uma espécie de homenagem ao cinema “do passado”, Guerra do Paraguay é dedicado a Tempo de Guerra (ou Os Carabineiros), longa de 1963 de Jean-Luc Godard, e a Dr. Fantástico (1964), comédia de Stanley Kubrick (sim, o filme é dedicado a dois outros filmes). Daí a estruturação em longos planos-sequência, fotografados em preto e branco e preenchidos por diálogos enormes, que bebem das fontes de Jean-Jacques Rousseau, Molière, Bertolt Brecht, entre outros dramaturgos e pensadores (sim, o resultado é assumidamente teatral).

    “Não se trata de um discurso imediatista, para agradar [ao público]”, diz o cineasta, que se considera anárquico. Por outro lado, rebate: “Não faço filme para o meu umbigo, faço para que as pessoas pensem”, argumento que ele procura defender com a homenagem ao filme de Kubrick, uma obra que “usa a comédia para fazer com que as pessoas tentem entender a guerra; para que as coisas possam ficar mais próximas do entendimento do público”.

    Curta "de época".

    Daniela Nader

    A terceira noite do festival foi aberta com uma homenagem ao crítico de cinema Christian Petterman, que faleceu em São Paulo, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, e se seguiu com a exibição de dois curtas-metragens.

    Pela competitiva nacional, foi exibido Das Águas que Passam, documentário de Diego Zon de uma beleza potente, filmado no norte do Espírito Santo em um lugar “suspenso no tempo, margeado por céu, terra, rio e mar”. “Infelizmente, um retrato do passado”, lamentou o realizador, uma vez que o local também foi afetado pelo rompimento da barragem da Samarco na região de Mariana (MG), em novembro de 2015. Selecionado para o último Festival de Berlim.

    Outro documentário, Soberanos do Congo, foi exibido pela competitiva local de curtas-metragens. Dirigido por Raoni Moreno, o filme é um registro das tradições do Maracatu “de raiz”.

    Divulgação

    Pernambucanas:

    > Cavi Borges vai codirigir um filme com a mulher, Patricia Niedermeier (atriz de Guerra do Paraguay), chamado Salto no Vazio.

    > Aliás, depois de anunciar a “aposentadoria” como produtor – para se dedicar mais à direção –, ele também vai... produzir um filme dirigido por Chico Diaz (que faz uma participação em Guerra do Paraguay). O longa será baseado no monólogo A Lua Vem da Ásia, protagonizado pelo ator no teatro.

    > Bem-humorado, Luiz Rosemberg Filho relembrou de uma conversa que teve com uma jornalista crítica do jornal O Globo (da qual ele diz não se lembrar o nome), que confessou a ele não saber em que posição colocar o “bonequinho” (a cotação do jornal se dá com o bonequinho sentado, aplaudindo, indo embora, e por aí vai), na época de Crônica de um Industrial (1978). “Põe ele 'de quatro'!”, sugeriu, na lata, o cineasta.

    *O AdoroCinema viajou a convite do Cine PE

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